Em um gesto de diálogo, escuta e reconexão ancestral, o Boi-Bumbá Garantido realizou, entre os dias 30 de maio e 1º de junho, uma visita ao território Tupinambá de Olivença, localizado em Ilhéus (BA). Representado por Izabel Munduruku, integrante da Comissão de Artes, e Isabelle Nogueira, cunhã-poranga, o Boi Bumbá participou de uma agenda de consulta livre com caciques, anciãos, lideranças e membros do povo Tupinambá de Olivença.
De acordo com Izabel Munduruku, desde fevereiro deste ano, o Boi Garantido vem estabelecendo um diálogo contínuo com o Conselho Indígena Tupinambá de Olivença (CITO), respeitando os protocolos de escuta e consulta definidos pelos próprios povos indígenas.
“Cumprimos um processo do protocolo de consulta ao povo Tupinambá de Olivença, conforme o que garante a Convenção 169 da OIT. É nossa responsabilidade, enquanto Comissão de Artes do Boi Garantido, ouvir esse povo, conhecer a história por trás da luta pela repatriação do Manto Tupinambá, entender que o manto não é um objeto, que o povo não é objeto, que nós, povos indígenas, não somos objetos. Nossa intenção é representar essa história de forma responsável e respeitosa, tanto no Festival de Parintins quanto em outros espaços políticos e sociais que o Boi-Bumbá ocupa”, afirmou Izabel.

Povo Tupinambá de Olivença
A visita foi um reencontro com a luta histórica e contemporânea do povo Tupinambá de Olivença, que segue resistindo em seu território, lutando pela demarcação de suas terras e pela repatriação do Manto Tupinambá, um ancião vivo e sagrado feito originalmente com penas vermelhas de guará, utilizado nos rituais mais importantes do povo Tupinambá.
Foi Amotara Tupinambá, mulher de grande relevância para o povo, quem primeiro reconheceu e criou a primeira réplica do manto na contemporaneidade. O original permaneceu por mais de 300 anos fora do Brasil, em museus europeus, e só retornou ao país em 2024, vindo da Dinamarca. Atualmente, está no Museu Nacional, mas a luta pela devolução ao território de origem continua como uma demanda legítima e urgente.
A cacique Valdelice Tupinambá, liderança indígena, ressaltou que a chegada do manto é a força e a história do povo Tupinambá, que foi reconhecida por Amotara.
“É a história do povo Tupinambá de Olivença sendo reconhecida, como sempre defendeu Amotara, uma mulher que levou o nome do nosso povo por todos os lugares e lutou pela demarcação da nossa terra. Quando o manto volta ao Brasil, depois de 386 anos fora, ele redobra nossa resistência. Resistimos, e o manto sagrado reforça tudo isso”, declarou.

Segundo a cacique, o processo de escuta e consulta livre entre o Boi Garantido e o povo Tupinambá fortalece essa luta e amplia a voz do povo.
“A vinda do Boi Garantido até a nossa aldeia é comunicação, é escuta. Quando o Boi chega na nossa aldeia dizendo que pode nos divulgar, a gente acredita. Porque de boca em boca, a conversa vai longe. E quando eles chegarem na Arena, vão retratar o povo Tupinambá na sua realidade, na sua totalidade. Por isso, essa consulta é essencial: ouvir os anciãos, jovens, mulheres e lideranças para que, ao falar de nós, falem com verdade para quem ainda não nos conhece”, mencionou.
A presença do Boi Garantido no território Tupinambá reforça a importância de um Festival que celebre as raízes culturais e ressoe, de fato, as lutas contra o Marco Temporal e pelos direitos dos povos que são representados no Bumbódromo. A arte do Boi-Bumbá não é apenas espetáculo, mas também instrumento de conscientização, memória e justiça histórica.