O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil desacelerou e avançou a 0,4% no segundo trimestre deste ano. O resultado foi divulgado nesta terça-feira (2) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A expectativa apurada em pesquisa feita pela Reuters era de uma expansão de 0,3% entre abril e junho sobre o primeiro trimestre. O resultado estaria relacionado à retração na produção agrícola e à produção industrial mais fraca.
O dado reflete uma perda de fôlego frente ao resultado do 1º trimestre, quando a economia avançou 1,3% (após revisão), com impulso do agronegócio.
Ainda assim, o dado superou a expectativa em pesquisa da Reuters de expansão de 0,3% e, segundo o IBGE, levou o PIB a atingir o maior patamar da série histórica, iniciada em 1996.
Na comparação com o segundo trimestre de 2024, o PIB teve avanço de 2,2%, em linha com a expectativa na pesquisa nessa base de comparação.
O enfraquecimento da economia no segundo trimestre já era esperado diante da política monetária restritiva, que inibe o crédito e o consumo. Por outro lado, o mercado de trabalho segue aquecido e deve continuar dando algum suporte à demanda.
O impulso dado pela agropecuária no início do ano se dissipou e o setor registrou no segundo trimestre retração de 0,1%, após crescer 12,3% nos três primeiros meses.
Ainda no lado da produção, os serviços –setor que responde por cerca de 70% da economia do país, segue mostrando resiliênciacom alta de 0,6%, acima dos 0,4% do primeiro trimestre.
A indústria, por sua vez, saiu de uma estagnação nos três primeiros meses do ano para crescer 0,5% de abril a junho, com destaque para o crescimento de 5,4% na atividade Indústrias Extrativas, enquanto as indústrias de Transformação e Construção foram afetadas pelos juros elevados.
A política monetária restritiva vai continuar impactando a atividade econômica no restante do ano, em linha com a necessidade do Banco Central de estabilizar os preços e as expectativas de inflação. Com a Selic em 15%, o BC já antecipou manutenção da taxa em patamar restritivo por período prolongado. Ainda assim, o mercado de trabalho robusto e o crescimento da renda devem evitar uma desaceleração mais profunda.

Consumo
Do lado da demanda, o consumo das famílias aumentou 0,5% no segundo trimestre, perdendo força ante a alta de 1,0% no período anterior em meio às restrições de crédito.
“O total de salários reais segue crescendo e há uma manutenção dos programas governamentais de transferência de renda, o que contribui para o consumo das famílias”, disse a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
O consumo do governo caiu 0,6%, enquanto a Formação Bruta de Capital Fixo, uma medida de investimento, teve retração de 2,2%, depois de ter expandido 3,2% no primeiro trimestre.
No setor externo, as exportações de bens e serviços aumentaram 0,7%, enquanto as importações diminuíram 2,9%.
“Está sendo um ano bom para o agro e para a indústria extrativa, que são commodities que o país exporta”, completou Palis.
O segundo semestre, entretanto, será marcado pelas incertezas em torno da tarifa de 50% adotada pelos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros, em vigor desde o início de agosto.
A taxa vale para uma série de produtos exportados aos EUA que representam cerca de 36% das vendas do Brasil ao país norte-americano, incluindo carne, café, frutas e calçados. Economistas e autoridades, entretanto, avaliam que o tarifaço não deve desestabilizar a economia do país, graças às amplas exceções à taxação e ao fortalecimento das relações comerciais com a China.
Com dificuldades para manter diálogo com os EUA, o governo brasileiro anunciou um plano de ações para apoiar setores afetados pelo tarifaço, incluindo crédito, prorrogações de tributos, estímulo à exportação e compras governamentais.
O presidente do BC, Gabriel Galípolo, já chamou atenção para uma visão crescente entre economistas de que a alíquota elevada impõe risco de desaceleração da atividade no Brasil.