A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que será realizada em Nova York entre os dias 23 e 29 de setembro, contará com reuniões paralelas que refletem a complexidade do contexto geopolítico atual.
O evento, que marcará os 80 anos da ONU, abordará temas prioritários para a comunidade internacional, como os conflitos em Gaza e na Ucrânia, a defesa da democracia e o meio ambiente.
A Assembleia também acontece em meio à escalada de tensões entre Brasil e Estados Unidos, desencadeada pelo tarifaço de Donald Trump e o anúncio de sanções políticas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e outras autoridades brasileiras.
Fontes do governo brasileiro afirmam que o cenário é de difícil interlocução, com a ausência de canais consolidados na diplomacia americana e um clima hostil para buscar diálogos sobre temas bilaterais.
Apesar disso, a expectativa é de que o Brasil utilize os holofotes da reunião, aproveitando a tradição do presidente brasileiro de abrir os discursos na Assembleia, para reforçar compromissos multilaterais, seu protagonismo em pautas climáticas às vésperas da COP30 em Belém, e a defesa da democracia.
O posicionamento brasileiro não deve ser destacado apenas na abertura dos debates, mas também em encontros bilaterais e na liderança para organização de cúpulas sobre meio ambiente e combate ao extremismo.
Diante de um ambiente de intensas disputas políticas e da reconfiguração do papel dos Estados Unidos no mundo, a Assembleia deste ano deve ser um termômetro sobre as correlações de força no cenário internacional.
Reconhecimento da Palestina
Uma das reuniões mais aguardadas é a conferência para discutir o reconhecimento do Estado da Palestina.
A França afirmou que fará o reconhecimento do estado palestino durante a Assembleia Geral. O anúncio do presidente francês Emmanuel Macron aconteceu poucos dias antes da realização da cúpula sobre a solução de dois Estados, realizada nos dias 28 e 29 de julho em Nova York, e impulsionou a discussão durante o encontro.
Na ocasião, o Reino Unido anunciou que faria o reconhecimento e outros países repetiram a promessa em seguida, como Austrália, Canadá, Espanha e Portugal.
Segundo interlocutores, a decisão final sobre formato, data e presidência da reunião ainda não foi tomada, mas uma possibilidade é que ocorra entre 21 e 22 de setembro, antes do início oficial dos discursos na Assembleia.
Reunião sobre democracia
Outra reunião prevista é a segunda edição da reunião “Em defesa da democracia. Combatendo o extremismo”, que visa articular ações em defesa da democracia diante do avanço do extremismo e do discurso de ódio no mundo. Assim como na primeira edição, o encontro é organizado por Chile, Brasil e Espanha.
Apesar de o encontro ser promovido por países governados por políticos de esquerda, interlocutores afirmam que os organizadores estão articulando a participação de líderes de diferentes regiões, incluindo também países asiáticos e africanos, em uma tentativa de evitar que a pauta seja percebida como restrita a determinados blocos ideológicos.
Fontes afirmam que a ideia é reunir países “like-minded”, com visões alinhadas, sobre a defesa da democracia. A França seria um exemplo de possível participante com um presidente de centro, Emmanuel Macron. A expectativa é de que cerca de 30 estejam presentes.
Meio ambiente
O meio ambiente também está entre os temas centrais das cúpulas à margem da reunião geral.
Estão previstas duas frentes. Uma delas é a Cúpula do Clima, que acontecerá no dia 24 e é organizada pelo secretário-geral da ONU, com apoio do presidente Lula, que está na presidência rotativa da COP.
Será uma reunião de alto nível em que os líderes vão apresentar Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), com o objetivo de estimular países a apresentar metas climáticas mais ambiciosas, antes da COP30. As NDCs são compromissos assumidos por cada país para reduzir as emissões de poluentes e se adaptar aos impactos das mudanças climáticas
“Às vésperas da COP30 no Brasil, a Cúpula se concentrará em demonstrar comprometimento e acelerar ações para proteger as pessoas e o planeta, em consonância com os objetivos do Acordo de Paris”, diz o site da ONU.
A segunda frente será a iniciativa “Tropical Forests Forever”, em tradução “Florestas Tropicais para Sempre”, que seria uma proposta para criar um fundo de preservação sustentável das florestas tropicais, articulada por Brasil e outros países detentores desses biomas. Nesse caso, seria uma reunião em nível ministerial.