Sob o sol da Zona Centro-Sul, entre as árvores que balançam na Avenida Mário Ypiranga, o prédio colorido do Pinocchio Centro Educacional exala infância, riso e princípio. São 45 anos de uma escola que se tornou referência: não apenas por ensinar, mas por transformar, acolher e criar raízes profundas no solo amazônico.
Professora, fundadora e alma viva desse lugar, Nelly Falcão de Souza recorda: “O Pinocchio nasceu com o objetivo de oferecer uma educação diferenciada para as crianças, com um espaço onde elas pudessem se autoconstruir, superar-se, descobrir brincando, observando e experimentando, para se tornarem ‘meninos e meninas de verdade’.”
Do sonho à realidade
Em 1980, Nelly — então estudante do curso de Pedagogia e filha de professora — assumiu a direção da Jardim Escola Chapeuzinho Vermelho, uma pequena instituição com cerca de 40
alunos.

“Nunca havia trabalhado fora de casa”, relembra. Mãe de duas crianças em idade pré-escolar,
ela viu naquele convite o início de uma missão de vida.
Após dois anos à frente da antiga escola, o espaço ficou pequeno. Foi então que, ao lado do
marido, Nelly fundou o Pinocchio Centro Educacional, construído em apenas seis meses.
A arquitetura do prédio foi inspirada em um grande brinquedo, um cenário saído das páginas
da literatura infantil: alegre, acolhedor e cheio de significado.
O nome, extraído da fábula de Carlo Collodi, representa mais que o conhecido boneco de
madeira. Para Nelly, Pinocchio simboliza coragem, resiliência, amor e transformação.
“Quando o boneco feito pelo pai Geppetto ganhou vida pelo condão da Fada Azul, a primeira
coisa que ele fez foi ir à escola. Isso sempre me tocou, a ideia de que o estudo é o primeiro
passo para se tornar humano.”

Princípios imutáveis, metodologias que se renovam
Ao longo de quatro décadas e meia, o Pinocchio atravessou gerações sem perder sua
essência. Nelly defende que os princípios permanecem, enquanto as metodologias evoluem.
Solidariedade, responsabilidade, respeito, fraternidade e sustentabilidade são os pilares. A
cada mudança social, tecnológica ou familiar, a escola manteve firme a missão de formar o
“homem integral”.
“A criança precisa, primeiro, de afeto. Depois, de brincar. É através do brincar que ela
aprende, se expressa e desenvolve seu potencial.”
Metodologias como Montessori, Piaget e Wallon foram incorporadas à rotina pedagógica, em
harmonia com abordagens contemporâneas como o ensino bilíngue, a ludicidade ativa e os
projetos ambientais.
Educação e sociedade
As transformações sociais também moldaram o Pinocchio. Hoje, as crianças chegam à escola
mais estimuladas e com novas demandas emocionais.
Com famílias mais ocupadas e o avanço da tecnologia, a escola se tornou parceira essencial
na formação socioemocional. As turmas foram reduzidas, os espaços repensados, e a escuta
ativa se tornou rotina.
“Temos uma nova criança, uma nova sociedade, mas a essência da boa educação
permanece. É preciso sensibilidade para entender o tempo de cada aluno e coragem
para manter o que é certo.”
Marcos, projetos e identidade
O Pinocchio é escola e laboratório de educação infantil. Seus projetos refletem a integração
entre pedagogia, arte e Amazônia.
● Educação bilíngue: Introdução natural de vocabulário em língua estrangeira desde a
primeira infância.
● Projetos literários: Clube do Livro, “Pequeno Autor” e mostras literárias que despertam o
gosto pela leitura.
● Educação ambiental: Viveiros de mudas, hortas, ações com famílias e projetos como
“Mãozinhas que Plantam”.
● Cultura amazônica: Eventos que valorizam o folclore, a floresta e o pertencimento
regional.
● Infraestrutura humanizada: Ambientes ventilados, coloridos e planejados para o brincar
e o acolhimento.
No contexto amazônico, o crescimento populacional, as pressões ambientais e as
desigualdades tornam a educação infantil um ato de resistência e responsabilidade social.
O Pinocchio atua como agente ativo dessa transformação, formando cidadãos conscientes do
papel da Amazônia no futuro do planeta.
“Criar raízes na Amazônia é também ensinar as crianças a cuidar da floresta, das
águas, dos povos e de si mesmas.”
Comemorações dos 45 anos
O aniversário oficial é celebrado em 28 de abril, data escolhida por coincidir com o aniversário
da própria Nelly Falcão, também Dia da Educação.
As comemorações se estendem até outubro de 2025, com eventos simbólicos que unem arte,
memória e sustentabilidade.
Destaques da programação:
● Peça teatral “Pinocchio e os Ensinamentos da Floresta”, em 22 de outubro, no Teatro
Manauara.
● Lançamento da revista comemorativa de 45 anos, com depoimentos e registros
históricos.
● Homenagens a professores, ex-alunos e colaboradores que marcaram a trajetória da
escola.
“Criamos um Pinocchio amazônico: que aprende com o Curupira, a Cobra Grande e outros
personagens da floresta. Queremos celebrar a Amazônia dentro e fora da sala de aula”,
antecipa a diretora.
Mesmo após 45 anos, Nelly Falcão segue motivada. “A educação, pra mim, é tudo. É minha
motivação, minha realização pessoal e profissional”, revela.
Os próximos anos trarão continuidade e inovação: ampliação de projetos bilíngues, educação
ambiental fortalecida, maior integração com a comunidade e novas parcerias culturais.
A história do Pinocchio Centro Educacional é a história de Manaus aprendendo a sonhar com
os pés no chão e a cabeça nas nuvens.
Entre risos e cadernos coloridos, a escola mostra que educar é um ato de amor e resistência.
Celebrar 45 anos é reafirmar que, no coração da Amazônia, o conhecimento floresce leve,
curioso e acima de tudo, humano.