As conexões culturais entre o Rio de Janeiro, Macau e Portugal continuam vivas através da memória, da tradição e da diáspora, um sentimento que é hoje realidade através das ações da Casa de Macau do Rio de Janeiro, no Brasil, onde a comunidade macaense e lusodescendente trabalha para “celebrar a mistura de tradições portuguesas, chinesas, brasileiras e de outros povos que moldaram a identidade de Macau”.
A diversidade de sotaques e de expressões culturais é considerada o “coração da nossa Casa”, lema que foi defendido durante as festas pelos 34 anos de fundação da entidade na capital fluminense, dia 29 de junho deste ano.
Ísis Paes d’Assumpção Perez, diretora Sociocultural e Esportiva da Casa, defende que “as relações entre o Rio de Janeiro, Macau e Portugal não são apenas históricas, mas profundamente culturais, afetivas e identitárias”. Por sua vez, Flávio Martins, presidente do Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Portuguesas (CP-CCP), que esteve presente na Casa durante as celebrações de junho, acredita que está é “uma instituição que honra e dignifica a Portugalidade, as suas diversas manifestações socioculturais e os seus múltiplos sotaques”.
Em entrevista à nossa reportagem, Julia Carion, presidente da Casa de Macau do Rio de Janeiro, destacou o trabalho realizado na entidade ao longo dos 34 anos de fundação, além de mencionar ações atuais e projetos futuros, bem como recordar as celebrações levadas a cabo dia 29 de junho, na cidade maravilhosa.
Que balanço faz destas mais de três décadas de atuação da Casa de Macau na preservação e promoção da portugalidade no Brasil? De que forma a Casa tem conseguido manter vivas as tradições culturais e históricas de Macau no contexto da lusofonia no Rio de Janeiro?
Macau, com a sua história única de fusão cultural, é uma ponte natural de ligação entre o Oriente e o Ocidente. E, em se tratando de Ocidente, a nossa relação com Portugal é especial e profunda: Macau foi uma das mais antigas e leais possessões portuguesas e a nossa história está intimamente ligada à história de Portugal, seja na religião, na arquitetura, na culinária, na linguagem, nas artes, na cultura, no modo de pensar e agir, no modo de viver. Nestas mais de três décadas, a Casa de Macau tem desempenhado um papel fundamental na preservação e na promoção da portugalidade no Brasil e no Rio de Janeiro, a partir do momento em que, através dos seus eventos, confraternizações, interações e relações familiares entre os seus membros transferindo para seus descendentes as tradições e costumes, mantém viva a sua cultura e reforça os laços entre Macau, Brasil, Portugal e China, celebrando, assim, a riqueza dessa cultura tão plural.
E quais as ligações hoje com as entidades portuguesas?
Temos uma forte ligação com as entidades portuguesas no Brasil, especificamente o Consulado-Geral de Portugal no Rio de Janeiro e institutos e casas portuguesas, e prestigiamos os eventos de nossos congéneres sempre que somos convidados. Contudo, um dos desafios desta nova gestão é ampliar o relacionamento com mais instituições e estreitar ainda mais os laços já existentes desenvolvendo parcerias para que possamos colaborar mutuamente em projetos que fortaleçam ainda mais a lusofonia no Rio de Janeiro.
Quais são os principais projetos socioculturais em curso e como a comunidade tem respondido às iniciativas da Casa ao longo dos anos?
Atualmente, os nossos principais projetos em curso são os tradicionais encontros presenciais de confraternização gastronómicos. A cada encontro vamos incorporando novidades e a comunidade sempre responde de forma extremamente positiva, participando ativamente.
A diversidade de sotaques e expressões culturais é um dos pilares da instituição. Como essa pluralidade é trabalhada nas atividades desenvolvidas?
A diversidade de sotaques e expressões culturais é o coração da nossa Casa. Por meio dos encontros e das interações entre os membros da comunidade celebramos a mistura de tradições portuguesas, chinesas, brasileiras e de outros povos que moldaram a identidade de Macau. Há ainda um projeto a ser desenvolvido, aguardando investimento para a sua produção, de realização de um documentário com e sobre as famílias oriundas de Macau que vivem no Rio de Janeiro.
Qual tem sido o papel da Casa de Macau na construção de pontes entre o Brasil, Portugal e os territórios de matriz luso-asiática?
A Casa de Macau tem atuado como uma importante ponte cultural a partir do momento em que organizamos eventos que exploram a culinária, a música e a história que unem esses territórios. Atualmente, estamos buscando parcerias para que a nossa Casa seja um verdadeiro centro de referência para a cultura luso-asiática.
Que desafios enfrenta hoje a Casa de Macau e como a direção liderada por si pretende superá-los nos próximos anos?
Os nossos maiores desafios atualmente são a renovação do público no tocante a atrair e engajar as novas gerações e o equilíbrio entre receitas e despesas como forma de garantir a perpetuação da Casa e a continuidade do nosso trabalho. Também buscamos aumentar o nosso alcance, levando a nossa cultura para além dos nossos muros. Para superar esses desafios, estamos desenvolvendo projeto de investimento em canais digitais e para obter outras formas de receita, buscando realizar eventos mais dinâmicos e atrativos aos jovens e parcerias com outras instituições para novos projetos e novos públicos.
Há novos projetos ou parcerias em vista para reforçar a presença da Casa no cenário cultural carioca e no seio da comunidade luso-descendente?
Sim, há novidades sendo preparadas! O que podemos adiantar é que estamos desenvolvendo novos projetos e buscando parcerias para essas realizações que incluem projeto audiovisual, educativo, médias sociais, parcerias com instituições congêneres e órgãos púbicos para a realização de projetos culturais.
Como foi organizada a celebração dos 34 anos da Casa de Macau do Rio de Janeiro e que momentos mais simbólicos marcaram o evento no último dia 29 de junho?
Com o objetivo de comemorar o aniversário da Casa de Macau Rio de Janeiro (CMRJ), fundada em 23 de junho de 1991 por um grupo de amigos oriundos de Macau que se reuniam para jogar Mahjong e confraternizar, mas também os Dias de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, a organização da celebração dos 34 anos da CMRJ iniciou com a idealização, o planeamento e a realização dos preparativos em cada detalhe pela nova diretoria, composta por Julia Carion na Presidência, Lilian Collaço Nery Costa na Vice-Presidência, António Albino Dias Pina na Diretoria Financeira, Ana Cristina da Gama Pina na Secretaria-Geral e Ísis Paes d`Assumpção Perez na Diretoria Cultural, Social e Esportiva, e membros da comunidade, culminando com um memorável encontro entre associados, amigos e autoridades ligadas à lusofonia. Como parte do reflexo das tradições e costumes que se mantêm ao longo do tempo, aos moldes da herança cultural portuguesa que preza pela importância da gastronomia e da hospitalidade, o almoço contou com um banquete realizado pela Chef Silvana Paes d`Assumpção: no cardápio, arroz de rabada, arroz de bacalhau, sardinhas ao forno, caldo verde, frutas, bolo simples, e músicas típicas portuguesas cantadas ao vivo pelos associados Leonardo e Mário Carion que animaram os presentes. O ponto alto da comemoração foi a homenagem à Excelentíssima Sra. Cônsul-Geral de Portugal no Rio de Janeiro, a Embaixadora Gabriela Soares de Albergaria, ao Vereador Rafael Aloísio Freitas e ao seu Assessor Gilberto de Souza Moreira Júnior com a entrega de uma placa de honra concedendo a cada um o título de Sócio Honorário em reconhecimento ao seu apoio à Casa e sua dedicação à promoção da portugalidade no Brasil.