As duas principais autoridades na área de comércio exterior no Brasil e na Argentina vão se reunir pessoalmente pela primeira vez, desde a posse do governo do ultraliberal Javier Milei, na semana do dia 15 de abril. O encontro vai ocorrer em Buenos Aires.
Entre janeiro e março, as exportações do Brasil à Argentina caíram 28% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, em meio ao pesado ajuste econômico patrocinado por Milei. Mesmo assim, o país vizinho continua sendo o quarto maior mercado para produtos brasileiros — atrás apenas da China, dos Estados Unidos e da União Europeia.
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A secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, disse que considera “natural” uma queda dos embarques à Argentina diante de suas dificuldades econômicas. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê contração de 2,8% do PIB em 2024.
Tatiana conversará pessoalmente com o secretário de Comércio do governo Milei, Pablo Lavigne, economista que faz parte do grupo político do ex-presidente Mauricio Macri. Será a primeira tentativa de ajustar os ponteiros entre os dois maiores sócios do Mercosul.
Lavigne conduz uma tentativa da atual gestão de eliminar barreiras aduaneiras e licenças especiais para importações na Argentina — parte do comércio regulado no governo peronista de Alberto Fernández.
“A [nossa] primeira avaliação é positiva quanto ao fim das restrições administrativas”, afirmou Tatiana. “Agora, restam ainda incertezas cambiais”.
A secretária refere-se ao novo arranjo, estabelecido no governo Milei, em que o Banco Central fraciona em quatro parcelas a liberação de dólares para empresas pagarem suas compras no exterior. As liberações serão de 25% (em 30 dias), 50% (60 dias), 75% (90 dias) e 100% (120 dias) dos dólares necessários.
Há dúvidas, entre exportadores brasileiros, se o mecanismo realmente funcionará como prometido. Além disso, as empresas sentem os efeitos da demanda menor do mercado vizinho.
“Temos mantido regular com o setor privado”, afirma Tatiana, prevendo queda nas vendas de produtos brasileiros à Argentina em 2024, mas sem estimar percentuais.
Em 2023, as exportações ao país vizinho aumentaram 8,9%. “Mas, por trás de um número positivo, o cenário já era de dificuldades”, completa.
Isso porque o crescimento estava baseado em dois fatores muito específicos: soja e energia elétrica. Ambas têm explicação na seca histórica enfrentada pelo sócio do Mercosul.
No caso da soja, o Brasil exportou — atipicamente — grãos para a Argentina honrar contratos de fornecimento de óleo e biodiesel aos seus parceiros comerciais. No caso da eletricidade, houve transferência para dar um alívio aos reservatórios locais.
De acordo com a secretária, não está no radar nenhum tipo de linha de crédito ou mecanismo de financiamento novo para sustentar o comércio bilateral.
No ano passado, durante a gestão Alberto Fernández e antes da eleições presidenciais, isso foi tentado algumas vezes. No entanto, esbarrou na falta de garantias oferecidas pela Argentina.