Manaus (AM) – A capital do Amazonas iniciou a semana com um decreto de calamidade pública, após oito pessoas, entre elas quatro crianças, que moravam em uma área de risco, morrerem em um deslizamento de barranco, durante a forte chuva ocorrida na noite deste domingo (12).
A ‘escolha’ de residir em área de risco é uma realidade social que existe há anos na história da urbanização de Manaus e que surge junto com o crescimento populacional acelerado sem planejamento.
De acordo com Cristiano Lira, coordenador da Central de Emergência 199 da Defesa Civil Municipal, a capital possui pouco mais de 40 mil famílias morando em áreas de risco de deslizamento, desabamento ou alagações.
Atualmente, Manaus possui mapeadas, pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM), 1.600 áreas de risco como deslizamento, desabamento e alagações.
“As que requerem mais atenção são 62, que estão distribuídas na Zonas Norte, Leste e Oeste da cidade de Manaus são as principais. Bairros como o Cidade de Deus, Jorge Teixeira, Comunidade João Paulo, Santa Inês, Grande Vitória, Gilberto Mestrinho, Mauazinho, Colônia Antônio Aleixo, boa parte do bairro Puraquequara e Comunidade Bela Vista, são pontos importantes que requerem nossa atenção”,
explica Cristiano Lira.
Conforme explica o coordenador, entre os locais de risco, estão a área de alagação, inclusive, durante o período de cheia do Rio Negro. Bairros da Zona Sul e Oeste como o Educandos, parte do São Raimundo, do Glória, Aparecida, São Jorge e Presidente Vargas são bairros afetados que sofrem também essa intervenção.
Segundo o prefeito de Manaus, David Almeida, das 62 áreas de risco, o órgão vai atuar emergencialmente em seis. E caso ganhe recursos com o Governo Federal serão ao menos 25 áreas atendidas emergencialmente.
Ainda segundo a gestão municipal, o local onde ocorreu o deslizamento é uma ocupação que existe há cerca de cinco anos e é classificado como área de risco pela Defesa Civil.
Ameaça de desmoronamento
O Vanguarda do Norte esteve em uma área de risco situada na rua Frei, da comunidade Monte Cristo, bairro Monte das Oliveiras, na Zona Norte da capital, e conversou com moradores que pedem socorro.
A moradora da região e condutora escolar, Letícia Nascimento relata que a falta de moradia acaba colocando as pessoas a residirem nessas áreas de risco, e apesar de muitas casas serem construídas pelos programas governamentais em outros locais, elas acabam não sendo entregues para quem realmente precisa, que se encontram na situação de vulnerabilidade.
Aumento no número de ocorrência
Conforme Cristiano Lira, neste ano de 2023 já foram registradas mais de 860 ocorrências. O número mostra um aumento em comparação aos anos de 2021 e 2022.
“No mesmo período do ano passado, a gente tinha o número um pouco maior de 600. Então nós temos um registro de mais de 200 ocorrências a mais que o mesmo período ano passado”,
comenta o coordenador da Central de Emergência 199.
Para Lira, o aumento das ocorrências mostra uma preocupação maior da população em acionar a Defesa Civil para informar sobre as situações de risco que elas estão passando.
Capital com mais alerta de deslizamento desde 2016
Em um levantamento, divulgado em fevereiro deste ano, feito pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), Manaus liderava o ranking entre as capitais do país com maior possibilidade de deslizamentos.
Veiculado no jornal O Globo, o estudo também pontuou que Manaus é a cidade que mais recebeu alerta de deslizamento de terra desde o ano de 2016.
Devido ao crescimento populacional em áreas sem planejamento estratégico, muitas moradias são construídas em áreas de risco, em solo que facilmente são degradados pelo aumento do nível de chuva que assola a região nesses primeiros meses do ano; as lixeiras viciadas também são um fator que dificulta ainda mais a resistência dessa terra.
Tragédia
Segundo a Prefeitura de Manaus, durante as fortes chuvas de domingo (12) foram registradas 110 ocorrências, na qual 71 foram atendidas.
Entre as ocorrências está a que ocorreu uma comunidade do bairro Jorge Teixeira, na Zona Leste, onde um deslizamento de terra matou 8 pessoas, sendo 4 adultos e 4 crianças, de 9 casas atingidas.
Três pessoas e um cachorro foram resgatados com vida. Entre as vítimas fatais da tragédia estão pessoas de nacionalidade venezuelana e também integrantes da mesma família.
Vítimas
Pai e filho: Clebson Nunes Barbosa, de 34 anos, e Kaleb Mendes Nunes, de 7 anos.
Mãe e filha: Jucicleia Barbosa da Silva, de 31 anos, e Eloísa de Lima Referino, de 7 anos.
Mãe e filho: Rosmig Yelena Salazar, de 43 anos e nacionalidade venezuelana, e Dainelson Rosniel Alvorada, 5 anos.
Pai e filho: Ilan Yoan Franco Colared, de 35 anos e sobrinho de Rosmig, e Israel Jonniel Franco, de 7 anos.
Sobreviventes abrigados em escola
As 81 famílias afetadas pelo deslizamento de terra foram abrigadas na Escola Municipal Helena Augusta Walcoyy, localizada na avenida Itaúba, no bairro Jorge Teixeira, Zona Leste de Manaus.
O prefeito David Almeida esteve na escola durante a noite dessa segunda-feira (13) e em conversa com o Vanguarda do Norte, disse que pediu celeridade na tramitação da documentação para realizar o pagamento do auxílio aluguel e que nesta terça-feira (14) vai a Brasília em busca de recursos para a construção de moradias para abrigar as vítimas.
“Nós retiramos todas as famílias que estavam lá. A maioria delas estão abrigadas aqui (escola), outras foram para casas de parentes. Eu pedi celeridade na tramitação na documentação para poder pagar o auxílio aluguel o mais rápido possível. Amanhã estou indo até Brasília na esperança de receber recurso para a construção de moradia para abrigar pessoas como essas que foram vitimizadas. Estou muito otimista, assinei o decreto de emergência que pode possibilitar agilizar a liberação de recursos”,
disse.
As pessoas que desejam fazer doações para as vítimas da tragédia, podem entrar em contato com o número (92) 99130-2025, do chefe de divisão da Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania (Semasc), que estará recepcionando todas as doações no colégio.
Os materiais doados ficarão alojados na escola e serão disponibilizados às vítimas.
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