As ações da Alpargatas (ALPA4; ALPA3) sobem nesta terça-feira (23), recuperando, até agora, as perdas da sessão anterior, após a repercussão negativa gerada por um chamado de boicote à marca Havaianas feito pelo ex-deputado federal Eduardo Bolsonaro nas redes sociais no domingo (21). A reação ocorreu após a divulgação de uma campanha de fim de ano da marca, criticada por apoiadores da direita.
Por volta das 14h14, as ações preferenciais (ALPA4) avançavam 3,58%, a R$ 11,85, enquanto as ordinárias (ALPA3) subiam 7,04%, a R$ 10,79, apagando as perdas registradas na véspera. Na segunda-feira (22), as ações ALPA4 fecharam com queda de 2,39%, a R$ 11,44, enquanto ALPA3 caiu 1,66%, a R$ 10,08. Isso representou uma redução de cerca de R$ 152 milhões em valor de mercado, segundo a Elos Ayta Consultoria.
Dessa forma, o preço da ação da Alpargatas já opera em linha com os preços do pregão da última sexta-feira (19), quando – antes da polêmica – havia fechado com os papéis ordinários (ALPA3) cotados a R$ 10,25 e os preferenciais (ALPA4) a R$ 11,72.
A controvérsia teve origem em um novo comercial da Havaianas estrelado por Fernanda Torres, lançado para a virada do ano. Na peça, a atriz afirma que não deseja que o público comece 2026 “com o pé direito”, propondo um jogo de palavras ao defender que o ano comece “com os dois pés”, em referência a atitude, movimento e entrega pessoal. A mensagem, porém, foi interpretada por parlamentares e influenciadores conservadores como uma provocação política.
Na peça publicitária, lançada para a virada do ano, a atriz afirma que não deseja que o público comece 2026 “com o pé direito”. A frase faz um jogo de palavras com a expressão popular e, em seguida, defende começar o ano “com os dois pés”, em referência a atitude, movimento e entrega pessoal.
“Desculpa, mas eu não quero que você comece 2026 com o pé direito. Não é nada contra a sorte, mas vamos combinar: sorte não depende de você, depende de sorte. O que eu desejo é que você comece o ano novo com os dois pés. Os dois pés na porta, os dois pés na estrada, os dois pés na jaca, os dois pés onde você quiser. Vai com tudo, de corpo e alma, da cabeça aos pés. Havaianas, todo mundo usa, todo mundo ama”, diz a atriz no comercial.
O jogo de palavras, porém, foi interpretado por parlamentares conservadores como uma provocação política.
Reação da direita
O ex-deputado federal Eduardo Bolsonaro publicou um vídeo nas redes sociais em que aparece descartando um par de sandálias da marca e afirmou que começaria o ano “com o pé direito, mas não de Havaianas”. Para ele, a campanha teria conotação ideológica e justificaria o boicote.
Eduardo afirmou que sempre enxergou a Havaianas como um símbolo nacional e disse ter se decepcionado com a escolha da garota-propaganda. Segundo ele, a campanha não teria sido casual e refletiria um alinhamento ideológico.
O ex-parlamentar citou nomes de pessoas condenadas pelos atos de 8 de Janeiro e acusou a atriz de defender prisões relacionadas aos ataques às sedes dos Três Poderes.
Já o deputado Nikolas Ferreira escreveu que “Havaianas, nem todo mundo agora vai usar”, reforçando o chamado para que apoiadores deixassem de consumir os produtos da empresa. Outros influenciadores e políticos alinhados à direita também passaram a criticar a campanha e a associá-la a um suposto posicionamento político da marca.
Fernanda Torres
Além do texto do comercial, críticos apontaram a escolha de Fernanda Torres como simbólica. Neste ano, a atriz venceu o Oscar por sua atuação no filme Ainda Estou Aqui, que retrata a luta contra a ditadura militar no Brasil, o que reforçou, para parlamentares conservadores, uma leitura política da campanha.
Até o momento, a Havaianas e sua controladora, a Alpargatas, não divulgaram comunicado oficial sobre o episódio.

