A bolsa caiu mais de 1% e o dólar subiu nesta sexta-feira (18), com analistas avaliando incertezas em torno da ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifa de 50% ao Brasil, enquanto a operação da Polícia Federal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro concentrou as atenções do noticiário brasileiro.
O Ibovespa, referência do mercado acionário brasileiro, recuou 1,61%, a 133.381,58 pontos. Na semana, a bolsa acumula uma baixa de 2,06%.
Já dólar à vista subiu 0,72%, a R$ 5,5875 na venda, acumulando uma alta de 0,71% na semana.
As tensões comerciais entre Brasil e EUA continuam como principal ponto de atenção no mercado nacional, uma vez que os investidores monitoram a possibilidade de negociações antes da entrada em vigor da taxa tarifária anunciada por Trump em 1º de agosto.
Tarifas sobre o Brasil
Na última atualização do governo brasileiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou na véspera, em pronunciamento à nação, que a carta de Trump anunciando a tarifa é uma “chantagem inaceitável” e defendeu a soberania do Brasil na atuação ante empresas digitais, criticada pelo norte-americano.
“O Brasil sempre esteve aberto ao diálogo. Fizemos mais de 10 reuniões com o governo dos Estados Unidos, e encaminhamos, em 16 de maio, uma proposta de negociação. Esperávamos uma resposta, e o que veio foi uma chantagem inaceitável”, disse Lula
Do lado dos EUA, Trump, voltou a vincular na quinta-feira a adoção de tarifa sobre os produtos do Brasil ao julgamento por tentativa de golpe de Estado do ex-presidente Jair Bolsonaro, conforme carta enviada pelo norte-americano ao ex-mandatário brasileiro.
Na carta, cuja tradução em português foi publicada por Bolsonaro na rede social X, Trump fala de suposto “tratamento terrível” recebido pelo ex-presidente “pelas mãos de um sistema injusto voltado contra você”.
Nesta sexta, Bolsonaro foi alvo de uma operação da Polícia Federal determinada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e terá de usar tornozeleira eletrônica, além de cumprir outras medidas restritivas, informou a assessoria do ex-mandatário, em uma escalada dos problemas enfrentados por Bolsonaro com a Justiça.
Diante das incertezas sobre as tensões entre Brasil e EUA, os investidores optavam pela cautela, o que significava um posicionamento contido contra a divisa brasileira.
“Trump ontem voltou a vincular a aplicação de impostos pesados sobre produtos brasileiros aos processos judiciais que enfrenta Bolsonaro e por isso traz um pouco mais de receios e dúvidas entre investidores sobre possíveis soluções”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
“Ao vincular as tarifas a temas políticos e judiciários do Brasil, fica um pouco mais difícil tentar entender o que o Brasil pode oferecer ou negociar com os EUA para tentar resolver essas discrepâncias”, completou.
Com isso, os movimentos do real nesta sessão caminhavam na contramão de seus pares emergentes, como o peso mexicano e o rand sul-africano, que avançavam sobre o dólar.
Uma agenda vazia no Brasil, sem a divulgação de indicadores econômicos, também apoiava a cautela.
Tarifas e dados dos EUA
No cenário externo, o foco recente dos mercados globais tem sido a análise do impacto inicial das tarifas de Trump sobre a atividade econômica nos EUA, com dados recentes demonstrando uma certa resiliência da maior economia do mundo.
Na quinta-feira, dados mais fortes do que o esperado para vendas no varejo e uma queda inesperada nos pedidos iniciais de auxílio-desemprego fomentaram a percepção de força da economia dos EUA.
Os resultados afetavam as apostas de operadores sobre o espaço que o Federal Reserve terá para cortar a taxa de juros neste ano, com as expectativas de momento mostrando uma boa probabilidade de o Fed reduzir os juros em setembro, apesar da pressão de Trump por cortes imediatos.
O índice do dólar – que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas – caía 0,27%, a 98,236.