O governo da China anunciou na última quinta-feira (9) que vai endurecer regras e impor maior controle sobre as exportações de terras raras, minerais essenciais para a produção de tecnologias de ponta.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se mostrou irritado com a decisão, já que a China domina a produção desse tipo de mineral, e afirmou que os EUA estão calculando um “forte aumento” nas tarifas sobre as importações chinesas.
O incômodo de Trump com a dominância chinesa no setor não é novidade. Hoje, o mercado de terras raras é dominado quase exclusivamente pela China. Reduzir a dependência em relação a Pequim tem sido uma das prioridades da administração Trump.
Segundo dados da IEA (Agência Internacional de Energia), 92% da produção de terras raras acontece na China. A produção e refino de outros minerais críticos, como lítio e cobalto, também é dominada pelo país, ainda que em menor escala.
A IEA já classificou, em diversos relatórios, a dominância chinesa no setor como um risco geopolítico.
Esses minerais são utilizados em produtos que vão desde celulares até mísseis e aeronaves – um ponto sensível para os EUA, já que a supremacia militar do país no longo prazo poderia ser ameaçada caso Pequim tenha maior controle sobre esses insumos.
O Brasil, no entanto, detém a segunda maior reserva mineral de terras raras do mundo, segundo dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos, embora produza e refine quase nada atualmente.
O refino e processamento desses minerais é extremamente caro e demorado, o que dá às terras raras esse nome. Para evoluir no setor, são necessários investimentos bilionários, com retorno a longo prazo.
Autoridades brasileiras ouvidas pela reportagem, tanto do governo federal quanto do setor privado, veem na nova escalada entre China e EUA oportunidades econômicas e diplomáticas.
Elas acreditam que o Brasil pode se consolidar como fornecedor confiável de minerais críticos para o mundo, “roubando” parte do mercado hoje dominado pela China.
Considerando os altos custos de investimento, as autoridades avaliam que a escalada chinesa também pode atrair capital estrangeiro ao Brasil, impulsionando novos projetos e tecnologias.
Um acordo para o fornecimento seguro de terras raras aos EUA poderia, inclusive, fazer parte de um eventual entendimento com Donald Trump.
O governo, entretanto, rejeita a ideia de que o Brasil se torne um “mero exportador” de minerais críticos e estratégicos.
A ideia é que os recursos sejam utilizados também para desenvolver a indústria nacional, o que não exclui a possibilidade da exportação acontecer para parceiros comerciais estratégicos. A avaliação é de que a transferência tecnológica deve servir como base para qualquer acordo.
Recentemente, a australiana St George Mining, gigante do setor de mineração, anunciou a construção de um centro tecnológico em parceria com o CEFET-MG (Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais), em Araxá (MG).
O novo espaço contará com uma planta-piloto (versão reduzida de uma fábrica usada para testes) dedicada ao processamento de nióbio e terras raras.
A planta-piloto, que fará parte do St George Technological Centre, será instalada dentro do campus do CEFET em Araxá e terá capacidade para processar de 200 a 300 quilos de minério por hora, produzindo amostras de ferronióbio e concentrado de terras raras.
A St George vai financiar as obras e a compra dos equipamentos da planta-piloto, além de cuidar da operação nos primeiros três anos.
Esse período servirá para testar e otimizar os processos de extração e processamento dos minerais, garantindo que a tecnologia funcione de forma eficiente antes de ser aplicada em maior escala.
Nos dois anos seguintes, a empresa australiana e o CEFET vão operar juntos o centro tecnológico, garantindo a transferência de conhecimento e a capacitação da equipe brasileira.
Ao final do quinto ano, o CEFET assume totalmente a gestão e a operação do centro, consolidando a autonomia tecnológica nacional, um ponto sensível para o governo federal, que busca fortalecer a cadeia de minerais estratégicos e reduzir a dependência de tecnologia estrangeira.
Segundo a empresa, o governo vai conceder benefícios tributários que podem reduzir o custo total da operação em até 50%.