Manaus (AM) – O Amazonas é vasto tanto em território quanto em cultura, línguas e expressões regionais, que tornam diferenciado a maneira do amazonense de se comunicar. As variações linguísticas amazonenses possuem influência em diversos povos que formaram a população atual do maior estado do Brasil e a tornou única.
O estado possui praticamente o próprio dialeto: o linguajar amazonense – o “amazonês” – e alguns podem até ser compreendidos por outros estados do Norte, como o Pará, no qual a linguagem se assemelha muitas vezes.
De acordo o professor Sergio Freire, doutor em linguística pela Unicamp, língua é história e o português oral amazonense vem de três lugares: o Português europeu, do Português dos Nordestinos e das várias línguas indígenas.
“Do Português europeu nos deu a estrutura da língua e som chiado do S, da influência do Português dos nordestinos que vieram para cá em grande leva em dois momentos (no ciclo da Borracha e durante a II Guerra na década de 40) e da influência das várias línguas indígenas”,
explica o professor.
“Essa mistura toda resultou na língua portuguesa amazonense, com suas expressões e palavras peculiares. Expressões como ‘ficar de bubuia‘, ‘só o cuí de magro‘, ‘kikão’ são exemplos dessa oralidade tão nossa. E a língua está em movimentos. Algumas expressões vão sumir e outras vão surgir. Esse é o movimento natural da língua”, completa.
Influência
Apesar de Manaus possuir mais influência com as gírias, no Amazonas as mais conhecidas por outras regiões, como o ‘mana‘ ou ‘mano‘ bastante utilizado, existem municípios que nem se quer chegam a usar esses termos e da mesma forma existem expressões do interior que sequer são usadas na capital.
De acordo com o artigo denominado ‘Atlas Linguístico do Amazonas’, escrito por Maria Luiza Cruz Cardoso, linguista da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), foi percebido que existe uma dualidade no modo de falar da população amazonense.
“Os rios Negro e Solimões dividem o estado não apenas em termos geográficos, mas também culturais. Na parte sul, as pessoas falam sibilando e com “s extensivo” justamente pela influência nordestina – herança do ciclo da borracha. Já a parte norte é marcada pelo “s chiado” – marco da contribuição portuguesa na região”, diz.
Por exemplo, expressões linguísticas como “Cuéra” – para inferiorizar alguém ou algo – é utilizada em São Gabriel da Cachoeira, município do interior do Amazonas e mais indígena do Brasil, mas dificilmente os moradores de Manaus entenderiam tal expressão no cotidiano.
O Vanguarda do Norte separou algumas expressões utilizadas pela população amazonense no cotidiano:
Telesé – é o mesmo que ‘tu é leso, é? ‘ e é uma gíria muito utilizada pelos manauaras para representar admiração ou espanto diante de alguma coisa
De bubuia – Quando se está descansando, sem fazer nada.
Brocado – Quando a pessoa está com bastante fome.
Abestado – Utilizado para chamar alguém de bobo, imbecil.
Até o tucupi – Significa atingir o nível máximo de algo.
Kikão – Maneira de falar “cachorro-quente”, em Manaus. Expressão surgiu após o sucesso de um lanche cujo proprietário se chamava Kiko, e vendia cachorro-quentes com este nome.
Carapanã – Origem da língua indígena e nome dado ao mosquito/pernilongo que suga sangue.
Leso – Denominação dada a alguém que faz alguma besteira.
Aperrear – Quando um amazonense chateia outro.
Capar o gato – Significa ir embora.
Grelhar –Grelhar é o mesmo que fazer muito sucesso, se dar bem em algo
Leseira baré – Quando o amazonense faz uma besteira, que também pode significar lerdeza.
Requenguelo – Direcionado para quem está mal vestido, decadente e entre outros.
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