O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, pode alcançar 170 mil pontos até o final de 2026, segundo estimativas da XP. A nova previsão substitui a anterior, que apontava 150 mil pontos para o fim deste ano, e se baseia em um valuation considerado atrativo, ou seja, na relação entre o preço pago pelos investidores e o potencial de lucro das empresas. Atualmente, o índice é negociado a 9,3 vezes o preço sobre lucro (P/L) projetado.
Para os analistas, setembro foi um mês de fôlego extra para a Bolsa brasileira. Enquanto o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) deu início ao ciclo de corte de juros, investidores ao redor do mundo voltaram a buscar ativos de risco. O reflexo foi imediato: o índice EEM, que acompanha mercados emergentes, avançou 7% no mês, e o mercado brasileiro ganhou 5,6% em dólares, atingindo novos recordes em reais.
No acumulado deste ano, os ganhos são ainda mais expressivos. O Brasil soma alta de 41% em dólares, em linha com a valorização de países vizinhos como México (44%), Chile (37%) e Colômbia (52%). O conjunto dos emergentes, medido pelo mesmo índice, avança 29%.
Para os analistas da XP, embora o debate local ainda esteja focado em cortes da Selic (taxa básica de juros) e nas eleições, a força que tem levado a Bolsa a novos patamares vem em grande parte do ambiente global.
Bolsa fica em segundo plano
O movimento, no entanto, não dependeria apenas de investidores estrangeiros. Há também potencial para rotação do dinheiro local. Com a Selic atualmente em 15%, a renda fixa se tornou o destino preferido, deixando a Bolsa em segundo plano, segundo a corretora.
Dados compilados pela XP apontam que, hoje, os brasileiros acumulam mais de R$ 10 trilhões em ativos financeiros, mas apenas 6% estão em ações, contra 75% em renda fixa. A XP estima que, se os juros começarem a cair, a migração de recursos pode variar entre R$ 300 bilhões e R$ 600 bilhões, valor que, segundo cálculos dos analistas, equivale a até 26% do total de ações em circulação na B3.
A trajetória do Fed será peça-chave nesse processo. Os dados levantados pela XP mostram que, sempre que o banco central americano corta juros, o índice MSCI Brasil costuma responder positivamente: em média, sobe 2,8% em um mês, 19% em três meses e 39% em um ano. Embora nem sempre o resultado seja uniforme, a experiência indica que setores voltados ao consumo e ao mercado interno saem na frente, enquanto empresas ligadas a commodities tendem a ter desempenho mais tímido.