Capitão do Vasco na Copinha, Lucas Eduardo publicou uma carta neste domingo, após a eliminação da equipe na competição. O jogador lamentou o ocorrido durante entrevista ao SporTV, na qual foi atingido por uma garrafa, e revelou que foi vítima de racismo.
Segundo ele, durante a entrevista, foi possível ouvir gritos de “macaco” vindos da arquibancada.
Leia a carta na íntegra:
“Por Lucas Eduardo,
O dia 13 de janeiro de 2024 tinha tudo para ser perfeito em minha mente: comemorava meu aniversário de 20 anos, estava em campo em jogo transmitido ao Brasil e ao mundo e com a braçadeira de capitão do Vasco da Gama. O cenário para uma vitória, que consagraria nossa classificação, era perfeito.
Como eu disse: tinha tudo para ser perfeito. Porém, a gente aprende a duras penas que a vida não é feita de caminhos perfeitos.
Neste 13 de janeiro de 2024, tive a derrota mais dolorosa da minha carreira em todos os cenários possíveis.
Por isso, quero começar esse texto me desculpando com os torcedores do Vasco. Sei o quanto essas derrotas afetam vocês e o quanto dói. Sou um jovem jogador em busca do meu sonho, jogando em um clube Gigante do nosso futebol e sei o quão honrado sou por estar aqui. Por isso, ser eliminado da maneira como fomos pelo Vitória, na Copa na São Paulo, me machuca muito.
Cada vez mais, esquecemos que futebol é alegria, é família e é a oportunidade de vivermos intensamente uma paixão por um time do coração. Para mim, como atleta, é o sonho e a mais real oportunidade de mudar a história e a trajetória da minha família.
Porém, esses valores, a cada dia, se perdem diante do cenário desumano e da falta de respeito.
Neste mesmo dia 13 de janeiro de 2024, no dia em que completei 20 anos e que tinha tudo para ser perfeito, eu senti vergonha, medo e decepção em estar presente neste cenário dos meus sonhos, que é o estádio de futebol.
Ao final da partida, alguns “torcedores” atiraram uma garrafa em mim enquanto dava uma entrevista para explicar nosso infeliz resultado. Ao mesmo tempo em que eu falava, ouvi também gritos como: “macaco”.
No dia que tinha tudo para ser perfeito, o respeito e a alegria perderam para a violência e o ódio. E desta vez aconteceu comigo.
Neste dia, foram gritos racistas e uma garrafa atirada em mim. Se isso já me assustou, eu fico a pensar: qual será a tragédia que irá acontecer amanhã para isso acabar?
Por fim, faço questão de dizer: o Vasco é Gigante, com uma história linda de pioneirismo na luta pelo respeito. Para se dizer torcedor deste clube, é preciso entender esse valor. Acima de tudo, respeito a todos, independente de raça, opção e/ou religião.
O dia não foi perfeito. A cicatriz deste dia estará guardada em todos os dias da minha vida. E o sentimento que levarei a partir de hoje é: o sonho não acabou, a dor do presente será a conquista do amanhã.
Obrigado,
Lucas Eduardo
13 de janeiro de 2024
Guarulhos, SP, Brasil”
Fonte: Globo Esporte