O rombo estimado em R$ 9,2 bilhões a partir dos Correios e de outras estatais federais fez com que o governo alterasse a alocação de recursos no orçamento deste ano.
Segundo o relatório bimestral de avaliação dos ministérios da Fazenda e do Planejamento e Orçamento, a equipe econômica teve que remanejar R$ 3 bilhões para o governo conseguir entregar as contas dentro da banda da meta fiscal, de déficit primário de R$ 31 bilhões.
A mudança se dá especialmente em razão do prognóstico negativo dos Correios. O próprio Ministério da Fazenda não esconde mais a insatisfação com os resultados apresentados, que vão na contramão dos esforços para zerar o déficit da União.
“A situação dos Correios é muito ruim, e isso tem incomodado. Quando você olha do quarto para o quinto bimestre, o resultado é muito pior do que o esperado. O caso dos Correios nos alerta para a necessidade de acompanhar mais de perto e evitar que situações assim se repitam”, afirmou o secretário-executivo da pasta, Dario Durigan.
O número 2 de Haddad corroborou com o texto do 5º relatório bimestral, divulgado na última sexta (21), de que o aumento na projeção do déficit em R$ 3,7 bilhões decorre principalmente do impacto da reprogramação dos Correios.
“O rombo das estatais tem só aumentado, com trajetória crescente e preocupante. E os Correios foram um dos principais responsáveis por parte da deterioração dos resultados das estatais no relatório do 5º bimestre”, analisou, Débora Oliveira.
Para reverter o rombo, o programa de reestruturação dos Correios foi aprovado na semana. Entre as principais medidas estão o fechamento de até mil agências ineficientes, um programa de demissão voluntária de funcionários, venda de imóveis e outros tipos de corte de despesas, como a reestruturação dos planos de saúde dos trabalhadores remanescentes.
Ainda assim, a estatal disse que não vai abrir mão de um mercado no qual tem monopólio no Brasil: os serviços postais. No primeiro semestre do ano esse tipo de serviço custou à empresa R$ 5,4 bilhões, com déficit líquido de R$ 4,5 bilhões.
“A situação das estatais não está sofrendo a atenção necessária do mercado, talvez porque estejamos num momento de bom humor, com bolsa em alta e dólar em queda. O fiscal é dor de cabeça para 2026, embora o governo diga que está sob controle. O ideal seria privatizar as estatais mais deficitárias, pelo menos, mas creio difícil ver esse governo indo nessa direção”, afirmou Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Way Investimentos.
Caso as novas medidas não entrem em vigor e a situação dos Correios não seja revertida, o prejuízo em 2026 pode chegar até R$ 23 bilhões – dificultando ainda mais a tentativa do governo de ajustar as contas públicas zerar o déficit fiscal em 2026.

