Apesar de 2024 não estar sendo um ano positivo para o mercado de ações brasileiro, com o Ibovespa recuando até então cerca de 8,5%, as empresas do setor de carnes vêm conseguindo driblar o pessimismo. Os frigoríficos BRF (BRFS3), Marfrig (MRFG3) e JBS (JBSS3) figuram entre as maiores altas do Ibovespa, com ganhos de cerca de 37,8%, 18,2% e 16%, respectivamente, até o fechamento do pregão desta quarta-feira (29).
BRF
Em primeiro lugar, a BRF, desde que sua reestruturação começou a dar resultados, vem chamando a atenção do mercado. Seus números do primeiro trimestre foram considerados “históricos”, sendo que a ação subiu mais de 10% no pregão após a divulgação, com alguns mencionando que o turnaround foi “totalmente entregue”.
Desde 2022, a companhia vem mudando sua estrutura de capital, recebendo alguns aportes e mudando sua operação (reformulando, por exemplo, a Sadia).
Ademais, o momento também ajuda. O melhor preço das aves no mercado internacional, com a produção caindo, e o recuo do preço das commodities agrícolas, usadas como ração, ajudam, portanto, a impulsionar as margens da empresa uma pelo lado dos ganhos e outra, dos gastos.
Após o balanço do primeiro trimestre, o Bank of America chegou a elevar a recomendação de BRFS3 de underperform (desempenho abaixo da média do mercado, equivalente à venda) para neutra. A equipe de análise viu um “impulso de lucros mais construtivo, puxado principalmente pelos preços internacionais mais elevados do frango e pela contínua redução dos custos de alimentação”.
A XP apontou que o resultado foi “bem melhor do que o esperado”, com o Ebitda, por exemplo, de R$ 2,1 bilhões, 17% acima da sua projeção. “Os números fortes em um trimestre historicamente fraco sugerem que a empresa é menos cíclica do que se esperava anteriormente, especialmente conforme as vendas seguem sustentando boas margens. Isso deve contribuir para mais revisões positivas nos números da empresa, confirmando que nós e todo o mercado devemos reconhecer que se trata de uma nova BRF.”
Marfrig
A Marfrig, que vem em segundo lugar, foi na mesma onda. Com mais de 50% de participação na BRF, a subsidiária foi a principal responsável por ajudar o resultado da controladora no primeiro trimestre, com algumas outras operações, como a de carne bovina nos EUA, ainda impactando negativamente o resultado.
O ciclo de gado é algo natural que os frigoríficos enfrentam. Ele é explicado basicamente pela oferta e demanda com momentos que se alternam. Quando há muitas cabeças de gado disponíveis, os preços caem e os criadores perdem margem de lucratividade. Nesse momento, frigoríficos lucram mais, por conseguirem comprar animais por um preço mais em conta. Logo, no entanto, os criadores passam a diminuir sua criação, simplesmente porque não compensa. O número de cabeças vai diminuindo e o preço, subindo. Neste momento, frigoríficos tendem a ter resultados piores.
Apesar de a alavancagem ainda alta, por conta da aquisição recente de fatias na BRF, parte do mercado enxerga que a Marfrig deve, no futuro, se beneficiar dos bons resultados da adquirida. Os dividendos, por exemplo, devem ajudar a diminuir a alavancagem, fora a venda de algumas plantas para a Minerva (a compra dessas plantas por esta companhia, inclusive, explicam na maior parte o fato de ela estar fora da lista, com a alavancagem preocupando).
JBS
A JBS, por fim, também surpreendeu positivamente após o seu resultado anotado de janeiro a março, com as ações subindo quase 8% logo após a publicação.
A equipe de research do Itaú BBA, na ocasião, comentou que a JBS apresentou um trimestre forte, com Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado ligeiramente superior as estimativas.
Segundo o BBA, os ganhos em IFRS impulsionaram ainda mais os resultados da JBS, levando a um Ebitda ajustado consolidado (de R$ 6,4 bilhões) quase 25% acima da projeção do banco.
“Mesmo após o ajuste por esse efeito contábil, os resultados da JBS ainda ficariam ligeiramente acima da faixa superior do consenso”, destacam analistas.
Além disso, analistas mencionaram que as performances da US Pork, braço de proteína de porco nos Estados Unidos, e da Seara foram destaques, compensando o fato de a JBS Beef North America seguir com margens bastante pressionadas.
De qualquer forma, quanto ao ciclo de gado nos Estados Unidos, analistas enxergam também que o pior já passou. Apesar de a perspectiva ser por uma pressão contínua até 2025, o preço da cabeça de gado, provavelmente, segundo algumas visões, já atingiu o seu pico. Se isso se consolidar, tanto Marfrig quanto JBS devem ser beneficiadas.
Fonte: InfoMoney.