O Teatro Amazonas está entre os candidatos a ingressar no mapa do Patrimônio Mundial Cultural. Entre os dias 8 e 10 de setembro, Manaus recebeu a visita técnica da representação do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), entidade associada à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e da Cultura (Unesco), para avaliação do ponto turístico mais emblemático do Amazonas e sua importância cultural, histórica e econômica para o Estado.
A candidatura do Teatro Amazonas integra o projeto “Teatros da Amazônia”, uma iniciativa conjunta com o Theatro da Paz, em Belém (PA).
A comitiva do Icomos foi recepcionada pelo Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, e também por representantes do Governo Federal como Ministério da Cultura (MinC) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

De acordo com o secretário de Cultura e Economia Criativa do Amazonas, Caio André, a candidatura dos Teatros da Amazônia destaca um contexto histórico comum a ambos os estados, uma vez que, por muitos anos, Amazonas e Pará formaram um único território. O secretário ressaltou ainda que o Teatro Amazonas é um símbolo da identidade cultural do povo amazonense, reforçando o sentimento de pertencimento.
“Não há separação entre a cultura da Amazônia e a cultura da humanidade. Esses teatros amazônicos têm um valor que vai além da estética: eles representam resistência, pertencimento e continuidade. Essa candidatura é importantíssima para todos nós porque reforça o nosso sentimento de pertencimento. Pertencimento à cultura amazônica, ao nosso patrimônio, àquilo que é nosso: caboclo, ribeirinho, indígena, urbano. E ver isso reconhecido pelo mundo é ver que o que é nosso também tem valor universal”, destacou.
A diretora do Teatro Amazonas, Beth Cantanhede, enfatizou o orgulho e o amor de todo povo amazonense pelo espaço: “O Teatro Amazonas faz parte da nossa vida. Ele é parte da nossa identidade, é por isso que estamos tão engajados nessa candidatura, para mostrar ao mundo o quanto esse teatro é excepcional, o quanto ele é universal, e o quanto ele representa a grandiosidade da cultura amazônica”.


Durante a avaliação in loco em Manaus e em Belém, foram analisados o protagonismo dos teatros na paisagem urbana, a forma como se adaptam ao meio em que estão inseridos, os aspectos arquitetônicos, o uso dos espaços, o papel cultural que exercem, além da sustentabilidade e gestão. O plano de monitoramento observou elementos físicos do edifício, acessibilidade, segurança, usabilidade, impactos urbanos, atividades culturais e econômicas, além da administração e manutenção.
Durante os três dias de visita em Manaus, a comitiva percorreu o Teatro Amazonas, incluindo suas áreas técnicas e bastidores, visitou o Liceu de Artes e Ofícios Claudio Santoro, fez avaliações no entorno do Largo de São Sebastião e conheceu a Central Técnica de Produção e o núcleo fundacional da cidade de Manaus.
A comitiva também participou de encontros com os corpos artísticos do teatro, com equipes técnicas, moradores do centro histórico, comerciantes, profissionais da economia criativa, do turismo e da educação patrimonial. A comitiva acompanhou ainda atividades do dia a dia do teatro, como o ensaio da Amazonas Filarmônica, a visitação turística, o projeto Livro Vivo com estudantes e a programação de espetáculos noturnos.


Importância cultural e econômica
Na programação, a comitiva do Icomos esteve reunida com os fazedores de cultura que participam ativamente dos espetáculos realizados no Teatro Amazonas. Para a diretora do Balé Folclórico do Amazonas, Monique Andrade, o Teatro representa um marco fundamental no processo de revitalização artística no estado, especialmente com a criação e o fortalecimento dos corpos artísticos.
“A partir da consolidação desses corpos artísticos, foi possível perceber o quanto a cidade cresceu culturalmente. Houve um desenvolvimento visível, não apenas nas produções institucionais, mas também no fortalecimento das produções independentes, com grupos autônomos de dança, música, teatro, entre outros”, afirmou.
O maestro e diretor do Liceu de Artes e Ofícios Claudio Santoro, Davi Nunes, comentou sobre a formação de novos artistas amazonenses a partir das atividades desenvolvidas no Liceu: “Tínhamos o Teatro Amazonas como um grande emblema, um símbolo importante — quase um sonho distante. Para nós, que éramos daqui, tocar um dia no palco do Teatro Amazonas era um objetivo quase inalcançável. Mas com o passar do tempo, com todo o processo histórico de revitalização do teatro e da cena cultural, novas possibilidades começaram a surgir”, relatou.
A biodesigner Rita Prosi, que há mais de 30 anos desenvolve biojoias e bioacessórios inspirados na fauna, flora e cultura amazônica, comentou sobre a inspiração no Teatro Amazonas: “Um dia, observando a cúpula do Teatro, pensei: ‘Quero fazer um desenho que lembre essa cúpula. Que a pessoa olhe e imediatamente se lembre do Teatro’. O mais importante para mim é isso: fazer com que o mundo conheça a Amazônia através dos nossos produtos, da nossa arte. O turista que vem até aqui quer levar um pedacinho da Amazônia. E o nosso trabalho permite que isso aconteça com beleza, com respeito e com verdade”.
O empresário Mario Valle também comentou sobre a importância de o Teatro Amazonas ser reconhecido como Patrimônio Cultural Mundial, destacando o impacto que isso pode ter no fortalecimento do acesso à cultura. “Conseguir esse reconhecimento mundial será muito importante, especialmente para o manauara. Acredito que esse reconhecimento internacional pode provocar justamente isso: uma revisitação do manauara ao seu próprio teatro, ao seu próprio centro, à sua própria história”, concluiu.
Próximos passos
Com o fim da fase de avaliação, a candidatura dos Teatros da Amazônia segue agora para análise pela Unesco. As autoridades locais e os representantes do Iphan e do Governo Federal representarão o Brasil na 48ª sessão do Comitê do Patrimônio Mundial, marcada para julho de 2026. Caso todos os critérios e etapas obrigatórias sejam cumpridos, o Teatro Amazonas e o Theatro da Paz poderão receber o título de Patrimônio Mundial da Humanidade.