Cerca de 7 mil brasileiros resolveram deixar o país e tentar uma nova oportunidade de trabalho nos Estados Unidos entre janeiro e maio deste ano, segundo levantamento da AG Immigration, escritório de advocacia voltado para questões migratórias.
O número representa um aumento de 13% em relação ao mesmo período de 2023, quando 5.896 pessoas fizeram esse caminho.
De acordo com pesquisa anual da AG Immigration, escritório de advocacia imigratória dos EUA, que mapeia o mundo do trabalho estadunidenses para os imigrantes, o Brasil foi o sétimo país que mais teve cidadãos indo trabalhar nos EUA em 2023, recebendo em média um salário anual equivalente a R$ 29,2 mil (conversão cambial de R$ 5,25 para cada US$ 1).
De uma amostra de 709 empresas norte-americanas sondadas na pesquisa, 1271 imigrantes brasileiros foram contratados durante o ano passado.
Entre as 30 corporações nos Estados Unidos que mais buscaram por profissionais do Brasil estão nomes como Dakota Provisions, Microsoft, Google, Fogo de Chão, Amazon, McKinsey e Siemens.
As empresas norte-americanas que mais procuram por brasileiros são redes de restaurantes e lanchonetes (50,19%), oferecem serviços de zeladoria (44,62%), processamento de carne (41,43%), babysitter/serviço doméstico (30,67%), serviços computacionais (20,3%), indústria de autopeças (11,95%) e desenvolvimento de softwares (11,55%).
Apesar dos empregos de baby-sitter, serviços domésticos e atendimento em bares e restaurantes continuarem entre os preferidos dos brasileiros recém-chegados nos EUA, a CEO da AG Immigration, Leda Oliveira, argumenta que esse cenário tem mudado com a “ampliação do sistema de ensino superior brasileiro a partir dos anos 2000.”
“Se antes essas ocupações representavam quase que a totalidade dos brasileiros que vinham trabalhar nos EUA, a participação delas no conjunto total diminui bastante, dando mais espaço para os profissionais com formação mais avançada (…) Na pesquisa de 2022, por exemplo, a profissão que mais foi contratada foi a de desenvolvedor de software”, diz.
A busca por imigrantes nesses segmentos reflete a escassez de profissionais do próprio país para suprir a demanda, que é maior que a oferta, explica a executiva.
Ela pontua, também, que há necessidade por mão de obra qualificada em alguns segmentos do mercado de trabalho nos EUA, entre outros fatores que contribuem para o alto fluxo imigratório de brasileiros ao país.
O acesso à educação superior é um destes pontos.
Para Oliveira, o atual cenário de desafios na política e economia do Brasil impede o mercado doméstico de absorver esses profissionais.
“O que mais atrai os brasileiros é, de fato, o salário, juntamente com um poder de compra mais elevado, e a qualidade de vida, morando em um país que, em geral, têm níveis de violência menores do que os do Brasil”, aponta a executiva.
Já nos EUA, a situação é contrária. “Hoje, existem mais vagas abertas nas empresas americanas do que pessoas desempregadas no país”, afirma.
Ainda conforme os dados do escritório de advocacia, as cinco profissões mais procuradas por brasileiros nos EUA são de empresários/empreendedores (4,88%), engenheiros (2,34%), dentistas (2,23%), motoristas/entregadores (1,68%) e programadores/desenvolvedores/profissionais de TI (1,52%).
Empresas que mais contratam brasileiros nos EUA
No top 10 das companhias estadunidenses que mais contrataram brasileiros em 2023 estão a Dakota Provisions, United Maintenance Company, West Liberty Food, United Temps, Turkey Valley Farms, Microsoft, Pecan Deluxe Candy Co., New Angus, Google e Nash Organization Inc.
Maioria dessas empresas é da indústria de produção de proteína animal e do ramo de serviços de limpeza.
A líder da lista, a Dakota Provisions da área de produção de carne, admitiu 33 cidadãos do Brasil no ano passado, todos para a posição de embaladores e empacotadores.
Em seguida aparece a United Maintenance Company, especializada em fornecer serviços de limpeza e zeladoria, que contratou 32 brasileiros para atuarem como faxineiros, zeladores e camareiros.
