O livro “Memórias da Ditadura: Sociedade, Emigração e Resistência”, do professor, escritor e historiador português Daniel Bastos, redigido a partir do espólio fotográfico, e inédito, do “militar desertor” e engenheiro nuclear, Fernando Mariano Cardeira, vai ser apresentado no dia 5 de abril (sábado) em Bruxelas, às 15h, na livraria La Petite Portugaise, promotora da língua e cultura portuguesas na capital da Bélgica.
A publicação teve o apoio da “Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril”, que relembra a luta de todos os participantes das primeiras eleições livres em Portugal, cujo resultado se deu com a Assembleia Constituinte de 25 de abril de 1975. Um desses personagens foi Fernando Mariano Cardeira e, por isso, a dedicação de Daniel Bastos em revelar o espólio do “antigo oposicionista, militar desertor, emigrante e exilado político”.
O esforço de Bastos para conceber o livro também foi devida à “trajetória marcada pela deserção, emigração e exílio nas décadas de 1960–70” de Cardeira, que retornou “a Portugal após o 25 de Abril de 1974”. Bastos destaca que o seu personagem, ainda atuante, “foi um dos fundadores da Associação de Exilados Políticos Portugueses (AEP61/74) e presidiu à Associação Movimento Cívico Não Apaguem a Memória- NAM”. Bastos ressalta que Cardeira, “cuja lente humanista e militante”, foi um ativo participante de inúmeros eventos sob a opressão do governo e “teve o condão de captar fotografias marcantes para o conhecimento da sociedade, emigração e resistência à ditadura nas décadas de 1960–70”.
Com a publicação, o leitor fará uma viagem de retorno ao passado de arbitrariedades
em Portugal. Também acompanhará demais manifestações pelo mundo, por meio das “das memórias visuais do antigo oposicionista, assentes num conjunto de centena e meia de imagens”, entre elas “as primeiras manifestações do maio de 1968 em Paris, acontecimento icônico onde o fotógrafo engajado consolidou a sua consciência cívica e política”. E como influenciador marcante para as nações e inspiração para jovens revolucionários, as manifestações de 1968 refletiram em Portugal.
A consciência desses jovens sobre o governo e a realidade portuguesa num “quotidiano de pobreza e miséria em Lisboa”, provocou “o embarque de tropas para o Ultramar, os caminhos da deserção, da emigração ‘a salto’ e do exílio, uma estratégia seguida por milhares de portugueses em demanda de melhores condições de vida e para escapar à Guerra Colonial nos anos 60 e 70”.
“Memórias da Ditadura — Sociedade, Emigração e Resistência”, obra com temáticas fundamentais na vida do historiador e comprovadas em outras publicações sobre a Diáspora, a História e a Emigração, colocam Bastos, nascido após à Revolução de Abril, em “contacto estreito com as comunidades portuguesas”.
A primeira edição do livro, quase esgotada, havia sido “lançada noutras latitudes da diáspora portuguesa”, como Espanha (Vigo), Canadá (Toronto) e na França (Paris) e também várias cidades de Portugal: Lisboa, Porto, Braga, Felgueiras, Fafe, Óbidos e Torres Novas.
A apresentação da nova edição, bilíngue (português e inglês), é da presidente da Associação José Afonso (Núcleo de Bruxelas), Maria José Gama, com tradução de Paulo Teixeira. O prefácio foi assinado pelo historiador e ex-deputado da Assembleia da República, José Pacheco Pereira, fundador do Ephemera, o maior arquivo privado em Portugal, hoje gerido de forma pública.