Manaus (AM)– Em alusão ao Dia dos Povos Indígenas, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) destaca os estudantes Indígenas dos Programas de Pós-Graduação em Gestão de Áreas Protegidas da Amazônia (MPGAP) e da Ecologia (PPGECO), que vem sendo protagonistas da sua própria história e representantes do seu povo na divulgação e troca de saberes tradicionais com a ciência, aliando o conhecimento étnico ao científico.
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A professora indígena, Sandra Gomes Castro, 54 anos, é do povo Baré em Santa Isabel do Rio Negro, localizada a 30 quilometros de Manaus. Com o trabalho ‘Turismo de Base comunitária em Terras Indígenas’, a mestranda diz que a motivação para ingressar no MPGAP é conhecer os processos teóricos e de como usá-los para manter os territórios dos povos indígenas. Apesar de algumas dificuldades, em relação ao deslocamento do município para a capital, Manaus, a professora aponta que a maior dificuldade são as discriminações que os estudantes indígenas sofrem nas universidades.
“Eu considero de maior importância para a vida no meio ambiente ter esse conhecimento científico, pois o prático, nós, povos indígenas, já temos e sabemos fazer, do nosso modo, para usarmos na preservação dos nossos territórios. Essa troca de conhecimentos só agrega mais valores em prol de uma natureza quase que perdida, e não é na nossa geração que vamos deixar ela ser mais destruída”, frisa a indígena.
A mestranda enfatiza que esta data serve para lembrar que os movimentos indígenas estão ganhando espaço com muita luta e muita persistência.
“Penso que o protagonismo dos povos indígenas está sendo alcançado numa base bem mais sólida, porém não podemos ficar descansados”, pontua.
Aos 54 anos, Sandra decidiu continuar seus estudos e relembra que hoje os indígenas têm alcançado espaço por conta da luta que tiveram no passado. “Eu deixo a minha palavra de incentivo, de lutar e mesmo com dificuldades não desistir, aproveitar o espaço das cotas que foi conquistado com muita luta. O que para eles hoje é um espaço para nós foi período de luta, sempre foi difícil, nunca foi fácil. Portanto, ocupar esses lugares sempre e nunca desistir”, comemora.
Joaquim da Silva Lopes, do povo Baniwa, da aldeia Canadá no Alto Rio Negro, também mestrando em Ecologia, diz que após sua graduação em Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável, pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), ficou três anos aguardando uma oportunidade de ingressar em algum mestrado e prosseguir na carreira. Em 2022, quando abriu a seleção de Ecologia no Inpa, o professor indígena viu a oportunidade de ingressar no mestrado.
Atualmente, o Baniwa é professor indígena pela Secretaria de Educação, dentro da Comunidade na Escola Estadual Nossa Senhora de Assunção e na Escola Baniwa Eeno Hiepole, na Aldeia Canadá. Joaquim incentiva todos os membros da comunidade indígena a cursarem o ensino superior e persistirem, pois a oportunidade chegará. “Vamos continuar avançando, protagonizando e inovando o conhecimento tradicional e os saberes locais”, comemora.
Rompendo as barreiras do Amazonas
Diogo Cinta Larga, mestrando em Ecologia no Inpa, é formado em Ciências Ambientais pelo Centro Universitário São Lucas. O indígena é professor no território de seu povo, o Cinta Larga, no estado de Rondônia.
Diogo diz que apesar de mais de 500 anos de resistência dos povos indígenas, ainda existe muito preconceito no âmbito acadêmico. “O indio não é burro, ele é igual a todo mundo. Eu tive dedicação para sair da minha aldeia, conquistar meus estudos e continuar” frisa o indígena.
Peiecu Kuikuro, conhecido como Yuri, é mestrando em Ecologia no Inpa e pertence ao povo Kuikuro, localizado no território indígena do Xingu, estado do Mato Grosso. Yuri é pioneiro entre seu povo a entrar em um programa de mestrado e destaca a importância dessa conquista para sua comunidade.
“Cuidar dessa biodiversidade não é só responsabilidade do indígena, mas de todos seres humanos que vivem nesse mundo. A comunidade indígena tem um papel fundamental na conservação do meio ambiente e é importante compartilhar seus conhecimentos e visões com outros povos”, celebra o mestrando.
A pesquisadora do Inpa Ana Carla Bruno desenvolve inúmeras pesquisas com povos indígenas, também é docente nos programas de pós-graduação do Instituto. Bruno relembra que no decorrer da história do Brasil houve, e ainda existe, uma política de estado que em muitos casos foi silenciando, invisibilizando os indígenas, como se eles não tivessem conhecimentos e não fossem capazes de categorizar, classificar, refletir e conceituar.
Ações Afirmativas
Ações afirmativas são políticas sociais de combate a discriminações étnicas, raciais, religiosas, de gênero ou de casta, para promover a participação de minorias no processo político, no acesso à educação, à saúde, ao emprego, aos bens materiais, entre outros.
É prevista pela Lei 12.711/2012, e uma prática corrente nos editais de seleção de mestrado de alguns Programas de Pós-Graduação do Inpa. Já se observa, ano após ano, um aumento relativo da representatividade de estudantes indígenas nos cursos de pós-graduação do Instituto.
*Com informações da assessoria