O presidente da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), Roberto Perosa, afirmou nesta terça-feira (9) que a estimativa de perda de receita com o tarifaço imposto pelos Estados Unidos caiu de US$ 1 bilhão para cerca de US$ 300 milhões.
Segundo Perosa, a redução é resultado da abertura e diversificação de mercados.
“Esse volume que nós informamos, reportamos de agosto, foi em torno de 9 mil toneladas, quase 10 mil toneladas [que seriam afetadas]. […] Isso não é que nós vamos deixar de vender essa carne. Essa carne vai ser revendida em algum outro local, mas com o preço abaixo do que ela era vendida nos Estados Unidos”, disse o executivo.
Perosa explicou que o mercado norte-americano ainda é muito relevante, mas a carne brasileira continuará sendo vendida. Mesmo assim, ainda aposta na negociação para derrubar as tarifas e continuar na mesa dos estadunidenses.
“O mercado americano é o nosso segundo maior mercado. Ainda no acumulado do ano, é o nosso segundo maior mercado. Então, assim, é muito relevante quando a gente perde um segundo mercado que tem alta rentabilidade. A gente quer continuar negociando para que a gente não perca esse mercado.”
Entre janeiro e agosto de 2025, o Brasil exportou 209 mil toneladas de carne bovina para os Estados Unidos, um crescimento de 71,5% em relação ao mesmo período de 2024. A receita no acumulado foi de US$ 1,22 bilhão, alta de 68,9% na comparação anual.
Segundo dados da Abiec, mesmo com o tarifaço, os EUA permaneceram como o segundo principal destino da carne brasileira no período, atrás apenas da China.
No entanto, os dados mostram que, em agosto de 2025, as exportações de carne bovina brasileira para o país norte-americano caíram 51,2% e somaram 9,4 mil toneladas frente ao mesmo mês de 2024. A receita recuou 39,5% na mesma base de comparação, totalizando US$ 57,5 milhões.
“Alguns cortes, mesmo com a tarifa, continuam competitivos, mas não são cortes com grandes volumes, eu digo pros Estados Unidos. Então, a negociação é para que retome, e no meu entendimento, nos contatos que a gente tem feito com as associações dos Estados Unidos, de importadores de carne, eventualmente até com o governo americano, que eu tenho feito contato, a demanda por carne é muito grande nos Estados Unidos. E o Brasil é o campeão mundial em produção de carne bovina”, frisou.
Triangulação do México com EUA
Com o tarifaço imposto pelos Estados Unidos, países têm buscado alternativas para reduzir custos e revender a carne bovina ao mercado norte-americano sem o peso das tarifas diretas.
O México é visto como um dos potenciais intermediários nesse processo, já que em agosto de 2025 assumiu a segunda posição entre os maiores importadores da carne brasileira, com 80,9 mil toneladas exportadas no acumulado do ano.
No mês passado, uma comitiva brasileira liderada pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), esteve no México para discutir a renovação do Pacic (Programa de Abertura Contra a Inflação e a Carestia), que permite reduzir a zero as alíquotas de importação de países parceiros como o Brasil.
Questionado sobre uma possível triangulação dos mexicanos, Perosa ponderou e disse que não considera exatamente isto, mas sim uma oportunidade que o país tem.
“O México é um importante mercado. O México tem mais habilitações, por incrível que pareça, para vender carne bovina no mundo do que o próprio Brasil. O México já está habilitado a vender para o Japão, já está habilitado a vender para a Coreia do Sul”, ressaltou.
“Então eu acho que o México pode ser, assim, importar carne brasileira para consumir em queda e mandar para o Japão, a carne dele mandar para a Coreia do Sul. Não é exatamente uma triangulação, eu acho que é uma oportunidade de mercado que tem”, pontuou.