Até o dia 20 de outubro, 38 marcas nacionais apresentam suas coleções na passarela do São Paulo Fashion Week (SPFW). Considerada e mais expressiva semana de moda da América Latina, a temporada é responsável por colocar novos talentos na indústria, valorizando toda a criatividade na produção brasileira.
Muito além de estilistas, designers e maquiadores para garantir o glamour que permeia não apenas o imaginário, mas os olhos de quem acompanha cada edição, diversos são os profissionais que tiram sonhos e croquis do papel e os levam até a passarela.
Renata Bastos, PR de moda, que trabalha desde 1997 na temporada nacional, conta que, mesmo após três décadas as pessoas ainda não têm tanta noção do behind scenes e de como o evento se fortalece. “Quando a gente está falando sobre moda, fica muito naquele lugar de criação da roupa, mas a gente entende que o mercado realmente é uma indústria que tem muitos segmentos. O meu é um trabalho de PR que, para quem me vê ali, acha que só estou recepcionando a imprensa”, brinca.
“Mas, por trás disso, existe uma estratégia que começa três meses antes, pensando primeiro em uma versão de cada marca, entendendo as pautas, os temas de cada designer, não no óbvio, mas no comportamento, no lifestyle, onde conseguimos ter esses territórios de arte, de música, de business”, acrescenta.
A evolução da moda em três décadas de SPFW
Entre o charme, a ousadia e algumas polêmicas acumuladas no currículo, típicas de quem faz e consome moda, o SPFW garantiu um público que passou a enxergar a produção brasileira com outros olhos. “Assim como as pessoas, o profissional e as marcas olhando para si e entendendo o cliente, o lugar da moda nacional e essa ideia de realmente valorizar o nosso mercado, a nossa mão de obra, as nossas matérias-primas”.
“Hoje, gente entende que a moda está na nossa matéria-prima, está nas nossas sementes, no nosso linho, no nosso algodão, no nosso denim, assim como a gente descobriu lá nos anos 1990 que o Brasil foi um start para o beachwear, para a linha de moda praia. Então, é muito bonito ver que os nossos designers olham para si, para sua ancestralidade e entendem aquilo”, adiciona.
A moda não é só no sul e no sudeste
- Renata Bastos
Renata diz ainda que é importante pensar no futuro, sem esquecer do propósito. O ideal é encontrar um equilíbrio entre as demandas do mercado midiático e a essência da moda. “A gente precisa profissionalizar cada vez mais, e olhar para o business. O grande desafio é entender como um imagético de moda na passarela vira desejo, mas não um desejo aspiracional, não um desejo surreal, mas um desejo que a pessoa use no dia a dia”.
“A moda não é só sul, não é só sudeste. E é por isso precisamos entender como o nordeste, por exemplo, atinge as lojas de lá. Com podemos fazer para atingir o mercado oriental? Como a gente pode atingir e fazer esse mercado girar realmente em vendas?”, questiona.
“Eu espero que a moda continue olhando para nós, que a moda brasileira continue ocupando o espaço das grandes capitais, Paris, Nova York, Milão, Tóquio. Que a imprensa olha para nossa matéria-prima, para os nossos produtos. Para tudo que estamos trazendo, costureiras, os alfaiates. Sem eles, sem essa base muito bem construída, muito bem acelerada, incentivada, a gente não tem moda”, conclui.