A fila começou cedo e dava voltas pelos corredores de dois andares do Centro de Convenções de Austin, onde são realizadas as principais palestras do SXSW. O motivo era a presença de Meghan Markle no debate “Quebrando barreiras, moldando narrativas: como as mulheres lideram dentro e fora da tela”.
Com o príncipe Harry na primeira fila da plateia, Meghan apresentou dados do relatório “News that represents”, feito pela Archewell Foundation em parceria com a The19th News. Discutindo os resultados que mostraram como a mulher ainda é representada na mídia e que cargos ocupa na área, também estavam a editora do The 19th News, Errin Haines, a jornalista Katie Couric, a atriz Brooke Shields e a socióloga Nancy Wang.
“Sempre amei conhecer histórias de mulheres, entender o que passam, a forma como se veem, e isso nem sempre é bem retratado pela mídia“, disse Meghan. “As mães ainda são retratadas como magras, brancas, que não trabalham. Isso é uma fantasia do patriarcado.”
A duquesa lembrou da carta que escreveu aos 11 anos para uma marca de sabão questionando os comerciais machistas que exibiam na TV. A atitude gerou repercussão na época, e o vídeo em que ela aparece defendendo que não só as mulheres deviam cuidar da casa viralizou há cerca de seis anos.
Brooke Shields aproveitou a deixa para recordar que, com a mesma idade, estava vivendo uma prostituta na sua estreia no cinema, no filme “Menina Bonita“, de 1978. A atriz hoje faz questão de debater o etarismo e os papéis estereotipados que Hollywood ainda reserva para mulheres mais velhas.
“A indústria não está tão mudada; a diferença é que agora há mais vozes apontando o tratamento dado às mulheres”, afirmou.
Markle reforçou que sabe dos seus privilégios e se sente ainda mais abençoada por ter um marido que faz questão de participar da criação dos filhos. “Sei o quanto isso é raro, e sou agradecida por contar com ele”, reforçou.
Entre os dados discutidos no palco do SXSW, está o fato de que, em pleno ano do filme “Barbie“, há menos protagonistas femininas nos filmes – “será que estamos vivendo o ano do Ken?”, questionou Wang. A socióloga também repercutiu a pesquisa que mostrou que, na Inglaterra, homens da Geração Z afirmaram que o feminismo causa mais transtornos que benefícios.
No fim da palestra, todas concordaram sobre o impacto das redes sociais na saúde mental de meninas adolescentes. A taxa de suicídio entre elas aumentou 167% nos últimos anos, apontou Katie Couric, e uma das razões é o bullying e constante comparações online quanto à aparência.
“Há muito trabalho a ser feito para manter as pessoas a salvo”, disse Meghan Markle. “Mas o que me impressiona mais são mulheres odiando mulheres nas redes sociais. Se você está lendo algo terrível sobre uma mulher, por que você compartilha isso com seus amigos? Faz um meme disso? E se fosse sua mãe, sua irmã? Nós estamos deixando nossa humanidade de lado”, concluiu.