Desde 2013, o projeto “Filhos de Maués” promove atividades de atendimento em várias especialidades de saúde, oferecendo serviços de higiene pessoal e atividades culturais para que a população, principalmente da zona rural do município, possa participar de ações de cuidados médicos e de bem-estar pessoal.
Conhecido como “Terra do Guaraná”, a cidade de Maués fica localizada a 267 quilômetros de Manaus em linha reta e 356 quilômetros pelo rio, com população estimada de 65.040 habitantes. É uma das maiores produtoras de guaraná do Brasil, além de ser considerada um dos destinos turísticos amazonenses com as maiores belezas naturais e culturais.
No entanto, ao analisar indicadores econômicos, o que interfere na logística e na ampla oferta de serviços médicos, culturais e esportivos, das 44.969 pessoas inscritas no Cadastro Único (CadÚnico) do Governo Federal, 92,55% estão na faixa da extrema pobreza. Os dados são da plataforma Consulta, Seleção e Extração de Informações do CadÚnico (Cecad), por meio de levantamento são Secretaria de Estado de Assistência Social (Seas).
Dos filhos a Maués
Para contornar estar dificuldades, o projeto social tem atuação em áreas diversas, com profissionais qualificados que atuam como voluntários nas áreas de Odontologia, Medicina, Oftalmologista, Pediatra, Estética, Massoterapia, Enfermagem, Farmácia, Serviço Social, apoio ao esporte, brincadeiras recreativas, entre outros.
O fundador e presidente do projeto social “Filhos de Maués”, Albert da Silva Trindade, foi agraciado com a Medalha do Mérito Legislativo Ruy Araújo, maior honraria da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), em 2022. Há nove anos, ele que é cirurgião-dentista desenvolve atividades sociais para melhorar a saúde da população, além de atuar na articulação para promover educação médica e a interiorização da saúde no Amazonas.
“Viajamos para a área rural e vemos muita gente acamada por não ter como se locomover. Fazemos entrega de cadeira de rodas, muletas. Isso vem de parcerias que fazemos, trabalhando muito para atender as comunidades distantes, áreas indígenas e bairros periféricos. Nossa equipe de trabalho cresce cada vez mais, amigos que participam sempre perguntam quando tem outra ação”, conta o idealizador.
A partir do crescimento do “Filhos de Maués”, Albert Trindade destaca que o sentimento de ver a iniciativa dando certo é de gratidão, tanto pelo reconhecimento, quanto pelo poder de convencimento cada vez maior, que faz com que o número de voluntários esteja sempre de acordo com as demandas do município.
“Somos mais de 60 profissionais, temos parcerias com amigos de Manaus, não conseguimos fazer nada sozinho. Na linha de frente, dos voluntários que ajudam de alguma forma, são mais de 250 pessoas. Todos são voluntários e corremos atrás de apoio para irmos à Maués, a despesa é muito alta. Não é fácil estar na frente de um projeto que incomoda muita gente. Procuramos dar suporte a quem não consegue vir para Manaus ou precisa de um medicamento, com vista também para solucionar as demandas. Maués precisa de um pediatra, ginecologista, neurologista, ortopedista”, conta o cirurgião-dentista.
Expansão da atuação
A partir da melhoria do cenário de assistência, com dez anos de atuação incansável do “Filhos de Maués”, o projeto tem planos de virar um instituto. “Estamos trabalhando em cima disso”, destaca Trindade. Com a possibilidade de realização de duas ações gerais por ano, muito por conta dos planos de adequação logística, o idealizador destaca que o número de beneficiados pode chegar a 300. “Passamos seis meses nos organizando para fazer uma ação”, diz.
O foco de atuação são as áreas mais carentes, isso dentre comunidades indígenas, áreas ribeirinhas ou mesmo a periferia do município. Albert Trindade conta que, das 280 comunidades elencadas a partir de levantamento do projeto, já conseguiram chegar a 200 deles. “Todos os polos, pelo menos, já foram atendidos”, conta. Apesar dos recentes avanços, ainda lida com reflexos de sequelas deixadas pela pandemia da Covid-19.
“Pós-pandemia lutamos muito na zona rural, levamos muita fisioterapia, hoje em dia a cidade tem um centro, mas a gente tem uma fisioterapeuta do projeto que sempre ajuda quem não tem condições para atender essas pessoas que ficaram com sequelas. Amigos meus ficaram acamados até hoje por conta de problemas de respiração, coração e eles têm dificuldades de vir a Manaus e ver um cardiologista, por exemplo”, reflete.
Próximos passos
A próxima ação do projeto “Filhos de Maués” está prevista para acontecer em novembro, nas proximidades da edição 42 da Festa do Guaraná, que em 2022 aconteceu de 1º a 3 de dezembro. A novidade para a iniciativa vai ser a presença de dois ortopedistas e uma médica pediatra, necessidades do município. Aproximadamente 30 profissionais devem ir à cidade para a última ação de 2023, cujo foco também é o controle da malária nas regiões ribeirinhas. Apesar do foco ser sempre a Terra do Guaraná, o idealizador pensa também em expandir e inspirar outros lugares.
“Estamos livres também para ajudar outros lugares e atingir municípios vizinhos também, como Barreirinha, Urucurituba, Itapiranga. A gente sempre estende a mão e com humildade, vamos para qualquer lugar. Já conseguimos muitos profissionais e outros filhos de maués, que estão se formando agora, também já querem participar da próxima ação. Que a gente sirva de exemplo para outras cidades usarem os próprios filhos para criarem projetos em prol da sociedade”, completa.