Manaus (AM) – Diversas mulheres indígenas se reuniram, junto de outros movimentos sociais, na ‘1ª Marcha das Mulheres Indígenas de Manaus e Entorno’, que ocorreu na tarde deste 8 de março, data em alusão ao Dia Internacional da Mulher. O encontro com caminhada no Centro da cidade, buscava reivindicar direitos, protagonismo e cobrar ocupação de espaços.
Com o tema ‘Mulheres Indígenas e o Direito à cidade: respeito aos Territórios!’, as participantes de diversas etnias do Amazonas se concentraram na Praça da Saudade, onde promoveu momentos de discurso e breves apresentações tradicionais.
Na ocasião foi lido por mulheres de diversos segmentos um ‘manifesto das mulheres pela democracia no Amazonas’ relembrando àquelas que ‘morreram na luta’ e também fazendo críticas aos ataques, violações e desmontes dos direitos das mulheres no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Defendemos ainda a integração de políticas públicas sociais de gênero, de raça, etnia e orientação sexual por intermédio de uma atuação transversal no enfrentamento efetivo às violências práticas nas esferas familiar, social, organizacional e política. Se faz urgente que os governos federal, estadual e municipal implementem uma política de Estado, que efetivamente garanta serviços públicos integrados, por intermédio de redes protetivas, que intervenham nas causas culturais e nas sequelas e fatores sociais, que têm mantido nossas mulheres em situação de violência familiar, social e política, culminando com o feminicídio que elimina, assustadoramente, todos os dias, o direito humano à vida das mulheres”,
diz trecho do manifesto
Após o primeiro ato, as mulheres realizaram uma marcha que terminou na Praça do Largo de São Sebastião, onde se deu continuidade e encerramento posteriormente.
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Combate à violência
Em conversa com o Vanguarda do Norte, segundo a coordenadora da Makira E´ta – rede de mulheres indígenas do Amazonas – Socorro Baniwa, que participava do ato, a união de todas as organizações, tanto indígenas e não-indígenas, naquele encontro levantava a questão do corpo e território enquanto indígena, além da violência e dos direitos coletivos das mulheres
“Dentro dos territórios quando se trata de violência que, ao exemplo de denúncia que em horas uma mulher sofre agressão, para que seja denunciado a gente não consegue ser atendida do modo que nós precisamos enquanto mulheres indígenas, até muitas vezes pelas mulheres que não conseguem se expor ou falar em português”,
comenta Socorro Baniwa,
A coordenadora do Makira E´ta também alerta sobre as violências sofridas pelas crianças que ocorrem tanto no contexto urbano quando em comunidades ou aldeias, que são consideradas ao serem debatidos, assim como outras temáticas, como leis, que excluem as mulheres indígenas.
“São temáticas que ainda existe um tabu de se levantar, e falar isso para as nossas mulheres, reivindicar isso para que as leis também sejam adequadas a nossa realidade, o qual não é. A Lei Maria da Penha existe, mas para esta lei ter um significado ela precisa conseguir atingir dentro das nossas comunidades, porque temos leis dentro dos nossos territórios, das nossas comunidades que acabam sendo uma influência negativa, que não pune os homens que violentam as suas mulheres”,
Explica Socorro Baniwa
Sem representatividade política
Questionada sobre o ingresso de mulheres indígenas na política amazonense, Socorro Baniwa diz que, apesar de terem sido eleitas mulheres no campo político, ela não se sente representada.
“Podemos dizer que hoje, a maioria das mulheres (indígenas) não se sentem representadas nesse campo político. Por mais que tenhamos conseguido eleger duas deputadas federais, como Sonia Guajajara e Célia Xakriabá, aqui dentro do Amazonas, nós não temos essa referência enquanto questão política que nos represente, que realmente olhe para as nossas pautas do estado”,
reflete a coordenadora da Makira E´ta.
Atualmente os povos indígenas possuem apenas uma representante no congresso, sendo Célia Xakriabá a primeira deputada federal indígena eleita por Minas Gerais, mas segundo Socorro Baniwa, é preciso mais indígenas eleitos na política, principalmente no Amazonas.
“Eu digo que ela (Célia Xakriabá) está na cova dos leões porque é uma só e precisa de apoio de outros para que ela possa ajudar realmente na pauta que nos tange, a questão indígena. Então, só ela é muito, muito pouco. E a meta daqui para a próxima eleição é conseguirmos eleger mais”, conclui.
diz Socorro Baniwa
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