Cuiabá (MT) – A bula do medicamento Neo Cebetil, a solução injetável indicada para complemento das vitaminas B e C sob prescrição médica, não é indicada em caso de gravidez. O coquetel de vitaminas foi aplicado em uma grávida de 8 meses, que veio a óbito logo em seguida. O caso aconteceu no Bairro Tijucal, em Cuiabá.
Elaine Vasconcelos, de 32 anos, estava no 8º mês de gravidez. Segundo a família, ela apresentou sintomas iniciais de gripe e procurou a farmácia para “aumentar a imunidade”. No local, foi indicado o uso do complemento vitamínico – a gestante não tinha receita médica.
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- De acordo com a bula, “não há relatos de problemas específicos de acordo com a posologia recomendada” em caso de gravidez, amamentação e pediatria;
- Mas o documento reforça a necessidade de prescrição médica para o uso.
“Este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas sem orientação médica ou do cirurgião-dentista”, destaca a bula do Neo Cebetil, fabricado pela farmacêutica União Química.
A suspeita é de que Elaine tenha morrido após um choque anafilático pelo uso de medicações endovenosas. A confirmação será feita por exame. O bebê esperado por ela também morreu.
Na lista de contraindicações do Neo Cebetil, também estão, além da gravidez:
- pacientes com intolerância à frutose,
- hipersensibilidade (alergia) conhecida aos componentes da fórmula;
- envenenamento com álcool metílico,
- insuficiência hepática (fígado) aguda e crônica;
- nos casos de litíase oxálica e úrica (cálculos renais),
- insuficiência renal,
- doenças relacionadas à retenção de ferro (hemocromatose, talassemia, anemia sideroblástica e depranocítica),
- portadores da doença de Parkinson,
- pacientes com história de asma brônquica.
Ao g1, o dono da Farmácia Drogarias Econômica, Reinaldo Jorge, afirmou que a gestante começou a passar mal durante a ingestão do medicamento e a aplicação foi suspensa.
Aplicação de injetáveis em farmácias: pode ou não pode?
Sim. De acordo com a legislação brasileira, a aplicação de medicamentos injetáveis pode ser feita em farmácias. Porém, os estabelecimentos precisam estar licenciados de acordo com uma série de regras estabelecidas por conselhos de farmácia e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Uma resolução de 2008 do Conselho Federal de Farmácia (CFF) diz que:
- As aplicações só podem ser realizadas por farmacêutico ou profissional habilitado, com autorização expressa do farmacêutico diretor ou responsável técnico;
- A presença e/ou supervisão do farmacêutico é condição e requisito essencial para aplicação de medicamentos injetáveis;
- A administração deve ser feita mediante prescrição de profissional habilitado.
No caso de Cuiabá (MT), ainda não se sabe se a aplicação foi feita por farmacêutico, se havia a presença do profissional e se a farmácia estava habilitada para o serviço.
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O CFF afirmou ao g1 que o Conselho Regional de Farmácia (CRF) do Mato Grosso está apurando o caso e determinou diligências no estabelecimento.
“Mesmo com a apresentação de receita médica, o farmacêutico deve analisar a prescrição e todas as características do medicamento (como a contraindicação de aplicação em gestante). Além disso, o profissional precisa fazer uma anamnese, para que possa obter dados do paciente para embasar a decisão de realizar ou não a injeção”, disse o CFF em nota.
O Sindicato dos Profissionais Farmacêuticos de Mato Grosso (Sincofarma-MT) orienta o uso de qualquer injetável mediante receita médica. A aplicação pode ser feita por um técnico, desde que tenha diploma de curso de injetáveis, e sob a orientação de farmacêutico.
“Para aplicar esse tipo de injeção em uma grávida deveria ter uma receita, mas, por ser um coquetel de vitaminas, as pessoas aplicam sem receita. Essa é uma prática do brasileiro há muitos anos, que querem um efeito mais rápido mediante a uma gripe, e mais comum ainda em farmácias de bairro”, afirmou o presidente do Sincofarma-MT, José Antônio Parolin.
O presidente disse ainda que, para realizar a aplicação do medicamento, é obrigatório ter ampolas de adrenalina e de antialérgico por perto e que o socorro à vítima deve ser imediato. Segundo familiares da vítima, não havia equipamentos e medicamentos necessários para o socorro na farmácia e o Samu teve que ser chamado.
*Com informações do G1