A startup manauara AeroRiver (barco voador, na tradução do inglês) chama atenção internacionalmente a partir da participação no Web Summit Lisboa, principal evento de tecnologia e inovação do mundo. O motivo é o Volitan, barco adaptado às condições operacionais do território amazônico que pode sair de cinco a dez metros do chão.
O diretor-técnico do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Bruno Quick, apresentou a iniciativa no Pavilhão Brasil junto ao programa Inova Amazônia, que inclui projetos de bioeconomia que trabalham com alimentos, cosméticos, energia verde, biotecnologia, bioplástico, costrução, agricultura, ecoturismo, química e biomateriais, indústria de moda e logística, entre outras.
“A região amazônica é gigantesca, só que não tem estradas que conectam as cidades, o transporte aéreo é muito caro e a maioria das cidades não têm aeroportos. Então a solução que sobra para a população se locomover são os barcos”, explica Lucas Guimarães, diretor-executivo da startup.
Funcionamento
O Volitan, que está sendo projetado, terá 18 metros e a capacidade de transporte de dez passageiros ou o equivalente a uma tonelada em carga, com foco em superar as barreiras logísticas da Amazônia com sustentabilidade. A velocidade de cruzeiro é de 150 km/h, o que é três vezes superior às lanchas mais velozes no mercado. Ele pode percorrer até 450 km sem reabastecer.
A decolagem e pouso serão feitas nos rios, utilizando o casco desenvolvido para esse propósito, com um gasto de combustível próximo ao de um barco e 40% mais econômico e eficiente do que uma aeronave tradicional que se encaixaria na mesma categoria. Além disso, o veículo emite menos gás carbônico do que embarcações e aeronaves (movido a diesel, mesmo combustível dos barcos que operam na região).
Segundo a startup, o Volitan funciona por meio do “efeito solo”, explicada por princípios aerodinâmicos, onde o escoamento de ar ao redor de um corpo é interrompido pelo solo. O efeito faz com que a aeronave seja mais eficiente voando perto do chão.
“Uma outra grande vantagem desse veículo é a independência sazonal à região. Isso quer dizer que ele está pronto para operar até mesmo na época de seca dos rios podendo, portanto, manter a regularidade no transporte de pessoas e cargas de toda a Amazônia, sempre com a mesma velocidade”, aponta o projeto.
Regulamentação
A regulamentação dos veículos de efeito solo acontece desde 2003, pela Organização Marítima Internacional (IMO). Segundo o código de segurança, estes veículos são reconhecidos como marítimos de alta velocidade e são certificados como tal. Por conta disso, não apresentam necessidade de certificação pelas autoridades aeronáuticas.
Isso faz com que custos de certificação e custos operacionais sejam menores quando comparados a aviões. A proposta do Volitan é conseguir a certificação marítima “B” de WIG’s (asas em efeito solo, do inglês wings in ground-effect), que permite o alcance de 150m acima do chão.
Brasil na Web Summit Lisboa
Ao todo, foram aproximadamente 560 projetos participantes do evento em busca de parcerias. A maior conferência de tecnologia do mundo conta com mais de mil investidores e delegações de 160 países. Com o Web Summit, a startup manauara espera alavancar o projeto no Brasil e também propiciar a entrada no mercado europeu.
A amazonense AeroRiver está entre as 85 startups selecionadas pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e expõe a iniciativa até esta quinta-feira (16). A comitiva foi organizada em parceria com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Ministério das Relações Exteriores (MRE) e a Embaixada do Brasil em Lisboa.
A participação acontece por meio do programa Inova Amazônia, estratégia do Sebrae para fomentar, apoiar e desenvolver pequenos negócios, startups e ideias inovadoras alinhadas à bioeconomia, que com atuação direta ou indireta na preservação ou uso sustentável dos recursos da biodiversidade amazônica.
Entre as empresas que fazem parte do programa, além da AeroRiver, estão a Hylea, que se dedica a pesquisar e desenvolver maneiras alternativas de obtenção de ibogaína, planta amazônica que possui uma substância eficaz no tratamento de desordens psiquiátricas e neurológicas; e a Amaztrace, que criou uma plataforma de rastreabilidade, garantindo uma cadeia de suprimentos transparente e sustentável na Amazônia, com proteção ambiental e o aumento de renda para os produtores.