Os rios atingiram o nível mais crítico de mês pela segunda vez em setembro, na Amazônia. Um mapa desta quarta-feira (25) mostra o impacto de secas, degradações e aumento das queimadas no risco hidrológico.
O Rio Negro, no Amazonas, está a menos de dois metros de sua seca histórica. Na manhã de quarta-feira (25), segundo a medição realizada pelo Porto de Manaus, o nível do rio marcava 14,11, a menos de um metro e meio da menor marca já registrada, de 12,70, em outubro de 2023.
Um material comparativo produzido pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), mostra a situação hidrológica no Brasil.
Nos mapas, os círculos em laranja e vermelho mostram como em apenas uma quinzena, piorou a situação de estresse hídrico dos mananciais. Ou seja, houve uma rápida redução nos volumes dos rios e reservatórios.
Na primeira imagem é possível ver a região Amazônica em níveis entre -1 e -3, na escala de redução e aumento dos níveis.
Na segunda imagem, registrada nessa quarta-feira, o reservatório de Jirau apresentou maior redução, avançando para o nível -2 da escala. O impacto é observado em outros locais na América do Sul.
O reservatório de Arapa, no Peru, avançou para o menor nível que o satélite consegue registrar, representando a queda no volume das águas como um fenômeno comum entre o Brasil e os países vizinhos.
Impacto da seca
Segundo o meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório Lapis, o fenômeno da seca-relâmpago mudaram drasticamente a situação dos rios na região Amazônica. A mudança climática que intensifica os impactos cumulativos de seca e aumentam o risco hidrológico. Hoje, o sinal está amarelo, começando a se aproximar do laranja.
“Os níveis atuais dos reservatórios continuam razoáveis, mas a mudança abrupta nos últimos três meses despertou atenção”, afirma o meteorologista
Para Humberto, o alto risco hidrológico do Brasil ainda se concentra na região da Amazônia. Na visão dele, uma forte relação entre secas, degradação e aumento das queimadas são a premissa do problema na região.
“Temos chamado atenção para o aumento na intensidade da seca, que potencializa as queimadas provocadas pela ação humana, nos biomas brasileiros. Rios da bacia amazônica registram níveis mínimos históricos para esse período”, completa.
A segurança do sistema hídrico é um fator que depende dos níveis dos reservatórios. O próximo período chuvoso, entre novembro e abril, serão determinantes para o setor de energia no país. A crise hídrica que o Brasil enfrenta atualmente não deve apresentar melhoras significativas até o final do próximo ano, segundo o analista de Clima e Meio Ambiente, Pedro Côrtes.
“Eu não acredito que a crise melhore para o final do próximo ano. Pelo menos isso deve persistir, ainda principalmente com a entrada do evento La Niña, que deve ocorrer agora no final de outubro”, afirmou Côrtes.
A possibilidade de implementação do horário de verão continua em análise pelo governo, que considera diversos fatores, incluindo o impacto na demanda de energia e as projeções para a situação hídrica nos próximos meses. A decisão final dependerá da evolução do cenário energético e climático do país.