Hoje (7) é comemorado no país o Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência nas Escolas. O tema foi pautado pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), onde apresentou dados que comprovam a continuidade da prática do bullying. Esse tipo de violência, ainda comum nas escolas, segundo o órgão, gera consequências arrasadoras no desempenho escolar dos alunos, além de graves consequências negativas para a saúde física e mental das crianças.
A pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2021, mostrou que 23% dos estudantes afirmaram já terem sido vítimas de bullying, ou seja, sentiram-se humilhados por provocações feitas por colegas.
Para combater esse tipo de ofensa no país, o governo brasileiro instituiu em 2015 o Programa de Combate à Intimidação Sistemática.
“A lei objetiva prevenir e combater a prática do bullying no Brasil. Prevendo o preparo da comunidade escolar para o desenvolvimento de ações preventivas, bem como a identificação e a administração das situações de bullying que ainda ocorrerem”, disse Zeyne Alves Pires Scherer, professora associada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
De acordo com a norma, “é dever do estabelecimento de ensino, dos clubes e das agremiações recreativas assegurar medidas de conscientização, prevenção, diagnóstico e combate à violência e à intimidação sistemática”.
Apesar da mandamento não determinar punições ou cobranças voltadas aos estabelecimentos, que não tomam medidas de prevenção ao bullying, diversas organizações, educadores e instituições de ensino presentes no país, estão elaborando e aplicando estratégias para trabalhar esse grave problema. As estratégias são diversificadas, mas todas elas demonstram que para combater o bullying é necessário que as ações sejam realizadas de forma coletiva e intersetorial.
“É importante que toda a comunidade escolar esteja mobilizada em torno desse assunto. Qualquer estratégia de prevenção à violência nas escolas pede uma sensibilização, uma mobilização e participação de toda a comunidade escolar, não só dos envolvidos. E não é tão eficaz que as intervenções sejam separadas das dinâmicas gerais da escola”, disse Maria Fernanda Tourinho Peres, professora do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Laboratório Interdisciplinar de Estudos sobre Violência e Saúde (Lieves).
Boas experiências
A Agência Brasil buscou experiências públicas e privadas que têm se mostrado bem-sucedidas no combate a essa grave forma de violência e que têm demonstrado que o bullying pode ser prevenido, principalmente se as estratégias levarem em conta a coletividade e a participação compartilhada.
Uma dessas estratégias foi elaborada pela professora Zeyne Alves Pires Scherer, uma das criadoras de uma cartilha para ajudar profissionais a lidar com essa forma de violência nas escolas. O material foi elaborado a partir de discussões com pesquisadores do Grupo de Estudos Interdisciplinar sobre Violência (GREIVI) da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP; do Observatório Permanente Violência e Crime da Universidade Fernando Pessoa, de Portugal; e dos resultados de um projeto de extensão universitária da USP.
“Acredito que a cartilha, como um material educativo, pode contribuir não só como meio de divulgar conhecimento sobre as ações de intervenção e prevenção da violência bullying no meio escolar, mas também conscientizar, discutir e alertar a sociedade para esse fenômeno psicossocial”, disse ela.
Abrace
Fundada em 2012, a instituição Abrace – Programas Preventivos atua de forma privada com escolas, redes de ensino e demais instituições para oferecer a pais, professores e alunos as ferramentas necessárias para prevenir e combater o problema.
Aprendendo a Conviver
Na Universidade Federal do Paraná também foi desenvolvido um projeto bem-sucedido sobre o tema. O curso de aperfeiçoamento Aprendendo a Conviver oferece capacitação a professores para que reconheçam e adotem estratégias para o monitoramento e atendimento das múltiplas formas de violência, preconceito e discriminação no ambiente escolar, com foco no bullying.
Segundo Josafá da Cunha, professor na Universidade Federal do Paraná, o projeto vem sendo realizado há mais de cinco anos em escolas do estado.
“Começamos com o projeto Aprendendo a Conviver. Em seus primeiros passos, no projeto-piloto, ele era feito com dez escolas municipais da rede municipal de Curitiba. Depois tivemos apoio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) do Ministério da Educação e aí oferecemos para pouco mais de 100 escolas, por meio de formação continuada para professores, sobre estratégias para repensar e melhorar as relações no ambiente da escola. E também fizemos uma avaliação de como estava a situação de convivência no ambiente escolar”, explica.
Em 2018, o Aprendendo a Conviver passou a receber apoio da Fundação Templeton para o desenvolvimento do programa Dialogue, Ignore, Ganhe distância e Ache Ajuda (DIGA). O programa é uma adaptação brasileira do WITS, desenvolvido há mais de 20 anos no Canadá, e que hoje é adotado em escolas no Canadá e nos Estados Unidos. O programa tem uma perspectiva preventiva.
Apesar desses bons exemplos, Zeyne lembra que o combate ao bullying não é e não deveria ser uma tarefa exclusiva das escolas.
“Os governos têm a prerrogativa de criar políticas públicas emergenciais e permanentes que visem conter a propagação do fenômeno e encontrar soluções que reduzam sua incidência e minimizem seus efeitos”.
Zeyne