O Fundo Monetário Internacional (FMI) está mais otimista com o Brasil e vê o país crescendo 1,7% neste ano, contra projeção anterior de 1,5%, conforme a atualização do seu relatório Perspectiva Econômica Mundial (WEO, na sigla em inglês), publicada nesta terça-feira (30).
Ainda assim, a economia brasileira deve desacelerar frente a 2023, quando deve ter avançado 3,1%, prevê o organismo com sede em Washington, nos Estados Unidos.
À frente, o FMI espera que o Brasil volte a acelerar o passo. O Fundo estima que o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresça 1,9% em 2025, projeção inalterada frente às estimativas divulgadas pelo organismo em outubro do ano passado.
“Muitas economias continuam a demonstrar grande resiliência, com o crescimento a acelerar no Brasil, na Índia e nas principais economias do Sudeste Asiático”, diz o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, em comentário sobre as novas projeções econômicas do Fundo.
Apesar disso, o Brasil deve crescer em ritmo aquém ao estimado para a América Latina em 2024, a despeito do corte na projeção do organismo para a região.
O Fundo vê a economia latina crescendo 1,9% neste ano, 0,4 ponto porcentual abaixo da sua estimativa anterior. Para 2025, o FMI espera que a América Latina retome o fôlego e cresça 2,5%, mesmo avanço projetado para o PIB do ano passado
Segundo o Fundo, a revisão regional é justificada pela expectativa de mais um ano de recessão na Argentina, devido ao “ajuste político significativo para restaurar a estabilidade macroeconômica”do país.
Sob o governo de Javier Milei, o país deve amargar uma queda de 2,8% neste ano, projeção piorada em 5,6 pontos porcentuais. No ano passado, a Argentina já havia encolhido 1,1%, conforme as projeções do organismo.
Para 2025, porém, o Fundo vê recuperação, com crescimento de 5%, uma melhora de 1,7 p.p. frente às projeções de outubro.
Por outro lado, o FMI destaca a melhora das projeções para grandes economias como a do Brasil e do México em 2024.
No caso da economia mexicana, o Fundo melhorou a sua projeção em 0,6 p.p., para uma alta de 2,7% neste ano.
O país tem se beneficiado de maiores volumes de negócios com países vizinhos, o chamado ‘nearshoring’, na esteira da pandemia e das tensões geopolíticas agravadas pela guerra na Ucrânia e, mais recentemente, no Oriente Médio.
Pouso suave global
O FMI também elevou a projeção para o crescimento econômico global, melhorando as perspectivas tanto para os Estados Unidos como para a China – as duas maiores economias do mundo – e citando uma redução da inflação mais rápida do que o esperado.
Gourinchas disse que o relatório atualizado mostra que um “pouso suave” está à vista, mas que o crescimento global e o comércio global ainda permanecem abaixo da média histórica.
“Achamos que a economia global continua a demonstrar uma resiliência notável e estamos agora na descida final em direção a um ‘pouso suave’, com a inflação diminuindo de forma constante e o crescimento se mantendo”, disse Gourinchas.
“Mas a base da expansão continua mais lenta e pode haver turbulência à frente.”
O FMI afirmou que a melhora das perspectivas foi sustentada por gastos públicos e privados mais fortes, apesar das condições monetárias restritivas, bem como pelo aumento da participação da força de trabalho, cadeias de abastecimento reparadas e preços mais baratos da energia e das matérias-primas.
O FMI prevê um crescimento global de 3,1% em 2024, 0,2 ponto percentual acima da sua previsão de outubro, e disse esperar um crescimento de 3,2% em 2025. A média histórica para o período 2000-2019 foi de 3,8%.
O Fundo projetou um crescimento do comércio global de 3,3% em 2024 e 3,6% em 2025, bem abaixo da média histórica de 4,9%, com os ganhos afetados por cerca de 3.000 restrições comerciais que foram impostas em 2023.
O FMI manteve a sua previsão de outubro de uma inflação global de 5,8% para 2024, mas reduziu a projeção para 2025 para 4,4%, de 4,6% em outubro. Excluindo a Argentina, que registrou um pico de alta de preços, a inflação global seria mais baixa, disse Gourinchas.
As economias avançadas deverão registrar uma inflação média de 2,6%, uma queda 0,4 ponto percentual em relação à previsão de outubro, com a inflação a caminho de atingir as metas dos bancos centrais de 2% em 2025.
Em contraste, a inflação média seria de 8,1% nos mercados emergentes e economias em desenvolvimento em 2024, antes de diminuir para 6% em 2025.
O FMI disse que os preços médios do petróleo cairão 2,3% em 2024, contra o declínio de 0,7% previsto em outubro, e que os preços deverão cair 4,8% em 2025.
Ataques no Mar Vermelho
O FMI disse que novos aumentos nos preços das commodities devido a choques geopolíticos, incluindo ataques contínuos ao transporte no Mar Vermelho, poderiam prolongar as condições monetárias restritivas.
Gourinchas disse a jornalistas que o FMI está acompanhando os acontecimentos no Oriente Médio, mas o impacto econômico mais amplo permanece “relativamente limitado”.
Os Estados Unidos tiveram uma das maiores elevações nas projeções atualizadas do FMI, que prevê agora alta do PIB de 2,1% em 2024, contra 1,5% em outubro. Para 2025 a expectativa é de desaceleração a 1,7%.
Gourinchas atribuiu a melhora ao suporte fiscal e aos gastos fortes do consumidor, mas disse que o FMI informou Washington que temia que alguns dos seus subsídios a produtores nacionais e outras políticas industriais possam violar as regras comerciais globais.
A zona do euro sofreu uma revisão para baixo e a expectativa agora é de crescimento de apenas 0,9% em 2024 e 1,7% em 2025, com a maior economia europeia – a Alemanha – registrando expansão de apenas 0,5% em 2024, contra taxa de 0,9% prevista em outubro.
O PIB da China deve crescer 4,6% em 2024, uma revisão para cima de 0,4 ponto percentual em relação a outubro, e 4,1% em 2025.
Gourinchas disse que o impulso refletiu um apoio fiscal significativo das autoridades e uma desaceleração menos severa do que o esperado decorrente do setor imobiliário.
Ele disse ainda que a expectativa é de que o Federal Reserve, o Banco Central Europeu e o Banco da Inglaterra mantenham as taxas de juros nos níveis atuais até o segundo semestre de 2024, com um declínio gradual esperado a partir de então.
Fonte: Reuters/ CNN/ Estadão