O dólar encerrou esta sexta-feira (18) em alta, na contramão do exterior, enquanto o Ibovespa caiu, à medida que as preocupações com a questão fiscal no Brasil superavam um cenário externo mais benigno para ativos de maior risco na última sessão de uma semana marcada por dados dos EUA e pessimismo pela China.
Os ativos brasileiros acumulavam perdas na esteira de nova abertura na curva de juros local, com os juros futuros subindo de forma sólida à medida que agentes financeiros optavam pela cautela e aversão ao risco na espera de medidas de contenção de gastos a serem anunciadas pelo governo.
No dia, a divisa norte-americana subiu 0,71%, cotada em R$ 5,7004. No acumulado da semana, a alta é de 1,51%.
Já o principal índice do mercado brasileiro, o Ibovespa caiu 0,22% no dia, aos 130.499,26 pontos, pressionado pela alta nas taxas dos contratos de DI, em pregão também marcado por noticiário intenso na China e vencimento de opções sobre ações na bolsa paulista.
Ainda assim, na semana, o Ibovespa subiu 0,39%.
Já o dólar subia 0,47%, cotado a R$ 5,681, a caminho de marcar a terceira semana consecutiva em alta, à medida que o risco fiscal no Brasil mais do que compensava o cenário benigno no exterior ao fim de uma semana marcada por dados fortes dos Estados Unidos e pessimismo ante a China.
Em São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participaram de evento de lançamento do programa Acredita, que o governo classifica como “o maior programa de crédito da história desse país”.
No cenário externo, os mercados globais digeriam novas notícias sobre os planos de estímulo da China e mais balanços corporativos do terceiro trimestre, com os resultados da Netflix ajudando a elevar ações de tecnologia pelo mundo.
As atenções também se voltam para a reta final da campanha eleitoral nos Estados Unidos, com investidores elevando as apostas em uma vitória do candidato republicano, Donald Trump, na disputa pela Casa Branca.
Cenário externo
Na visão da equipe da Ágora Investimentos, as notícias da China surpreenderam o mercado de maneira positiva, mas ruídos no fronte fiscal no Brasil continuam adicionando prêmios na curva de juros, afetando negativamente o apetite dos investidores.
Na China, o crescimento do PIB no terceiro trimestre desacelerou em relação ao segundo trimestre, para 4,6%, mas ficou um pouco acima da previsão de economistas 4,5%.
Dados sobre as vendas no varejo e a produção industrial na segunda maior economia do mundo em setembro também ficaram acima do esperado, enquanto o banco central deu início a esquemas para injetar US$ 112 bilhões naquele mercado de ações.
“Essa atitude do governo chinês acabou contribuindo para a melhora do desempenho das moedas emergentes, que até o presente momento quase todas as moedas vêm subindo frente ao dólar”, disse Marcio Riauba, gerente da Mesa de Operações da StoneX Banco de Câmbio.
Os ganhos de divisas emergentes também recebiam impulso das perdas da moeda norte-americana ante seus pares fortes.
Cenário doméstico
No cenário doméstico, por outro lado, o mercado ainda demonstrava preocupações com a questão fiscal, enquanto aguarda o anúncio de medidas de contenção de gastos, à medida que o Executivo busca caminhos para cumprir as regras do arcabouço fiscal.
A espera pelos desenvolvimentos fiscais gerava maior cautela em investidores nacionais, fazendo o real se desvalorizar ainda mais contra o dólar.
“Embora o fator externo tenha um peso significativo para as movimentações do câmbio, o tema fiscal segue com grande repercussão, pressionando os juros futuros e ainda permeando as incertezas sobre o quão efetivo serão os cortes de gastos do governo”, afirmou Riauba.
A curva de juros brasileira apresentava nova abertura nesta sexta, com os juros futuros subindo novamente para vários vencimentos em meio às preocupações com as contas públicas.