A presença da miscigenação de culturas africanas e indígenas na cultura do boi-bumbá amazonense é o mote da Oficina Boi de Quilombo – Conexão Norte e Nordeste, que tem percorrido algumas localidades no Brasil e no mundo e, atualmente, se encontra na Bahia, onde realizará quatro edições do workshop nos dias 14 e 15 de março.
A ida à Bahia foi possível por meio do edital de Cultura Popular da Lei Paulo Gustavo, realizado pelo Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa.
Nesta quinta-feira (14/03), a oficina será realizada na Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia, das 15h às 17h, e na Fundação Cultural do Estado da Bahia, das 18h às 20h30. Na sexta-feira (15/03), vai ter Boi de Quilombo na Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia, das 10h às 12h, e na Escola de Balé Dcoesalteado, na cidade de Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, das 17h30 às 19h30.
De acordo com o arte educador e produtor cultural amazonense Wilson Júnior, idealizador do projeto e fundador da instituição cultural Arte Sem Fronteiras, o boi de quilombo é fruto do encontro na encruzilhada, a partir do termo desenvolvido pela pesquisadora Leda Martins na obra “Afrografias da Memória”.
“O boi de quilombo, portanto, congrega a cultura tanto de povos indígenas quanto dos povos africanos que vieram para o Norte do país. O termo surge a partir do trabalho que realizei com a dança afro para a gravação do DVD do Boi Caprichoso no Teatro Amazonas, em 2018”, conta Wilson Júnior.
O arte educador e coreógrafo afirma que o projeto existe desde 2018 e já foi desenvolvido várias vezes em Manaus, na Instituição Cultural Arte Sem Fronteiras. Também já passou pelo Ceará, Pernambuco, Venezuela, Argentina e Panamá. “O projeto já existe há sete anos e vem sendo desenvolvido com muita força fora do Amazonas e do Brasil”, afirma Wilson Júnior.
“Aprovamos na Lei Paulo Gustavo para o projeto ser desenvolvido também na Bahia e estou promovendo o intercâmbio, trazendo cinco artistas do Amazonas que vão fortalecer nosso fazer como multiplicadores desse projeto que é tão importante que mostra tanto da dança do Amazonas”, explica o produtor cultural.
Matrizes Negras
A ida à Bahia é importante, pois coloca o projeto mais perto da cultura de matriz africana. “A pesquisa ganha forma e profundidade à medida que vamos tendo acesso e conhecimento sobre a participação do povo negro em sua construção e como isso foi sendo invisibilizado e silenciado ao longo do tempo, por questões racistas, eugenistas e preconceituosas”, diz Wilson.
A oficina busca apresentar as particularidades e diferenças da dança do Boi Bumbá de Parintins em cada representação de seus personagens e itens principais, como a Rainha do Folclore, o Pajé, a Cunhã Poranga e enfatiza a influência das matrizes negras em cada um deles, como elas se apresentam e transformam, segundo o idealizador do projeto.
“Esses itens têm seus aspectos fortemente direcionados para as questões indígenas. Porém, toda a movimentação, no momento da apresentação, e sua ritualística recebem influência, força e ganham projeção a partir das danças e culturas de matrizes negras e africanas”, diz o artista e pesquisador.
O artista terá como auxiliares na Bahia o coreógrafo Bruno Sousa, e produção de Jéssica Moça e Jeferson Viegas. Além dos bailarinos Rayana Fortes e Robson Silva e a Mestranda em dança e produtora cultural Louise Lucena (Ifádámiláre Ọ̀jẹ̀yímiká).