O dólar encerrou o ano em R$ 6,179, alta de 27,36% ao longo de 2024.
No último pregão do período, nesta segunda-feira (30), a divisa registrou queda de 0,22%, após o Banco Central (BC) vender US$ 1,815 bilhão à vista em um leilão realizado nesta tarde para conter a alta da moeda.
“Apesar da força no cenário global, apoiada pelas perspectivas de juros elevados por mais tempo nos EUA, o dólar tem uma sessão de queda nesta segunda-feira, apoiado por mais um leilão de venda da moeda pelo BC brasileiro, em dia de formação da PTAX e baixa liquidez”, avalia Paula Zogbi, gerente de Research da Nomad.
“Além do cenário complexo do ponto de vista fiscal, que vem pressionando o dólar, é comum a saída de dólares do país no final do ano, o que estimula ainda mais a atuação do Banco Central de injetar mais dólares na economia, no 9º leilão deste tipo em dezembro. Antes da atuação, o dólar subia.”
Antes da operação, o dólar era cotado próximo de R$ 6,24. Os investidores continuam digerindo a probabilidade de que o Federal Reserve (Fed) fará menos cortes na taxa de juros no próximo ano.
Já o Ibovespa subiu 0,01% no dia, fechando o ano com 120.283,4 pontos. O resultado, porém, representa queda de 10,08% em 2024.
O ano foi de altos e baixos para o principal indicador da bolsa brasileira. Enquanto o Ibovespa atingiu sua maior pontuação de todos os tempos e registrou a menor volatilidade histórica em 2024, o índice teve seu pior desempenho em dólares desde 2015 e apenas 18% de suas ações fecharam o ano positivas, segundo Einar Rivero, analista da Elos Ayta.
“Na B3, apenas três índices encerraram no azul, enquanto o cenário inflacionário trouxe o IGP-M ultrapassando o IPCA em janelas anuais após 21 meses. Foi também um ano de saída massiva de investidores estrangeiros da Bolsa, refletindo a volatilidade global e local”, afirma Rivero.
O analista da Elos Ayta ainda destaca que a Petrobras alcançou o maior valor de mercado da sua história, “destacando-se mesmo em um cenário desafiador”.
Apesar da queda no último pregão de 2024, Zogbi reforça que ainda há riscos para o câmbio no horizonte.
“Para a virada do ano, embora o real já esteja pressionado, há riscos altistas para a moeda americana. A perspectiva de maior inflação nos EUA e menos cortes nas taxas de juros americanas fortalecem o dólar globalmente, enquanto domesticamente será necessário um amplo compromisso, retórico e prático, com a sustentabilidade da dívida pública para evitar novas pressões sobre o nosso câmbio em 2025”, diz a analista da Nomad.
O mercado elevou pela décima primeira vez suas projeções para a inflação ao final de 2025, de acordo com a última edição de 2024 do relatório Focus divulgada pelo Banco Central nesta segunda-feira.
Segundo o levantamento realizado pelo BC junto a uma centena de economistas, a previsão para o IPCA ao final do ano que vem agora é de 4,96% ao ano, ante 4,84% na semana anterior, mantendo-se acima do teto da meta, que é de 4,5%.
Na frente de dados, o setor público brasileiro registrou em novembro um déficit primário de R$ 6,62 bilhões, em resultado um pouco melhor do que o esperado pelo mercado, enquanto a dívida pública recuou ligeiramente como proporção do PIB, mostraram números do BC nesta segunda-feira.
Cenário
Nos últimos meses, investidores têm se mostrado cada vez mais receosos com o compromisso do governo em equilibrar as contas públicas, particularmente depois do anúncio duplo pelo Executivo no fim de novembro de um pacote de contenção de gastos e de um projeto de reforma do Imposto de Renda.
Apesar de os três projetos que compõem o pacote terem sido aprovados pelo Congresso neste mês e de o debate sobre mudanças no IR ter sido adiado para 2025, agentes financeiros ainda questionam a efetividade das medidas na contenção das despesas e duvidam da determinação do governo em reduzir a dívida pública.
“A moeda brasileira vem se desvalorizando até o presente momento e grande parte é oriundo da volatilidade vista no segundo semestre do ano, causada pela grande incerteza fiscal e política que o Brasil vem atravessando, além da ampliação das expectativas inflacionárias”, disse Marcio Riauba, head da Mesa de Operações da StoneX Banco de Câmbio.
Na esteira do pessimismo do mercado, o dólar ultrapassou o valor nominal de R$ 6,00 pela primeira vez na história em novembro e atingiu a cotação máxima histórica de R$ 6,2679 neste mês.
O Banco Central realizou uma série de intervenções no câmbio nas últimas semanas a fim de reduzir a deterioração do real, vendendo um total de US$ 30,77 bilhões (US$ 19,77 bilhões à vista e US$ 11 bilhões com data de recompra), mas as operações tiveram apenas efeitos pontuais nas cotações.
No cenário externo, o ano de 2024 apresentou outros fatores desfavoráveis para a moeda brasileira, a começar já nos primeiros meses com a quebra das expectativas dos mercados globais por uma série de cortes na taxa de juros pelo Federal Reserve (Fed).
Em janeiro, operadores projetavam até seis reduções de juros pelo banco central dos Estados Unidos, acima dos três cortes — 100 pontos-base acumulados — que realmente ocorreram, o que provocou ganhos nos rendimentos dos Treasuries ao longo do ano, valorizando o dólar.
A moeda norte-americana também foi favorecida pela vitória do republicano Donald Trump na eleição presidencial dos EUA em novembro, uma vez que suas promessas de campanha, incluindo tarifas e cortes de impostos, são consideradas inflacionárias por analistas, o que pode manter os juros elevados no país.
Tensões geopolíticas também contribuíram para os fortes ganhos do dólar, com notícias vindas da guerra na Ucrânia e dos conflitos entre Israel e os grupos militantes Hamas e Hezbollah no Oriente Médio gerando temores de confrontos militares mais amplos.
O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,18%, a 107,790, mantendo-se próximo da maior cotação em dois anos de 108,54, atingida em 20 de dezembro.