Geladeiras lotadas de cerveja, piscina com vista para o mar de São Conrado, varanda gourmet e acabamento de alto padrão. Essa era a rotina dos chefes do Comando Vermelho (CV) do Ceará, escondidos em uma cobertura irregular na comunidade da Rocinha, zona sul do Rio de Janeiro. A ostentação, no entanto, veio abaixo na manhã desta quinta-feira (26/6), quando uma força-tarefa iniciou a demolição de três prédios construídos sem autorização pelo braço da facção nordestina instalado na favela.
Batizado pelos investigadores de “rooftop do tráfico”, o espaço de luxo era um dos esconderijos de Anastácio Paiva Pereira, o Paizão, apontado como líder do CV no Norte do Ceará. De lá, ele e outros criminosos coordenavam uma rede de execuções e tráfico de drogas responsável por mais de mil mortes em território cearense nos últimos dois anos, segundo o Ministério Público.
As construções ocupavam uma área de cerca de 2 mil m², na localidade conhecida como Dionéia, e contavam com até sete andares. Além do risco de desabamento por serem erguidas sobre encostas desmatadas, os imóveis funcionavam como bases logísticas e abrigo para criminosos armados. Relatórios da inteligência apontam a presença de cerca de 70 fuzis nas edificações, arrendadas por foragidos do Ceará.
A estimativa da Prefeitura do Rio é que as obras ilegais tenham custado ao menos R$ 6 milhões, financiados com dinheiro do tráfico. O padrão das construções, com áreas de lazer, banheiros revestidos e cozinhas planejadas, destoava da paisagem da comunidade.
A operação conjunta reuniu o Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente (Gaema/MPRJ), a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop), a Polícia Militar, o Ministério Público do Ceará e a Polícia Civil cearense. Segundo o MP, 29 mandados de prisão e 14 de busca e apreensão foram expedidos, incluindo o sequestro de bens dos investigados.
No fim de maio, uma ação semelhante na mesma região flagrou dezenas de criminosos fugindo em comboio pela mata da Rocinha. A ação desta quinta busca desarticular a base carioca do CV cearense, que utilizava o Rio como quartel-general para comandar execuções a distância no Nordeste.