A surpresa positiva dos dados da atividade de serviços em junho reforçam as expectativas dos economistas de que o PIB brasileiro no segundo trimestre de 2024 deve mostrar um desempenho semelhante aos dos primeiros três meses do ano.
Segundo os dados do IBGE, a economia brasileira cresceu 0,8% entre janeiro e março e o dado referente a abril e junho – que ainda será divulgado pelo instituto – deve ficar entre 0,8% e 1%. Isso coloca um viés de alta para as projeções do ano fechado na opinião dos especialistas.
Segundo Rodolfo Margato, economista da XP, ainda que o IBGE tenha divulgado hoje revisões de baixa para os dados de serviços em abril e maio – a PMS de maio, por exemplo, saiu de uma alta de 0,8% na comparação anual para uma queda de 0,1% -, isso não altera a visão de solidez do consumo das famílias no curto prazo, incluindo os gastos finais com serviços.
“Olhando para abertura da PMS, observamos um forte desempenho nos serviços de informação e comunicação e nos serviços prestados às famílias, que em boa medida refletem a força do mercado de trabalho, o nível ainda elevado de transferências fiscais e a expansão da massa de renda disponível”, comenta.
A XP prevê que setor de serviços cresça 3% em 2024, acima do avanço de 2,4% registrado em 2023, exatamente devido ao mercado de trabalho apertado e às altas transferências fiscais, que devem continuar a apoiar os gastos pessoais com serviços.
O XP Tracker para o PIB do 2º trimestre está em +0,8% na comparação com o trimestre anterior e em +2,4% na comparação com o mesmo trimestre do ano passado. “Nossa projeção para o crescimento do PIB em 2024, atualmente em 2,2%, está inclinada para cima”, segundo relatório.
“A despeito do choque de oferta negativo no Rio Grande do Sul, a economia brasileira manteve bom ritmo de crescimento”, diz Margato, que prevê uma variação mais perto de 2,5%.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, por sua vez, vê uma possibilidade de um PIB com um avanço um pouco acima de 1% no 2º trimestre, com estimativa de alta de 2,5% no ano. Ela destaca que os serviços prestados às famílias, considerados um importante termômetro do crescimento do PIB, registraram uma alta de apenas 0,3% no mês.
“Para o segundo semestre, projetamos uma desaceleração da atividade como um todo, o que deve fazer o setor de serviços andar de lado no restante do ano. Mesmo assim, acreditamos que o setor contribuirá para a expansão do PIB de 2024”, afirma.
Sem pressão na inflação
Já André Valério, economista sênior do Inter, afirma que a forte alta de 1,7% no volume de serviços em junho surpreende, considerando que a expectativa do mercado era de avanço de 0,8%. Mas ele lembra que, em parte, o avanço se explica pela fraca base de comparação do mês anterior, cujo volume havia recuado 0,4%.
“Em meio à inflação mais resistente, especialmente a inflação de serviços, um forte avanço do setor preocupa. Entretanto, o avanço de junho se deve muito mais às atividades ligadas à oferta de serviços, do que as ligadas à demanda”, pondera.
Ele destaca que os principais contribuintes para o resultado do mês foram os serviços de transportes e os de informação e comunicação, enquanto os serviços prestados às famílias, mais relacionados com o poder de compra delas, foi o que teve a menor contribuição, com avanço no mês de apenas 0,3%.
“Portanto, o resultado de junho indica mais uma normalização do que uma reaceleração, o que poderia ligar o sinal de alerta em relação à inflação. De fato, o crescimento acumulado em 12 meses desacelerou em junho, indicando a continuidade da normalização no volume de serviços, que desde a reabertura da economia no pós-pandemia tem desempenhado bastante bem.”
Na opinião do Bradesco, o crescimento significativo em junho aponta para um PIB crescendo num ritmo parecido com o verificado no primeiro trimestre do ano. “Além disso, nossa Pesquisa Empresarial sugere que a economia mantém esse dinamismo nos primeiros números referentes ao terceiro trimestre. Nossa projeção de crescimento da economia, em 2024, de 2,3%, possui viés de alta.”