Manaus (AM) – O Dia Internacional da Mulher, comemorado no dia 8 deste mês, é conhecido como um marco na luta das mulheres para que houvesse mais igualdade social. O Vanguarda do Norte encerra, nesta quarta-feira (29), a série de entrevistas com figuras femininas de destaque no Amazonas.
A data foi declarada em vários países para celebrar a igualdade, os direitos e liberdades das mulheres. Quando falamos de igualdade, nos referimos à equivalência entre mulheres e homens que devem ter os mesmos direitos e responsabilidades.
Falar da condição da mulher significa perguntar-se sobre o seu papel no mundo atual, avaliar as desigualdades nas condições de vida e oportunidades oferecidas a ambos os sexos. Apesar das conquistas sociais e materiais das últimas décadas, ainda existem fortes desigualdades entre os gêneros: isso é muito evidente acima de tudo em países menos desenvolvidos, onde as mulheres são geralmente menos instruídas do que os homens e economicamente mais fracas, e têm menos acesso a necessidades básicas, como alimentação e cuidado médico.
Casamentos precoces e noivas ainda crianças são práticas difundidas em muitos países, especialmente no sul da Ásia e na África Subsaariana. Em países islâmicos, uma mentalidade conservadora e discriminatória prevalece.
Nos países considerados democráticos, os direitos das mulheres são legalmente reconhecidos. As mulheres estão inseridas em todos os meios de vida social, econômica e política e podem determinar seu papel de maneira autônoma.
No entanto, especialmente na área do trabalho, ainda há vários obstáculos a serem
superados. Poucas mulheres estão empregadas em posições de liderança em
empresas e partidos políticos, e muitas lutam para conciliar a vida doméstica com a profissional. Em geral, as mulheres ganham quase metade do que os homens, mesmo quando fazem o mesmo trabalho.
A violência contra a mulher tem raízes históricas e culturais, evidenciando a opressão do homem. Ainda hoje cerca de um terço de todas as mulheres do mundo é vítima de violência, física ou sexual, dentro da família ou fora dela.
A maioria dos atos de violência ocorre entre paredes domésticas, especialmente por
parte do parceiro. A violência às vezes leva ao feminicídio, ou seja, ao assassinato de
uma mulher ou menina por um homem.
A boa notícia é que evoluímos nas últimas décadas. Vimos progresso da sociedade e instituições no combate à violência de gênero, mas ainda temos um longo caminho pela frente.
Joana Darc
Reeleita no último pleito com 87.182 votos, sendo a mulher mais votada na história do Amazonas, a deputada estadual Joana Darc (União Brasil) está em seu segundo mandato representando a causa animal e a população amazonense como um todo. Mais conhecida como protetora dos animais, a parlamentar também tem sua trajetória
marcada pela causa das mulheres, das crianças e dos adolescentes,das Pessoas com Deficiência e dos Idosos. Como mulher no setor político, a parlamentar considera o machismo estrutural o maior desafio de qualquer mulher que queira ser voz em algum
parlamento.
“Porque você está pisando em um lugar que por séculos foi dominado por homens. Ano passado me tornei a deputada mulher mais votada do Amazonas, a primeira mais votada na capital. Isso me deu mais forças para continuar lutando pelas mulheres na Assembleia legislativa do Estado”, explicou.
Em fevereiro de 2019, a deputada foi escolhida pelo atual governador Wilson Lima para assumir a vice-liderança do Governo na Aleam, sendo a primeira mulher a assumir o papel na história da casa legislativa. Já no dia 30 de maio de 2019, Joana Darc foi escolhida por Wilson para ser a líder do governo na Assembleia.
“Falta à sociedade entender que lugar de mulher é onde ela quiser. Como disse, vivemos numa sociedade construída no machismo, que está nas raízes não só do Amazonas, mas também de todo Brasil. Então, devemos quebrar essas barreiras, derrubar esse patriarcado para alcançarmos mais vozes femininas na política. Somente assim teremos mais prefeitas, mais deputadas estaduais e federais, mais governadoras, mais senadoras e mais uma presidenta também”, comentou ao falar
sobre tantas conquistas.
Débora Mafra
Nascida na cidade de Osasco, em São Paulo, Débora Cristina Pereira Mafra, ou simplesmente, delegada Débora Mafra, compõe a lista de mulheres influentes do Amazonas. Por meio da Delegacia Especializada em Crimes contra a mulher(DECM), da qual é titular, a delegada já ajudou a transformar a vida de diversas amazonenses.
“Eu sou a delegada de polícia mais conhecida como delegada da mulher. Sou mãe,
esposa, avó e também amo cozinhar e também sou cristã. Quando me perguntam quem é Débora Mafra, eu digo que sou uma mulher bastante alegre, otimista e sempre confiante muito em Deus”, contou ela.
