A médica investigada pela morte de Benício Xavier de Freitas, de 6 anos, após a aplicação de medicação em um hospital de Manaus, responderá as investigações em liberdade. A decisão da Justiça foi tomada por meio da concessão de um habeas corpus preventivo. Segundo o delegado Marcelo Martins, o caso é investigado como homicídio doloso qualificado.
A criança morreu após receber uma dosagem incorreta de adrenalina aplicada por via intravenosa, segundo denúncia feita pelos pais na terça-feira (25). O atendimento ocorreu entre sábado (23) e a madrugada de domingo (24).
A médica e uma técnica de enfermagem, que atenderam Benício, prestaram depoimento nesta sexta-feira (28) no 24º Distrito Integrado de Polícia (DIP).
Segundo o delegado Marcelo Martins do 24° DIP, o caso é apurado como homicídio doloso qualificado pela crueldade.
Testemunhas relataram que a médica teria demorado a prestar socorro à criança, o que, segundo a investigação, caracterizaria indiferença diante da gravidade da situação.
”A médica foi acionada pela técnica de enfermagem logo que a criança começou a passar mal, mas não demonstrou urgência em prestar socorro. Esse comportamento evidencia desprezo pela vida da vítima”, disse Martins.
A defesa da médica nega as acusações e afirma que ela teria agido imediatamente, solicitando inclusive um antídoto para tentar reverter o quadro. Médicos ouvidos no inquérito, porém, afirmaram que não existe medicação capaz de neutralizar uma overdose de adrenalina, restando apenas medidas de suporte clínico.
Documentos do hospital e depoimentos já coletados confirmam que a criança sofreu pelo menos seis paradas cardíacas antes de morrer. A médica e a técnica de enfermagem envolvidas foram afastadas das atividades.
O Conselho Regional de Medicina do Amazonas (Cremam) abriu, na quarta-feira (26), um procedimento para apurar a morte da criança.
O caso
Segundo o pai, Bruno Freitas, o menino foi levado ao hospital com tosse seca e suspeita de laringite. Ele contou que a médica prescreveu lavagem nasal, soro, xarope e três doses de adrenalina intravenosa, 3 ml a cada 30 minutos.
A família disse ao g1 que chegou a questionar a técnica de enfermagem ao ver a prescrição. De acordo com Bruno, logo após a primeira aplicação, Benício apresentou piora súbita.
“Meu filho nunca tinha tomado adrenalina pela veia, só por nebulização. Nós perguntamos, e a técnica disse que também nunca tinha aplicado por via intravenosa. Falou que estava na prescrição e que ela ia fazer”, relatou o pai.
Após a reação, a equipe levou a criança para a sala vermelha, onde o quadro se agravou. A oxigenação caiu para cerca de 75%, e uma segunda médica foi acionada para iniciar o monitoramento cardíaco. Pouco depois, foi solicitado um leito de UTI, e Benício foi transferido no início da noite de sábado.
Na UTI, segundo o pai, o quadro piorou. A equipe informou que seria necessária a intubação, realizada por volta das 23h. Durante o procedimento, o menino sofreu as primeiras paradas cardíacas.
O pai relatou que o sangramento ocorreu porque a criança vomitou durante a intubação. Após as primeiras paradas, o estado de Benício continuou instável, com oscilações rápidas na oxigenação. Minutos depois, Benício apresentou nova piora e não respondeu às manobras de reanimação. Ele morreu às 2h55 do domingo.
“Queremos justiça pelo Benício e que nenhuma outra família passe pelo que estamos vivendo. O que a gente quer é que isso nunca mais aconteça. Não desejamos essa dor para ninguém”, disse o pai.
Em nota, o Hospital Santa Júlia informou que uma médica e uma técnica de enfermagem foram afastadas de suas funções e realizou uma investigação interna pela Comissão de Óbito e Segurança do Paciente.
A Polícia Civil informou, em nota, que as investigações sobre a morte da criança estão em andamento para apurar as circunstâncias do caso.
O órgão acrescentou que, no momento, não pode divulgar mais detalhes para não prejudicar os trabalhos.
Fonte: G1.

