Os números parciais de dezembro já nos mostram o que tem pesado mais e o que tem aliviado o bolso do consumidor neste ano de 2025.
A inflação acumulada nos últimos 12 meses está em 4,41%, segundo o IPCA-15, a prévia da inflação calculada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgado na terça-feira (23).
Entre os grupos cujos preços mais subiram ao longo deste ano, destacam-se Habitação (6,69%), Educação (6,26%) e Despesas pessoais (5,86%). O único que deu um alívio ao bolso do consumidor, até o momento, é o de Artigos de residência (-0,1%).
Energia elétrica residencial e o preço dos aluguéis estão entre os principais pesos para a Habitação ter encarecido, segundo especialistas.
“O aluguel tem um pouco de inflação inercial e aí acontece o seguinte, quando a inflação está em queda, a inflação inercial pega a inflação passada. Se o meu aluguel venceu, por exemplo, em maio desse ano, que é quando o IPCA estava super alto, eu acabei tendo um ajuste muito maior do que se a inflação venceu agora no final do ano. Então você carrega ao longo do ano a inflação passada. Isso acaba também puxando o grupo de Habitação”, observa Marcela Kawauti, sócia e economista-chefe da Lifetime Investimentos.
A energia elétrica residencial está entre os 20 preços que mais subiram neste ano, até então.
“No acumulado no ano a energia elétrica superou a inflação, teve uma alta significativa, e essa alta especificamente com relação à questão do clima, o fato da gente ter ficado durante um tempo significativo com a bandeira vermelha”, pondera Jefferson Nascimento, analista socioeconômico do IBGE.
Mas segundo o resultado prévio de dezembro, transporte por aplicativo (45,38%), pimentão (29,93%) e joias (27,04%) compõem o pódio dos itens que mais encareceram ao longo de 2025.
“No caso dos carros por aplicativo tem um fator que é a questão da modalidade de cobrança. Essa questão da modalidade da cobrança faz com que quando tem um aumento da procura acaba subindo muito, e aí no caso dos carros por aplicativo a gente teve problema em algumas praças, por exemplo, o Rio de Janeiro que enfrentou problemas com relação ao transporte coletivo, mesmo em São Paulo, isso fez com que a gente tivesse um aumento”, analisa Nascimento.
No caso do café, que subiu tanto na forma do solúvel que se compra no supermercado como no cafezinho de depois das refeições nos restaurantes, os preços subiram “via questões climáticas (secas e calor intenso em áreas produtoras), demanda global aquecida e, no caso do Brasil, bienalidade”, segundo Fábio Romão, economista sênior da 4intelligence.
No caso de outros alimentos que também encareceram, Romão aponta que o problema da manga esteve ligado à oferta restrita da fruta em São Paulo e no semiárido Nordestino, sobretudo por conta dos problemas ligados às mudanças climáticas, estas que também afetaram a produtividade do sensível pimentão.
Um item curioso que aparece no meio da lista é dos jogos de azar, que subiram 15,17%. “Com certeza existe uma demanda muito maior para isso ao longo desse ano que acabou puxando”, diz Kawauti, porém ressaltando que “são o tipo da inflação que quase não preocupa, entre aspas, porque é o tipo da inflação que a gente sabe que não é o dia a dia da pessoa e esse tipo de inflação dificilmente se espalha para o restante da economia”.
Ponto de atenção mesmo é o grupo alimentação, que no começo do ano era o principal inimigo da inflação, levando o governo a promover meiddas emergenciais para conter a alta dos alimentos.
Alguns dos principais componentes do prato brasileiro – como arroz e diferentes tipos de feijão – e alimentos que subiram em 2024 – como abacate e azeite de oliva – estão entre os produtos que mais caem neste ano.
Um clima e um câmbio mais favoráveis estão entre os fatores apontados pelos analistas como positivos para os preços dos alimentos terem arrefecido.
“A gente teve, por exemplo, ano passado, o clima mais rigoroso que afetou inúmeras culturas, impactou o grupo alimentação. Esse ano a gente tem uma situação um pouco mais tranquila, e isso fez com que muitos produtos acabassem ainda tendo um alívio”, observa Nascimento.
“No começo do ano, o grupo alimentação estava refletindo aquele câmbio de 6,30 do final do ano passado. Aí a gente vê o câmbio saiu de 6,30 para perto de 5,30, agora acomodou em 5,50, mas enfim, em algum momento do ano chegou a 5,30 e isso acaba puxando a alimentação in natura, que é o que a gente chama de alimentação do domicílio”, explica Kawauti.
A seguir, você confere a inflação acumulada até o resultado parcial de dezembro de todos os itens analisados pelo IPCA-15 do IBGE:
Perspectivas
Para 2026, os analistas econômicos fazem alertas.
“Vamos migrar de uma taxa bastante modesta da Alimentação no domicílio em 2025 para uma alta moderada em 2026. E cuidado, Serviços ainda estarão em patamar incômodo, por conta da robustez do mercado de trabalho”, pontua Romão.
Kawauti ressalta que a inflação de serviços segue “muito teimosa”, demorando a cair mesmo com o patamar elevado dos juros.
“Nesse ciclo econômico ela está demorando muito a responder para a taxa de juros, porque você tem um mercado de trabalho muito aquecido e um impulso fiscal”, explica.
“Isso faz com que reajuste, por exemplo, de cabeleireiro, manicure, mecânico de carro, tudo isso tenha tido um reajuste muito grande. Então enquanto o IPCA está perto de 4,4%, a inflação de serviços está rodando perto de 6% desde agosto e sem indicação de queda. Então esse também é um destaque bastante relevante”, conclui.

