Na Amazônia Legal, as mulheres são proporcionalmente mais vítimas de assassinatos e de violência sexual do que as mulheres de outras regiões do país e os registros de violências não letais atingiram os maiores números de toda a série histórica no ano de 2022.
Os dados são do relatório “A violência contra mulheres na Amazônia Legal nos últimos cinco anos em comparação com o restante do país”, do Instituto Igarapé, divulgado na segunda-feira (18).
O estudo ainda revela um crescimento mais acelerado na região das taxas de violência física, patrimonial e psicológica em comparação ao restante do Brasil. Enquanto as taxas de homicídios dolosos de mulheres no país caíram em 12%, na Amazônia, houve uma redução de somente 2%, nos últimos cinco anos.
O estado do Maranhão apresentou alta de 252,4% nas taxas de homicídio — o maior aumento entre os estados da região amazônica que registram altas nos casos e contribuíram para a redução menos expressiva da violência contra mulheres na região. Outros três estados da região registraram altas nas taxas: Rondônia (58,6%), Mato Grosso (41,4%) e Tocantins (7,8%).
No mesmo período, as taxas de feminicídio na Amazônia aumentaram 15%, enquanto o resto do país registrou 22% de crescimento. Os pesquisadores ressaltam que as taxas de feminicídios são um pouco mais elevadas na Amazônia. Em 2022, de 1,5 e mulheres foram vítimas a cada 100 mil mulheres, contra a taxa de 1,1 fora da região.
O relatório mostra que houve um aumento de 47% nas taxas de violência não letal na Amazônia, enquanto no restante do Brasil esse crescimento foi de 12%. Veja a comparação entre o aumento nos diferentes tipos de violência na região amazônica e no resto do Brasil;
Violência física
- Amazônia Legal: 37%
- Resto do país: 3%
Violência patrimonial
- Amazônia: 62%
- Resto do país: 51%
Violência psicológica
- Amazônia: 82%
- Resto do país: 14%
Em 2018, a taxa de violência sexual na região amazônica era de 45,4 a cada 100 mil mulheres — número superior à taxa de 32,9 no restante do país. Já em 2022, essas taxas aumentaram para, respectivamente, 60,8 e 47,0.
A violência contra meninas de 0 a 14 anos na Amazônia, que representaram cerca de 69% das vítimas nos últimos cinco anos, segundo a pesquisa. Ou seja, a cada 10 vítimas, sete são meninas dessa faixa etária.
Violência não letal cresceu na pandemia
Os índices de violência psicológica e patrimonial tiveram um crescimento significativo no período mais crítico da pandemia de Covid-19, puxados pelo estado do Pará, segundo o estudo.
No estado, a violência patrimonial aumentou 134%, entre 2019 e 2020, ano que registrou a taxa de 8,2. Em 2020, os casos registrados no Pará representavam cerca de 76% do total de casos de violência patrimonial contra mulheres na Amazônia Legal. Já para a violência psicológica, os casos dobraram — a taxa saltou de 66,7 para 133,3 por 100 mil mulheres, no período.
Os casos registrados no estado representavam cerca de 68% do total de casos de violência psicológica com vítimas mulheres na Amazônia Legal em 2020.
O que diz Ministério das Mulheres
A CNN questionou o Ministério das Mulheres referente aos dados revelados no relatório e, até a publicação desta reportagem, não obteve retorno.
Nesta terça-feira (19), o Ministério lança o Plano de Ação do Pacto Nacional de Prevenção aos Feminicídios. O objetivo é “prevenir todas as formas de discriminação, misoginia e violência de gênero contra mulheres e meninas, por meio da implementação de ações governamentais intersetoriais, com a perspectiva de gênero e suas interseccionalidade”, segundo a pasta.
Na ocasião, também será lançado o Programa Asas para o Futuro, que busca objetivo de ampliar a participação de jovens mulheres em setores de tecnologia, energia, infraestrutura, logística, transportes, ciência e inovação, com ênfase em carreiras voltadas para a sustentabilidade socioeconômica.