Uma classificação emocionante de Libertadores, com gol no fim. O cenário conhecido e valorizado pelo torcedor do Corinthians, desta vez, vem acompanhado de um sinal muito perigoso para a temporada de 2025. Para realmente confirmar o planejamento e brigar por títulos, Ramón Díaz e comissão técnica devem corrigir o equilíbrio do time, especialmente na parte defensiva.
Os erros defensivos quase provocaram um dos maiores vexames da história do Timão, que foi salvo por um gol no fim de Yuri Alberto, responsável por assegurar a vitória por 3 a 2 sobre a Universidad Central, da Venezuela, na Neo Química Arena, nesta quarta-feira.
Na soma dos dois confrontos, foram três gols sofridos contra o sexto colocado do Campeonato Venezuelano, uma equipe que pela primeira vez aparecia no cenário mais nobre do futebol sul-americano. Na temporada, o Corinthians foi vazado 16 vezes em 14 partidas.
No auge de 2024, o Corinthians de Ramón Díaz se defendia muitas vezes com a bola, com tomadas de decisão certas e controle do jogo. Algo que faltou no primeiro mata-mata do ano. Um time acelerado demais, ansioso e errático, justamente sob pressão.
Cenário preocupante para abrir a série de jogos decisivos e às vésperas do fim da janela de transferências, na sexta-feira. Somente Fabrizio Angileri, para a lateral esquerda, deve chegar. Pouco diante dos sinais exibidos pelo campo.
O Corinthians cumpriu a obrigação e evitou uma queda que mataria o ano da equipe, mas os sinais são cada vez mais claros sobre quais passos devem ser dados para o retorno do protagonismo no país. E isso vale para jogadores, comissão técnica e diretoria.
Erros defensivos quase custam o ano
A mobilização para a partida, diante da atuação na Venezuela, era grande a partir do amargo empate por 1 a 1 no jogo de ida, marcado por uma postura criticada publicamente até por atletas e comissão técnica nos dias anteriores.
Bastaram dois minutos para o Corinthians dar uma resposta positiva, acuar a UCV e abrir o placar com Yuri Alberto, em grande jogada de Carrillo, que relembrou os tempos de ponta direita.
A expectativa gerada pelo gol logo cedo era de imposição técnica do Corinthians sobre os venezuelanos. Entretanto, os erros defensivos que vêm minando a equipe desde o início da temporada mudaram todo o cenário do decisivo confronto.
Menos de cinco minutos após abrir o placar, o Timão se viu pressionado. João Pedro rebateu mal, e Matheus Bidu deixou grande espaço nas costas da lateral. Zapata recebeu com enorme liberdade e cruzou na medida para Cuesta empatar.
O surpreendente gol dos venezuelanos transformou o ambiente em campo. A equipe de Ramón Díaz passou a ter pressa, acelerar as jogadas e errar demais. O time se pilhou, como nas reclamações após Silva ser atingido por um copo de água na cabeça, e se desorganizou. Os espaços cedidos tornavam o adversário muito mais perigoso do que realmente era.
Mesmo assim, a diferença técnica favorável ao lado brasileiro apareceu. Primeiro na defesa, aos 34 minutos, quando Hugo Souza salvou o time. Depois, aos 40, no ataque: Memphis recebeu no meio de alguns marcadores e achou ótimo passe para Matheus Bidu fazer 2 a 1.
O cenário de tranquilidade voltava, mas por pouco tempo e por consequência de outra falha defensiva. Após fazer outra grande defesa, Hugo Souza saiu muito mal do gol em cobrança de escanteio aos 44 minutos, e Adrián Martínez igualou novamente o confronto.
O retorno do intervalo mostrou um Corinthians melhor, próximo do esperado diante de um duelo contra um rival tão abaixo tecnicamente. Com menos de dez minutos, o Timão transformou o volume em chances criadas. Memphis, por exemplo, parou duas vezes em grandes defesas do goleiro Miguel Silva.
Todavia, o nervosismo com o empate momentâneo atingiu naturalmente os jogadores do Corinthians. A pressão jogava contra, e Hugo Souza voltou a salvar a equipe em chute de fora da área aos 25 minutos da segunda etapa. O Timão, ansioso, trocava passes, tentava, mas pouco criava.
A dificuldade apresentada pelo próprio time contra os venezuelanos gerou um jogo acelerado e de muitos erros, conforme o tempo avançava. O nervosismo era evidente, enquanto os visitantes trabalhavam com tranquilidade e transformavam o jogo decisivo em um ambiente à vontade para um candidato a zebra.
Hugo Souza precisou salvar a equipe em chute de fora da área antes de o Corinthians evitar o vexame com Yuri Alberto (de novo). Aos 43 minutos, o camisa 9 aproveitou cruzamento de Garro para acertar belo chute de canhota, de prima, para classificar o Timão e assumir a artilharia da temporada com cinco gols.
A festa foi enorme, evidentemente. Porém, o recado final destoava da empolgação coletiva pela classificação.
A noite de quarta-feira terminou com cobranças por parte de torcedores, que sequer ameaçaram promover o tradicional “poropopó” de comemoração, e preocupação com uma equipe frágil em aspectos punitivos no mais alto nível.
Como declarou Memphis, é hora de o Corinthians ter humildade, reconhecer os erros e se reorganizar em busca do equilíbrio (tático, técnico e psicológico) nas próximas seis finais que potencialmente terá pela frente.