Boa parte do economistas acreditam que o Banco Central abriu a porta fazer uma pausa do atual de ciclo de corte de juros já na próxima reunião doo Copom, em junho. A percepção vem da análise da ata divulgada hoje da reunião do Comitê de Política Monetária realizada na semana passada e que decidiu pela redução do ritmo de corte na taxa Selic, dos 0,50 ponto percentual dos encontros anteriores para 0,25 p.p.
A comunicação do Copom adotou uma estratégia de expor os diferentes pontos de vista dos diretores e tentar amenizar as divergências que levaram a uma decisão dividida em 5 a 4 em favor do corte menor de juros, segundo os analistas.
Com isso, foi dada ênfase na citação que “todos os membros” do comitê veem a necessidade de uma política monetária restritiva e cautelosa e que não deveria ser fornecida qualquer orientação para a próxima reunião. Além disso, o documento afirmou que a taxa Selic terminal “será a que consolidará o processo desinflacionário e ancorará as expectativas de inflação em torno da meta”.
Na opinião da equipe de análise macro da XP, a ata reforçou a mensagem agressiva da declaração pós-reunião. Os cálculos internos que usam um modelo semelhante ao do Copom sugerem que uma taxa Selic igual ou superior à atual previsão de 10,0% seria necessária para trazer a previsão de inflação para 2025 à meta.
Isso, principalmente, porque a XP vê a previsão do mercado para 2025 subindo ainda mais nas próximas semanas. “Assim, ainda vemos dois cortes adicionais de 25 bps, elevando a taxa Selic para 10,00%. Ainda assim, o risco parece inclinado para cima. Pela leitura da ata, não se deve sequer descartar uma pausa na próxima reunião”, diz a análise.
Para Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter, a ata destacou também a piora na percepção sobre o risco fiscal como possível fator de desancoragem das expectativas de inflação.
A economista afirma que, mesmo com uma taxa Selic terminal estimada maior, ainda há espaço para cortes de 0,25 p.p.. Portanto, está mantida a expectativa de uma nova redução na próxima reunião.
“No entanto, o Copom se prendeu mais às expectativas de inflação do que à dinâmica da inflação corrente e os próximas passos da política monetária podem ficar condicionados a uma revisão positiva dessas expectativas. Vemos o risco de já haver uma pausa em junho”, alerta Rafaela.
Selic contracionista
A avaliação de Marco Antonio Caruso, economista chefe do Pic Pay, é similar. “Nosso cenário de Selic está sob revisão tendo em vista o tom dos documentos, consistentes com uma pausa unânime do ciclo de cortes já na próxima reunião”, prevê.
Para ele, a ata do Copom de hoje veio em busca de convergência, não só da inflação, mas dos argumentos dos que votaram por cortes de 25 p.p. e 50 p.p. Mas Caruso lembra que, mesmo o diretores que defenderam o corte maior compartilham de um mesmo cenário básico para a Selic terminal que ainda seria “suficientemente contracionista”, conforme o documento.
“A partir daqui, como em toda situação em que a credibilidade é colocada à prova, passam a valer mais as ações do que as palavras. Os argumentos em favor dos 50 pbs são tecnicamente válidos, mas também é razoável a suposta confusão gerada entre os analistas: todos os membros do Comitê compartilhavam de um mesmo entendimento sobre certos pontos, mas conseguiram entregar o maior dissenso possível nos votos”, comentou.
Leonardo Costa, economista da Asa Investments, por sua vez, observa que ata visou suavizar a divergência entre os membros do Copom, com a discussão sobre o custo de abandonar ou não o “guidance” nesta reunião.
“Também buscaram salientar o que há de consenso: a adoção de uma política monetária mais contracionista. O esforço de explicação quanto a divergência não nos parece ser suficiente para reduzir o aumento da incerteza no mercado, com o risco de uma composição do Banco Central mais ‘dove’ a partir de 2025”, avalia.
O Itaú partilha da mesma visão. “A A ata do Copom chegou bastante agressiva e abriu a porta para o fim do ciclo de flexibilização. Por enquanto, vemos o Copom entregando mais um corte de 25 pontos base na próxima reunião, entrando então em pausa prolongada, com a Selic a 10,25% ao ano”, prevê o banco.
Para o Goldman Sachs, apesar da votação dividida, a ata é distintamente agressiva. Na análise assinada por Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina do banco, ficou clara a unanimidade entre os diretores do firme compromisso de conduzir a inflação para a meta e de que é necessária uma política monetária mais contracionista e cautelosa para reforçar a dinâmica desinflacionária.
Ele cita ainda o consenso de que nenhuma orientação sobre decisões políticas futuras seria apropriada, face ao cenário global incerto e um cenário doméstico marcado por uma atividade resiliente e expectativas não ancoradas. Assim, a taxa terminal será aquela que consolidará não só o processo desinflacionário, mas também a ancoragem das expectativas de inflação em torno das metas.
“No geral, esperamos que o Copom reduza a taxa Selic em 25 pontos base na reunião de junho, com a totalidade dos dados e o equilíbrio geral dos riscos para a inflação ditando até onde o Copom pode ir com o ciclo de normalização das taxas. Nesta conjuntura, projetamos mais três reduções nas taxas de 25pb em 2024, elevando a Selic para 9,75%”, diz Ramos no relatório.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, também viu uma tentativa de mitigar as divergências entre os diretores na ata de hoje. “Para a próxima reunião, parece haver consenso em adotar uma abordagem mais flexível, possivelmente com um diminuição de 0,25%. É plausível supor que o texto tenha sido objeto de intensa discussão interna, visando transmitir a mensagem de unidade no Banco Central e rejeitando a ideia de uma divisão entre os membros em relação à aceitação de uma inflação mais alta”, diz.