O esporte brasileiro eternizou quatro grandes ídolos nacionais no Hall da Fama do Comitê Olímpico do Brasil (COB). Em uma emocionante cerimônia realizada na noite de terça-feira, 13, no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, foram homenageados Daiane dos Santos, da ginástica artística, Edinanci Silva, do judô, Gustavo Kuerten, do tênis, e Afrânio Costa, do tiro esportivo (in memoriam). Os quatro novos integrantes foram escolhidos em 2024, após aprovação em Comissão Avaliadora.
Em uma noite repleta de recordações dos feitos históricos dos ex-atletas, a cerimônia reuniu não somente os homenageados, mas também seus familiares, outras lendas do esporte brasileiro e fãs.
“Se queremos que o Brasil seja uma nação esportiva, para um dia ser uma potência olímpica, não podemos apagar a nossa história. É ela que nos mostra o caminho da vitória e é feita de conquistas de nossos ídolos, nossos heróis olímpicos. São eles que fortalecem os valores olímpicos de excelência, amizade e respeito. A presença de tantas personalidades nesta cerimônia é a prova da união e do espírito da comunidade que nos move”, declarou Marco La Porta, presidente do COB.
O primeiro homenageado da noite foi Afrânio da Costa (1892-1979), do tiro esportivo. Afrânio foi responsável por conquistar a primeira medalha olímpica da história do País nos Jogos de Antuérpia, em 1920. Dono de uma prata no tiro esportivo na Olimpíada do Rio, em 2016, Felipe Wu leu um texto em homenagem ao pioneiro.
No caso de Afrânio, a honraria foi entregue à sua sobrinha neta Cristina Ferraz, que recebeu a placa de homenagem das mãos de Jackie Silva, campeã olímpica em Atlanta-1996 e também integrante do Hall da Fama.
“É com muita alegria que estou aqui, representando toda a família, recebendo essa homenagem muito merecida ao meu querido tio Afrânio. Além de muitos troféus, títulos, muita dedicação ao esporte que ele escolheu, ele foi brilhante. Nosso primeiro medalhista olímpico do Brasil, muito importante na nossa história olímpica. Eu agradeço muito ao Comitê Olímpico do Brasil e a todos os organizadores do evento”, disse Cristina.
“Tenho certeza de que se ele pudesse estar aqui pessoalmente, ele diria uma coisa que eu ouvi muito ele dizer: todas as conquistas, medalhas, troféus, tudo que ele realizou na sua trajetória como atleta olímpico, ele dedica ao Fluminense Football Clube”, concluiu.
História nos tatames
Logo depois, foi a vez da judoca que marcou a história do esporte nacional como exemplo de determinação e coragem. Edinanci Silva foi a primeira judoca brasileira a participar de quatro edições de Jogos Olímpicos: Atlanta-1996, Sydney-2000, Atenas-2004 e Pequim-2008. Ela se destacou em mundiais e pan-americanos enquanto enfrentava desafios para além do tatame.
Campeã olímpica em Paris-2024, a judoca Bia Souza foi chamada ao palco para conduzir a homenagem. A placa com suas mãos eternizadas foi entregue por Emanuel Rego, campeão olímpico no vôlei de praia e diretor-geral do COB.
“É uma felicidade enorme estar aqui, porque é muita luta, muita entrega para a gente chegar numa competição de quatro em quatro anos, entrar no tatame e fazer quatro minutos de luta, muitas vezes vira apenas 30 segundos, às vezes 15 segundos. Foi muita batalha e eu só tenho a agradecer ao COB por acreditar todas as vezes que eu estive lá representando o país, à CBJ [Confederação Brasileira de Judô] também, que acreditou no meu sonho, e a todos os técnicos que participaram da minha carreira, em especial a tia Rose [Rosicleia Campos] que está aqui”, agradeceu Edinanci, que foi aplaudida de pé pela plateia.
“Muito obrigada por permitir que mais uma história de uma nordestina possa acompanhar a história olímpica do país”, finalizou a ex-judoca.
Memórias no saibro
Responsável por uma das comemorações mais icônicas do esporte brasileiro, o tricampeão de Roland Garros Gustavo Kuerten foi o terceiro homenageado da noite. O bicampeão olímpico da vela Robert Scheidt foi o responsável por celebrar a trajetória do tenista que foi número 1 do mundo.
Com muito bom humor, Guga subiu ao palco e iniciou seu discurso “O tempo vai passando, a gente vive esses momentos e a pergunta continua ‘como é que pode aquele menino magrelo e desengonçado ter feito isso’”, falou o ex-tenista, que fez questão de lembrar das pessoas especiais que passaram pela sua vida, como o pai, “um visionário que trouxe raquete de tênis para Florianópolis em 1980”, e seu técnico Larri Passos, sua mãe e sua avó no discurso.
“Quem ainda está aqui no dia a dia do esporte, podendo aproveitar, divirtam-se. Aproveitem mesmo todos os momentos e, se possível, valorizem a importância da influência que vocês têm ao emocionar e incentivar as pessoas”, finalizou.
Brasileirinha
Para encerrar a noite, chegou a vez de Daiane dos Santos. Ela participou de três edições de Jogos Olímpicos e foi responsável por mudar o rumo da ginástica artística brasileira. Muito emocionada, a medalhista olímpica Jade Barbosa leu uma homenagem para a colega.
“Eu me sinto lisonjeada por estar aqui hoje representando a ginástica, o esporte brasileiro nessa constelação de grandiosos atletas que me inspiram, que admiro, respeito, não só pelos feitos esportivos, mas pelo exemplo que são fora das arenas esportivas também”, falou Daiane.
“Eu quero agradecer às minhas famílias. Primeiro, a minha família de sangue. A família que é minha raiz, minha base, minha estrutura e me mantém de pé em todos os momentos. E hoje, aqui, eu quero agradecer à minha avó materna que está aqui comigo. Obrigada por tudo que a senhora fez por mim. Obrigada por tudo que vocês, nossas avós, fizeram por nós. Eu só sou porque vocês foram, vó. E agora eu quero agradecer à família que Deus colocou no caminho da vitória: o esporte, a ginástica, as irmãs que Deus me deu, as amigas, todos os treinadores, todas as equipes multidisciplinares que passaram na minha trajetória de 18 anos”, finalizou.
Durante o evento, os homenageados deixaram as mãos marcadas em moldes que serão futuramente exibidos no Centro de Treinamento do COB. Além disso, a vida e carreira dos homenageados estarão disponíveis na página digital do Hall da Fama, no site do COB, com biografias, vídeos, fotos, registros históricos e um espaço interativo para mensagens dos fãs.
Criado em 2018, o Hall da Fama do COB tem como propósito exaltar e preservar a história olímpica do Brasil. Agora, a lista conta com 39 personalidades do esporte brasileiro que foram eternizadas. A lista de homenageados foi inaugurada por Torben Grael (vela), Sandra Pires e Jackie Silva (vôlei de praia) e Vanderlei Cordeiro de Lima (atletismo).