A eventual elevação da taxa de juros pelo Banco Central (BC) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) tem tomado o horizonte de expectativas de grande parte do mercado.
Na última semana, o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, afirmou que um possível aumento da Selic está entre as opções na mesa para o Copom, que não vai hesitar em fazê-lo se for o passo necessário para perseguir a meta de inflação.
Analistas do mercado já indicaram que uma elevação da taxa de juros impactará negativamente diversos setores da economia, como varejo, indústria e construção civil. O efeito, além dos mencionados, também deve se manifestar no valor da dívida pública do Brasil.
No mês de junho, segundo dados do BC, a Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) chegou a R$ 8,7 trilhões. Este valor, segundo economistas ouvidos pela CNN, pode crescer ainda mais rapidamente caso ocorra um aumento da taxa de juros no Brasil.
O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega explica à CNN que deve haver um custo mais alto da dívida pública, já que o governo terá um gasto adicional em decorrência do aumento da Selic. Para cobrir este valor extra, será necessário pegar mais dinheiro emprestado.
“Como o custo aumenta, o Tesouro vai se endividar mais. O aumento da Selic tem impactos também na economia, porque encarece o crédito e reduz o consumo de pessoas físicas e capital de giro para as empresas”, completa o Nóbrega, que ocupou o Ministério da Fazenda durante o governo de José Sarney.
Ele pondera, no entanto, que o impacto da alta dos juros na dívida pública seria incapaz de impedir o BC de elevar a taxa Selic.
No mesmo sentido, a professora do Insper Juliana Inhasz diz que os efeitos têm relação também com os investimentos feitos pelos brasileiros.
Quem compra títulos pós-fixados do Tesouro Direto, por exemplo, recebe um valor determinado e outra quantia que depende de algo geralmente baseado na taxa de juros, explica Inhasz.
“A Selic mais alta acaba fazendo com que as pessoas desejem comprar esses títulos públicos, porque elas enxergam que, se os juros estão mais alto, o governo está mais arriscado, então elas querem um prêmio de risco maior.”
Isso se traduz, especialmente no caso das pós-fixadas, num custo maior da dívida pública, porque o governo terá que pagar mais caro para que as pessoas aceitem ficar com estes papéis de investimento.
Consequentemente, segundo a professora, isso sobrecarrega o custo da dívida ao longo do tempo, tornando-a mais cara ao governo.