Na terceira posição, a West Liberty Foods, empresa do estado do Iowa que produz proteína bovina e de frango, foi responsável por empregar 25 brasileiros para trabalharem na operação de suas máquinas de processamento de carne.
Como tem acontecido em outros anos, empresas de tecnologia dos EUA também se destacaram entre as dez que mais contratam brasileiros.
Em 2023, por exemplo, o Google empregou 17 profissionais da área para cargos de desenvolvedor de software e analistas de sistema.
A Microsoft também empregou brasileiros para as mesmas funções, contabilizando 18 contratações.
Outra companhia presente no top 10 é a churrascaria brasileira – com filiais ao redor do mundo – Fogo de Chão, que realocou 13 chefes de cozinha do Brasil para exercerem a mesma função nos EUA.
Também foi possível identificar pela pesquisa em quais locais a maioria dos brasileiros foi contratada.
O estado norte-americano com a maior concentração de profissionais do Brasil é a Flórida (30,65%), seguido por Massachusetts (12,31%), Califórnia (9,68%), Texas (6%) e Nova York (4,52%).
Segundo Oliveira, o motivo para a maior contratação de brasileiros nesses estados é um conjunto de fatores.
“Flórida, Califórnia e Texas se assemelham muito ao Brasil em termos climáticos, o que contribuiu para a concentração de grandes comunidades brasileiras nessas regiões. Junto com Nova York, são os quatro estados mais ricos dos EUA, o que resulta em maiores quantidades de empresas, contratações e assim por diante.”
Perfil do trabalhador brasileiro no mercado de trabalho norte-americano
O ano de 2023 bateu recorde em relação à presença de brasileiros em terras estadunidenses. O número de cidadãos do Brasil que obtiveram o green card chegou a inéditos 28.050, um aumento de 16% em relação a 2022.
A quantidade dos que se naturalizaram norte-americanos também foi alta, de 12.570, apenas menor que o número de 2022, de 13.203. De 2004 para 2023, esse número mais do que triplicou.
“Conversamos frequentemente com empregadores americanos para ajudar no processo imigratório de contratação de estrangeiros e o que ouvimos desses empregadores, é que o [trabalhador] brasileiro é muito atencioso, dedicado, esforçado e sabe se relacionar”, afirma a CEO.
A executiva diz que em termos de formação e ética profissional a mão de obra do Brasil costuma ser bastante elogiada no mercado de trabalho norte-americano, “especialmente em algumas áreas específicas, sobretudo, aquelas que envolvem atendimento ao público.”
Dos imigrantes brasileiros que chegaram aos EUA em 2023, a maioria é de mulheres (65%), com idades entre 35 a 44 anos (27%), pessoas casadas (68,34%) e que não concluíram o ensino médio (49,96%), como apontam dados do Departamento de Segurança Interna dos EUA e da AG Immigration.
Dos brasileiros que migraram para o país, a maior parte cursou Administração de empresas, engenharia elétrica/eletrônica, ciência da computação, engenharia mecânica ou Tecnologia da Informação.
O levantamento da AG Immigration ainda revelou onde esses profissionais se formaram.
Como nos anos anteriores, a Universidade de São Paulo liderou a lista, com 23 ex-alunos contratados por empresas dos EUA em 2023.
Atrás, estão a Faculdade Estácio (16 formandos), Unicamp (15 formandos), Unesp (13 formandos) e Mackenzie (12 formandos).
A pesquisa levou em conta imigrantes recém-chegados aos EUA como residentes permanentes, sem considerar os que obtiveram o documento do green card em anos anteriores.
As 20 empresas dos EUA que mais contratam brasileiros (de janeiro a maio de 2024)
- Dakota Provisions
- United Maintenance Company
- West Liberty Food
- United Temps
- Turkey Valley Farms
- Microsoft
- Pecan Deluxe Candy Co.
- New Angus
- Nash Organization Inc
- Universal Pure Cold Storage
- Fogo de Chão Holdings Inc.
- Fm Pizza of Carrollwood, Inc.
- HWS Staffing LLC
- Frank and Freddy Ventures
- Auria Old Fort, LLC
- Amazon
- Molded Fiber Glass Company
- Yanceys Fancy
- Tietex International LTD.