A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo prepara um projeto piloto para utilizar a inteligência artificial (IA) na preparação de aulas e atividades para os alunos da rede pública do estado.
A intenção é que os primeiros alunos impactados sejam os do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e dos três anos do Ensino Médio, já no terceiro bimestre do ano letivo, nos meses de agosto e setembro, logo depois da volta das férias escolares.
“Essa experiência piloto visa aprimorar o processo editorial, com a inclusão de novas atividades, com a introdução de novos recursos, que visam melhorar esse processo”, disse o secretário-executivo da pasta, Vinicius Neiva.
“Então a gente vai como experiência piloto pegar aulas que já estão prontas, vamos submeter à inteligência artificial e o autor daquela aula, e se ele concordar, aí sim a gente substitui essa aula”, disse Neiva.
Embora exista um consenso entre especialistas sobre a necessidade de atualizar o modelo pedagógico totalmente analógico, que já não produz o mesmo efeito às crianças e jovens que vivem hiperconectados, a utilização da IA é vista com cautela por entidades que representam os professores e educadores de forma geral.
O professor Wolney Melo, do Instituto Sidarta, que pesquisa metodologias de ensino, defende que a porta de entrada da inteligência artificial no ensino público seja a capacitação de professores para usar a tecnologia e não a produção de conteúdo.
“Para produção de materiais didáticos nós temos profissionais extremamente capacitados. […] Que seja feito um trabalho de capacitação com os professores, para que eles aprendam a utilizar esta tecnologia em benefício da sua aula, para melhoria do seu trabalho pedagógico, das suas aulas e das práticas que vão desenvolver”, sugere o professor.
A secretaria alega que o fluxo de formatação das aulas ainda vai ser testado e passará por todas as etapas de validação para que seja “avaliada a possível implmentação”.
Eles explicam que as aulas são produzidas pelos 90 professores curriculistas contratados pelo governo e replicadas nas escolas estaduais. Os curriculistas são aqueles que definem as diretrizes pedagógicas de cada matéria e alimentam a rede pública.
A IA entrará como um recurso para “aprimorar” as aulas, “com a inserção de novas propostas de atividades, exemplos de aplicação prática do conhecimento e informações adicionais que enriqueçam as explicações de conceitos-chave”, segundo a pasta.
Depois disso, o material ainda passará por revisão de direitos autorais e design.
“Não há que se falar em substituição de professor, muito pelo contrário, a gente ainda continua dependendo do professor porque é ele quem elabora o material, ele que valida o conteúdo que vai para aula e, principalmente, ele que é responsável por transmitir esse conteúdo”, completa Neiva.
Entre as preocupações apontadas por especialistas ouvidos estão:
- os custos futuros com a manutenção do investimento em inteligência artificial, diminuindo eventualmente o investimento em professores especialistas;
- preocupação com a autoria, veracidade e credibilidade da informação, além de possíveis problemas com direitos autorais;
- os impactos no desenvolvimento de habilidades complexas que sustentam a ação de pensar;
- a impessoalidade da tecnologia que pode não ser capaz de ajustar o conteúdo a realidades sociais, econômicas e culturais das comunidades onde serão distribuídas
“Isto me gera uma preocupação com relação aos aspectos éticos da produção desses materiais. Temos que analisar até que pontos direitos autorais podem estar sendo feridos ou não. Eu penso que a produção de materiais didáticos poderia ficar num segundo plano, num momento mais para frente. […] Neste momento seria de maior importância e mais prioritário a capacitação de professores da rede estadual para a utilização de tecnologias de inteligência artificial”, opina Melo.
Fonte: CNN Brasil
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