O governo da Itália chocou os mercados com um imposto inesperado sobre os lucros extras dos bancos, eliminando cerca de US$ 10 bilhões do valor de mercado dos credores do país.
O vice-primeiro-ministro Matteo Salvini anunciou um imposto de 40% sobre os lucros extras dos credores para 2023 na noite da última segunda-feira (7), como parte de um amplo decreto aprovado em uma reunião de gabinete de governo. Analistas do Citi estimam que isso eliminará 19% dos lucros do setor.
A taxa visa receitas de juros mais altas após aumentos de juros pelo Banco Central Europeu (BCE), de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto que não quis ser identificada por ser um assunto confidencial. O governo ainda não divulgou detalhes ou o texto do decreto que pode custar aos bancos cerca de € 2 bilhões (US$ 2,2 bilhões), de acordo com uma estimativa inicial de analistas.
A administração populista de direita da Itália está procurando uma maneira barata de financiar ajuda para famílias atingidas pela crise do custo de vida, incluindo cortes de impostos e apoio a hipotecas para proprietários de primeira viagem. No entanto, a medida requer aprovação do parlamento e pode ser alterada. Também poderia ser contestada nos tribunais, como ocorreu na Espanha.
Neste cenário, os bancos italianos registram o pior desempenho entre as ações europeias, liderando as quedas no índice Stoxx Europe 600 nesta terça-feira (8), com as ações da UniCredit SpA caindo até 6,7% e as da Intesa Sanpaolo caindo cerca de 8,6%. A queda nas ações bancárias eliminou até 9,5 bilhões de euros no valor de mercado dos credores italianos.
O índice de referência FTSE MIB da Itália caía 2,26% às 7h10 (horário de Brasília), liderando as quedas na Europa. O índice de bancos da zona do euro registrava perdas de 3,4%, a maior queda desde março.
John Bilton, chefe de estratégia global de ativos do JP Morgan Chase Bank, disse a Francine Lacqua, da Bloomberg TV, que a medida levanta preocupação “sobre as motivações da política econômica italiana”. Ele acrescentou: “É claro que isso vai dar aos investidores uma pausa para pensar quando se trata de precificar o risco de crédito italiano em relação ao risco de crédito alemão. Haverá alguns dias para ver como os mercados descontam isso.”
A medida ocorre logo depois que os bancos italianos divulgaram um grande conjunto de ganhos, com o Intesa e o Unicredit elevando seu guidance para o ano inteiro pelo segundo trimestre consecutivo, devido ao rápido aperto da política monetária do Banco Central Europeu. A receita líquida de juros da UniCredit, por exemplo, aumentou 42% no primeiro semestre.