Executivos de Azul, Gol e Grupo Abra, controlador da Gol, participaram de reuniões nesta quinta-feira, 23, no Ministério de Portos e Aeroportos para esclarecer os planos para uma possível fusão entre as duas companhias. A iniciativa foi anunciada em comunicado no último dia 15 e ainda depende de avaliação do Cade, o órgão de defesa da concorrência.
A reunião foi convocada pelo ministro Silvio Costa Filho, para entender o que ocorrerá com cada empresa caso a fusão seja aprovada. Pelo memorando de entendimentos assinado entre a Azul e o Grupo Abra, as duas marcas deverão ser mantidas, apesar da união administrativa e financeira.
O Cade tem prazo de 240 dias para analisar a operação, prorrogável por mais 90 dias.
Embora o mercado já especulasse há meses sobre uma potencial fusão, a entrada da Gol em um processo de recuperação judicial nos Estados Unidos e o anúncio de um plano de longo prazo de resgate financeiro haviam sugerido outro caminho. As duas empresas acumulam um patrimônio negativo (quando os compromissos superam o valor em ativos de uma companhia) de cerca de R$ 50 bilhões.
No dia em que a intenção de fusão foi anunciada pelo Grupo Abra e pela Azul, o presidente da Gol, Celso Ferrer, enviou um vídeo aos funcionários, ao qual o Estadão teve acesso, no qual reafirma interesse em restabelecer as finanças da empresa pela via da recuperação judicial.
“Esse é um negócio da Abra, que sendo uma empresa que investe em companhias, avaliou que poderia ser um momento de olhar mais detalhadamente para a operação da Azul. Não tem impacto na operação da Gol nem na nossa estratégia”, disse Ferrer.
Nos bastidores, pessoas a par das negociações afirmam que o interesse de fusão como forma de recuperação interessa mais à Azul do que à Gol, que já iniciou seu plano de restabelecimento por meio do Chapter 11, na Justiça americana.
A expectativa é de que a companhia comece agora a negociar com credores e arrendadores de suas aeronaves para voltar a apresentar seu plano de recuperação à Corte nos Estados Unidos em março.
Na semana passada, o diretor financeiro (CFO) da Abra, dona da Gol, Manuel Irarrázaval, defendeu, em entrevista ao Estadão/Broadcast, a fusão como uma forma de criar uma empresa aérea forte no Brasil.
O presidente da Azul, John Rodgerson, foi na mesma linha: “Uma empresa forte como a resultante dessa fusão, acho que qualquer governo deve ter orgulho”, disse.
Nos últimos dias, analistas alertaram para potenciais riscos de uma excessiva concentração, uma vez que ambas as empresas controlam cerca de 60% do mercado doméstico, o que pode ter efeitos sobre os preços das passagens aéreas.
O ministro de Portos e Aeroportos, no entanto, minimizou o problema e disse que pior seria se quebrassem. Ele disse não ver efeitos sobre os preços.
Procuradas, Azul e Gol não se manifestaram. O Grupo Abra confirmou, em nota, a reunião com integrantes do governo Lula.
“Como parte do esforço para manter todos os seus stakeholders informados, executivos do Grupo Abra estiveram reunidos hoje (23) com diferentes autoridades e reguladores numa agenda institucional para apresentar informações que já são públicas sobre o Memorando de Entendimento (MoU) não vinculante assinado com a Azul Linhas Aéreas”, diz a nota.