Se por um lado, os especialistas apontam um mercado de trabalho aquecido no Brasil, com taxas de desemprego baixas e uma rotatividade maior de empregos, por outro, essa realidade não é a mesma encontrada por imigrantes que chegam ao país.
É o que mostra uma pesquisa da ONG Visão Mundial. O levantamento aponta que 67,4% dos imigrantes que vivem no país não se encontram inseridos no mercado de trabalho.
A ONG ouviu 264 pessoas nessa situação, em sua maioria venezuelanos, com foco nas cidades de Boa Vista (RR), Manaus (AM) e São Paulo (SP), também indicou que as mulheres são as mais impactadas: apenas 42% têm um emprego e aquelas que não conseguem são mães, em sua maioria.
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Para Angela Karinne Mota, gerente de projetos da Visão Mundial, os maiores desafios encontrados por essa parcela da população — que já soma 1,5 milhão — são o processo burocrático para regularizar a documentação necessária e a barreira de aprender uma língua diferente.
Além disso, Angela aponta que os imigrantes “precisam revalidar os certificados [de escolaridade] para serem inseridos com a experiência que chegam no nosso país”. Ela explica que os valores também são muito altos “tornando inacessível para o momento em que eles chegam”.
Anceliany Arbelay, 38, é venezuelana e sentiu esse processo na pele ao imigrar para o Brasil em 2022.
“Eu trabalhava 8 horas e 12 horas aos finais de semana, se eu falasse que não queria eles queriam descontar do meu salário porque eu não tinha os documentos, eu não tinha os direito da carteira, contratada pela CLT”, relatou.
A venezuelana, que por muito tempo ocupou a informalidade, conseguiu sua identidade no Brasil, o Registro Nacional Migratório (RNM), apenas 6 meses depois de chegar ao país.
E mesmo assim, ainda não conseguiu regularizar sua documentação escolar. Por isso, tem dificuldade para trabalhar na sua área de formação, de administradora financeira.
Realidade Frequente
85,3% dos entrevistados afirmaram que não estão trabalhando no mesmo setor de experiência de seu país natal, segundo a pesquisa da ONG.
A situação de trabalho e renda apontada foi de 62% para trabalho informal como diarista, 20% em trabalhos formais e 16% como empreendedor. A alocação dos imigrantes acaba se limitando aos serviços, como hotelaria, supermercado e indústria.
Daqueles inseridos no mercado de trabalho, 27% estão em processo de interiorização — em vagas de emprego sinalizadas em empresas que acolhem esses imigrantes. A iniciativa é coordenada pelo Governo Federal, em Roraima.
“Quando o imigrante, o refugiado é contratado, ele tem todos os direitos que nós nacionais brasileiros. Ele não difere de nada. O que ele não vai ter é o RG e nem o título de eleitor”, explica a gerente de projetos da ONG.
A informação disponível é também um empecilho. Anceliany conta que foi graças a uma amiga que a orientou que ela começou a dar entrada os processos legais.
A perspectiva de Angela vem com um pouco de esperança. “O Brasil está se preparando. Hoje ele está melhor preparado”, afirma.