“Alguns livros e histórias passam a fazer parte do nosso DNA”. Lançar “Frankenstein” faz o cineasta mexicano Guillermo del Toro, 61, grandemente conhecido por “O Labirinto do Fauno” (2006) e “A Forma da Água” (2017), realizar um sonho de infância. Em entrevista à emissora CNN, o diretor da nova adaptação da história clássica ressalta como levou uma grande paixão para as telas. O filme, cotado ao Oscar 2026, chega à plataforma de streaming Netflix nesta sexta-feira (7).
Para del Toro, o filme é a realização de um sonho antigo: seu primeiro contato com a história foi na infância, no México. Segundo ele, o monstro de Frankenstein é seu santo padroeiro. “A criação de Mary Shelley me acompanha ao longo da vida. Mesmo sendo a minha Bíblia, eu quis me apropriar da história, contá-la em outro tom, com outra emoção”, conta del Toro.
“Eu queria fazer esse filme antes mesmo de ter uma câmera ou saber dirigir. Na infância, quando vi Boris Karloff cruzar o limiar na jornada do herói [na adaptação de Frankenstein de 1931 produzida pela Universal], me senti em um momento religioso, pois tudo o que eu pensava sobre o universo católico fez sentido. Pensei: ‘Esse negócio é algo de outro mundo, e esse sou eu. Eu sou assim. É por isso que eu não me encaixo’.
A história ganhou uma carga ainda mais dramática quando o profissional passou por um momento dramático na vida. “”‘Pinóquio’ e ‘Frankenstein’ são as minhas duas histórias mais queridas. Acabei fazendo um filme seguido do outro depois que perdi meu pai e minha mãe. Precisei me questionar sobre a minha identidade, pois fiquei órfão. Essas perdas deixaram os dois filmes mais profundos”, disse o cineasta, que enfrentou a morte da mãe em 2022, mesmo ano da produção de sua releitura de “Pinóquio”.
O filme é uma adaptação da clássica obra “Frankenstein” (1818). Segundo del Toro, ele revisita a trama para explorar o que significa ser humano e o que significa ser
profundamente incompreendido como criador e criatura.
“O livro tem uma aura forte de ansiedade, aquela ansiedade de quando você é adolescente e não entende por que todo mundo mente sobre o mundo. O livro tem esse tipo
de energia inquietante. Há nele um desejo de questionar o capitalismo. A ideia do livro é questionar: ‘Quem sou eu? Por que estou aqui? O que Deus reservou para mim? Qual é o meu propósito? O que é o mundo?’ Eu quis captar essa ansiedade. Tentei absorver o estilo e os temas dos diálogos. Muitos dos diálogos [do filme] são inteiramente originais, mas carregam o linguajar e o ritmo de Mary Shelley. Quem tem o inglês como segunda língua desenvolve habilidades para a melodia e o ritmo de um idioma. Os diálogos do livro têm um ritmo particular. Tentei deixá-los assim, mas sem soar arcaico”, comentou ele.
Sobre dar o próprio tom à obra, del Toro explicou como enxergou a adaptação.
“Frankenstein não foi escrito por Mary Shelley como uma obra de época. Naquele tempo, era um livro moderno. Eu queria que Victor se vestisse como Mick Jagger no Soho em 1970. Eu queria que o figurino fosse opulento e colorido, que os sets exagerassem um pouco nas cores, e que tudo fosse codificado por cores com muito cuidado. Eu digo que fazer uma adaptação é como se casar com uma viúva: é preciso respeitar a memória do falecido, mas os sábados ainda precisam ser vívidos. Então, é importante se apropriar do livro. Se não for assim, que sentido teria adaptá-lo?”
Por fim, ele definiu seu “Frankenstein” como um “melodrama”.
O filme retoma a clássica história de Mary Shelley sobre Victor Frankenstein, um cientista brilhante e egocêntrico que dá vida a um ser em um experimento monstruoso, que acaba levando à desgraça do criador e da criatura.
Oscar Isaac (“Duna”) interpreta Victor Frankenstein, um cientista brilhante e perturbado que assume para si a missão egocêntrica de gerar uma nova forma de vida. Esse experimento dá origem à Criatura, vivida por Jacob Elordi (“Euphoria”).
No longa, o público vai dos confins do Ártico aos sangrentos campos de batalha da Europa do século 19, enquanto Frankenstein e sua Criatura partem em busca de sentido em um mundo que parece enlouquecido. No elenco, também estão Mia Goth (“MaXXXine”), no papel da cândida Elizabeth, e Christoph Waltz (“Bastardos Inglórios”).

