Esquerda e direita dobraram a aposta na polarização da responsabilidade pelo tarifaço imposto por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos.
Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) culpa o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Bolsonaro culpa Lula. Ambos os lados veem na crise uma oportunidade de inflar as bases e obter ganhos políticos.
Nesta sexta-feira (11), Lula chamou Bolsonaro de “covarde” e concentrou ataques em Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente e deputado federal licenciado, que tem sido cotado como presidenciável em 2026.
“É preciso criar vergonha na cara. Porque a coisa mais pequena de um homem é ele não ter caráter. Vocês viram ontem o filho dele na internet lendo a carta: ‘Ô Trump, ô Trump, sabe, fala que você não vai taxar se meu pai não for preso’”, declarou Lula em evento no Espírito Santo, onde posou com uma bandeira do Brasil ao lado de ministros e aliados políticos.
Governistas ressaltam as menções diretas a Bolsonaro e ao STF (Supremo Tribunal Federal) na carta de Trump para justificar uma motivação meramente política ao tarifaço.
Nas redes, o discurso é de que Lula seria o verdadeiro defensor da soberania e da economia nacional. Até ressuscitaram o boné com “o Brasil é dos brasileiros”, em oposição ao “Make America great again”, de Trump.
Aliados de Lula também veem uma janela para tentar reaproximá-lo do empresariado e dos ruralistas, que precisam do apoio do governo para reverter a situação.
O mais importante, porém, é tentar recuperar a popularidade para as próximas eleições presidenciais.
Já a oposição tenta calibrar como reagir.
O grupo responsabiliza a diplomacia do governo brasileiro pelas novas taxas e diz que a culpa é de Lula.
Aliados de Jair Bolsonaro reforçam que as ações contra o ex-presidente no Supremo são parte do motivo para as tarifas e cobram a votação da anistia no Congresso, como espécie de “exigência” feita por Trump para resolver a crise.
A avaliação, porém, é de que o PL (Partido Liberal), de Bolsonaro, está isolado e o tema não deve avançar.
Também não caiu bem para o campo da direita Eduardo Bolsonaro pedindo que a população agradecesse a Trump pela tributação.
Há quem avalie que ele “carimbou” o problema da taxa à família Bolsonaro com a atitude.
O deputado licenciado agora tentar colocar a responsabilidade em Alexandre de Moraes, ministro do STF. Chegou a dizer que “botar pressão” em Jair Bolsonaro ajudará em nada.
O ex-presidente, enquanto isso, reforça o discurso de suposta perseguição política, num embate direto com Lula.
Bolsonaro também investe em se mostrar próximo a Tarcísio de Freitas, com quem chegou a ir a uma churrascaria em Brasília.
Em meio à guerra de narrativas, o governador de São Paulo tenta equilibrar as falas entre a defesa de Bolsonaro e os interesses do setor produtivo, com certo pragmatismo.
Nesta sexta, além de destacar o contato com Bolsonaro, ele reconheceu o impacto negativo do tarifaço, dizendo que alguns setores como o agro e a indústria podem ficar “inviabilizados”.
Tarcísio, por fim, reconheceu a necessidade de negociações e se reuniu com o representante da Embaixada dos Estados Unidos para discutir o tema.
“Colocamos para o Bolsonaro as implicações políticas da decisão do Trump. Análise de cenários e riscos. Para o encarregado de negócios falamos do interesse do setor produtivo de SP”, disse.
“Temos empresas brasileiras exportadoras e alguns negócios ficam inviabilizados com essas tarifas. Alguns setores de alto valor agregado sofreriam muito. Mas é ruim como um todo para o agro e para a indústria. Vamos intensificar as conversas no tempo que temos para que as medidas passem a vigorar.”
A movimentação parece incomodar parte da direita.
Sem citar nomes ou Tarcísio, também presidenciável, o próprio Eduardo Bolsonaro criticou qualquer possibilidade de acordo que não passe por livrar os investigados por tentativa de golpe de Estado.