A carreira da delegada em defesa da mulher começou quando ela aceitou um convite para comandar o anexo da Delegacia da Mulher no bairro Cidade de Deus, quando começou a se aprofundar nas causas femininas e nas histórias de agressões contadas por vítimas.
”Sobre a minha carreira, no início não foi uma escolha minha […] na verdade eu fui convidada para assumir a Delegacia de Proteção à Mulher do bairro Cidade de Deus e me envolvi muito com os casos, relatos das mulheres agredidas e de quem também não sobreviveu para contar a sua própria história”, contou Débora.
Bastante atuante na causa de mulheres, Débora Mafra afirma que sempre que pode vai a escolas para palestrar, onde fala sobre a importância do combate à violência e o que pode se caracterizar um ato violento.
“As ações da nossa delegacia em combate à violência contra as mulheres, visam ao atendimento de todas as vítimas, orientando-as sobre sempre denunciar se perceber que foi vítima de algum tipo de agressão […]tanto verbal, física ou sexual, e também deixar muito claro que isso nunca deve ser inerente ao casamento”, disse a delegada.
Shádia Fraxe
Shádia Fraxe é a primeira mulher a ocupar o cargo de Secretária Municipal de Saúde
de Manaus (Semsa), tornando-se uma das figuras femininas mais representativas da cidade.
Mãe de Náhida, Dânia e Nayla, a secretária é filha de imigrantes Sírio/Libanês e veio de uma família de cinco irmãos. Especialista em Saúde de Família e Comunidade, com atuação na rede primária de atenção à saúde da Prefeitura de Manaus e na rede hospitalar do Estado, Shádia foi gestora, por mais de 10 anos, do Instituto Médico de Clínica e Pediatria do Estado do Amazonas.
Nomeação em meio à pandemia
A médica e também economista assumiu o cargo de secretária em janeiro de 2021, após ser nomeada pelo atual prefeito de Manaus, David Almeida.
“Mesmo sendo médica há 10 anos da Semsa me vi em meio à maior e mais complexa crise sanitária já vivida por qualquer outro momento da história. Os 15 primeiros dias culminara com a explosão da chamada ‘segunda onda’, que interferiu sobremaneira na vida de todas as pessoas, e muito mais na dos gestores públicos’’, disse em entrevista.
A médica e economista é conhecida por ser uma das principais entusiastas em promoção da saúde da mulher, usando da plataforma que a secretaria oferece para priorizar o atendimento das manauaras que procuram o sistema de saúde público da capital.
Um desses projetos foi a campanha “12 Rosas da Saúde’’, lançada no Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), em 2022, e que contou com a parceria com a Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM).
Como forma de manter a atenção entre os demais meses do ano e não só durante o Outubro Rosa, a campanha visou manter os cuidados com o sexo feminino durante os
doze meses do ano, ampliando as ofertas de exames.
Giuliany Perêa
Natural de Benjamin Constant, no interior do Amazonas, a lutadora de Mixed Martial Arts (MMA), Giuliany Perêa, tem levado o nome do Estado aos pódios mundiais. A amazonense afirma manter a “determinação como principal ferramenta para alcançar os sonhos”.
Com a perseverança para representar o Amazonas no exterior, a lutadora já venceu duas lutas, é vice-campeã Mundial MMA amador, campeã pan-americana e chegou à final do maior evento Mundial de MMA em Belgrado, na Sérvia.
“Saí do Amazonas em busca desse sonho e estou disposta a pagar o que for”, frisou Giuliany.
Com a garra da mulher amazonense, ela mantém a luta diária para continuar sendo uma inspiração para outras mulheres. “Quando eu entro no ringue, penso que quero representar meu Amazonas e meu interior”.
A legislação desportiva do Brasil de 1941 deixava explícito no Decreto Lei nº 3.199, que no artigo nº 54 as mulheres não poderiam exercer o direito de praticar esportes “incompatíveis com a sua natureza”, e permaneceu assim até 1979.
Apesar de um universo majoritariamente masculino, e um preconceito enfrentado pelas lutadoras, as franquias de MMA no mundo vêm mostrando a força das mulheres ao colocá-las em evidência nas categorias femininas.
Giuliany acredita que, por uma grande parte dos eventos já terem a categoria feminina, ela vê o diferencial das mulheres no mundo das lutas.
“As lutas femininas são muito mais empolgantes do que as masculinas. Nós entramos com tudo, saímos na mão e isso acaba sendo bom para o público”, a lutadora afirma.
Por ser formada em farmácia, Giuliany se perguntou se o MMA realmente era para ela, mas ressalta que a também lutadora Ketlen Vieira ajudou muito no processo de incentivo na carreira.