A assembleia de acionistas da JBS aprovou nesta sexta-feira (23) a proposta de dupla listagem das ações do frigorífico, conforme já era amplamente esperado pelo mercado. Às 11h, os papéis da companhia subiam 2,71%, cotados a R$ 43,41, após a negociação ter sido interrompida às 10h17.
Uma contagem preliminar dos votos dos acionistas do frigorífico, divulgada na véspera, indicou que uma leve maioria se posicionou contra a proposta da empresa de listar suas ações nos Estados Unidos.
Antes da votação, analistas debateram os méritos da dupla listagem da empresa para acionistas minoritários.
Alguns citaram a oportunidade da empresa de alinhar sua avaliação de mercado com a de seus pares internacionais com uma listagem nos EUA, o que permitirá à JBS acesso a uma gama mais ampla de investidores.
No entanto, algumas empresas de consultoria alertaram que uma nova estrutura de ações de classe dupla provavelmente reduzirá o poder de voto dos acionistas minoritários, potencialmente limitando sua influência sobre o processo de tomada de decisões da empresa no futuro.
Sob a nova estrutura da dupla listagem, os acionistas controladores da empresa, que atualmente detêm uma participação de 48,34% em uma única classe de ações, poderiam ver seu poder de voto aumentar para até 85%, segundo estimativas de analistas.
Isso porque, sob a nova organização da empresa, uma holding sediada na Holanda seria listada principalmente nos EUA, com uma estrutura de capital de duas classes, com direitos de voto distintos.
A família Batista, que fundou e ainda controla a JBS, tenta há mais de uma década listar as ações da empresa em Nova York, mas enfrentou vários contratempos, incluindo o escândalo de Lava Jato.
Em 2016, o plano também enfrentou oposição do braço de investimentos do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o maior acionista fora da família Batista. Em março, o banco estatal, que vem reduzindo sua participação na JBS, concordou em se abster na votação da listagem dupla.
O plano de listagem dos EUA também enfrentou críticas de políticos e grupos ambientalistas, que levantaram preocupações sobre corrupção, concentração de mercado e riscos ambientais.
Em 2024, um grupo bipartidário de senadores norte-americanos enviou uma carta ao órgão fiscalizador dos mercados de capitais dos EUA (SEC), expressando oposição à listagem da empresa no país, citando preocupações com corrupção e potenciais consequências ambientais da operação.
Reestruturação
Aprovada por maioria dos votos, a proposta envolve a incorporação da totalidade das ações da atual JBS S.A. pela JBS Participações, com posterior emissão de ações preferenciais obrigatoriamente resgatáveis (PN Resgatáveis).
Cada duas ações da JBS S.A. darão direito a uma PN Resgatável, que será automaticamente convertida em um BDR lastreado em uma ação Class A da JBS N.V., que será negociada na Nyse.
Segundo a companhia, a nova estrutura permitirá fortalecer a governança corporativa, ampliar a base de investidores e reduzir o custo de capital.