União Europeia, México e Brasil têm armas e desafios diferentes diante das ameaças comerciais feitas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Em comum, os três parceiros dos EUA já estavam envolvidos em negociações com Washington quando as discussões foram atropeladas, nos últimos dias, pelo envio de cartas nada diplomáticas do presidente Trump.
Dos três, a União Europeia é a que dispõe de instrumentos mais poderosos. Afinal, o bloco europeu é, de longe, o maior parceiro comercial dos Estados Unidos, uma relação que envolve nada menos do que US$ 975,9 bilhões (R$ 5,4 trilhões).
Existe, de fato, um grande déficit comercial para os Estados Unidos, de cerca de US$ 235,6 bilhões – e, por isso, Trump ameaça o bloco com tarifas extras de 30%.
Entretanto, o tamanho e a importância da economia europeia permitem ao bloco resistir às ameaças e impor com mais tranquilidade as tarifas recíprocas. Tanto que alguns líderes – como Emmanuel Macron, o presidente da França – já reagiram e disseram que os europeus precisam se preparar para retaliações.
Diante desse cenário, a UE já está, inclusive, preparada para uma resposta. O bloco tem dois pacotes prontos que podem aumentar as tarifas para um total de US$ 93 bilhões em importações dos EUA.
Além disso, as ameaças de Trump podem ter um grande efeito no aumento da inflação americana, dado o altíssimo nível de importação de produtos da Europa.
O grande desafio dos europeus, no entanto, será manter a coesão entre os 27 países que compõem o grupo.
Em disputas como essa, as decisões europeias devem ser tomadas praticamente por consenso, até para manterem sua força.
No entanto, há sinais de que alguns países tendem a compor com Trump – até por questões ideológicas. É o caso, por exemplo, da Hungria, do autocrata primeiro-ministro Viktor Orbán, e da Itália, onde a primeira-ministra Giorgia Meloni já disse que prefere um caminho negociado com Washington.
Exposição do México e opções do Brasil
O México, por seu lado, é dos três parceiros o que tem menos força para resistir a Trump, dada a altíssima exposição de sua economia aos Estados Unidos.
O país é o quarto maior parceiro dos americanos, depois de União Europeia, Canadá e China. Mas a importância dos Estados Unidos para a economia mexicana é inegável.
Existem milhares de fábricas e outras empresas que operam no México apenas para produzir produtos para venda no vizinho do norte – beneficiando-se de acordos de livre comércio entre os dois países, assinados, inclusive, durante o primeiro mandato de Trump.
A dependência é tão grande que a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, se apressou a anunciar no próprio sábado (12) que aposta todas as suas fichas em um acordo.
A arma possível para o México é a promessa de fazer muito mais para controlar a longa fronteira que os separa dos americanos – especialmente com relação a conter a entrada de imigrantes e de drogas.
O desafio dos mexicanos é não buscar entregar mais do que tem capacidade e evitar que um possível acordo leve a uma espiral de demandas sucessivas por parte de Trump.
O economista Paul Krugman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia, disse em entrevista a emissora CNN esta semana que o presidente dos EUA sempre entende como sinais de fraqueza quando os países atendem rapidamente suas ameaças. Nesta situação, Krugman diz que Trump acaba sempre fazendo novas exigências – o que complicaria demais a situação do México.
Por fim, o Brasil se encontra em um estágio intermediário, já que o país não tem, obviamente, a força econômica da União Europeia, mas também não é tão vulnerável quanto os mexicanos.
O grande desafio brasileiro é determinar o que poderia ser negociado com Trump, uma vez que as exigências do republicano foram essencialmente políticas e não comerciais.
Fontes próximas da Presidência afirmam que o governo não vai negociar de forma alguma os pontos levantados por Trump em sua carta relacionados às big techs ou ao processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
E o governo nem poderia fazer isso, dado que as instituições democráticas brasileiras são independentes, como o Judiciário.
Restaria, então, algum tipo de negociação comercial – como as que já vinham acontecendo antes das ameaças de intromissão de Trump na democracia e nas instituições brasileiras terem sido feitas.
Nas negociações, o Brasil guarda entre suas cartas a possibilidade, sim, de impor tarifas recíprocas contra os Estados Unidos.
Segundo as fontes ouvidas pela imprensa, essas tarifas seriam desenhadas para atingir produtos pontuais dos EUA – aqueles que mais causariam impacto na economia americana e pouco efeito na inflação no Brasil.
Além disso, o Brasil tem um déficit comercial com os americanos — o que confirma que não existe nenhum motivo econômico para as tarifas.
Por ter usado as tarifas para um fim político, existe também a possibilidade de que as ameças de Trump sejam derrubadas na própria justiça americana, em ações movidas por importadores de produtos brasileiros.
Krugman e outro Nobel de Economia americano, Joseph Stiglitz, afirmaram à imprensa que a possibilidade de judicialização do assunto e as chances de derrota de Trump são reais.